ENTREVISTA: Escritora Joana Bértholo volta a Alemanha para mostrar literatura "global"

A escritora portuguesa Joana Bértholo, que viveu quatro anos em Berlim, volta à Alemanha para mostrar literatura que vai além de uma cidade, mas que é passada "no mundo", e que pensa "de uma forma global".
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Bértholo vai estar na Feira do Livro de Leipzig, que começa hoje, onde vai apresentar excertos que foram traduzidos para alemão, de duas das suas obras, "Museu do Pensamento" e "Ecologia", o último romance.

"Como tenho muitas memórias biográficas, as pessoas, o idioma, as ligações, os lugares, é um sítio que faz parte da minha identidade. Mas, na Alemanha, fiz muitas outras coisas, e voltar nesta condição tão privilegiada, com uma seleção de autores da nova literatura portuguesa, é incrível. Por outro lado, é uma responsabilidade e eu quero estar à altura. Sem dúvida que estou nervosa", conta a escritora e dramaturga portuguesa, em declarações à agência Lusa.

Joana Bértholo terá dez a 20 páginas do livro "Museu do Pensamento", que integrará a secção de literatura infanto-juvenil da Feira do Livro de Leipzig, traduzido para alemão, e dez a 15 páginas da obra à venda desde o ano passado, "Ecologia".

"Tenho estado a trabalhar a leitura do 'Ecologia', até houve a ideia de ser eu a ler a minha própria tradução. Está um bocadinho em causa porque o alemão parece estar numa gaveta que ficou algures na vida passada e não sei se vai ser possível, o que me entristece. Porque poder ir, entender e ler a minha própria tradução dá-me um brio e um orgulho muito grande. Ao mesmo tempo sinto que já não tenho a facilidade que já tive, e fico um pouco triste", confessa.

A escritora e dramaturga visita pela primeira vez a Feira do Livro de Leipzig, integrando a seleção de escritores convidados pelo Camões Berlim, na que é a quarta participação consecutiva de Portugal neste certame.

"Fiquei muito feliz. É um privilégio estar com estes autores, ou seja, fazer parte desta seleção, mas também porque percebi que implicava a tradução de excertos de dois livros e isso é tão difícil, mas abre tanto a possibilidade do trabalho comunicar com outras pessoas que é mesmo uma grande oportunidade. Estou muito contente", frisa.

Joana Bértholo não tem, até ao momento, nenhum livro traduzido para alemão.

"Era um sonho, sem dúvida nenhuma, não só pelo lado biográfico óbvio de ser um sítio onde tenho amigos que não me podem ler em português, mas também por ter seguido, da maneira que podia, o ambiente literário alemão, e saber que há leitores muito exigentes, mas também muito disponíveis. É um mercado editorial vivo, mas também exigente e isso encanta-me", partilha.

A escritora e dramaturga lamenta que Portugal não só tenha um mercado pequeno, como seja um país onde se lê "muito pouco".

"Nota-se pelas tiragens e pela pouca reimpressão de uma só tiragem que não há muita gente a ler. Não tenho números que me permitam comparar a Alemanha com Portugal, mas tenho a intuição, do tempo em que vivi em Berlim, que se lê mais e melhor. Acho que é um trabalho de fundo, de educação, de coisas que não privilegiamos, é uma força cultural que o nosso país ainda tem muito trabalho a fazer e que na Alemanha vem de longe", realça.

Joana Bértholo viveu quatro anos em Berlim, mas em nenhum dos seus livros "há uma rua com nome alemão". Uma característica do que escreve, admite, "livros que não se situam em nenhum local específico."

"Eu não escrevo sobre os lugares. Cheguei a escrever um conto sobre Berlim para uma antologia de contos e, claro, há um certo movimento de fluxo de uma grande cidade, em que as pessoas estão sempre a chegar e a partir, e trazem muita riqueza de outros lugares, e depois vão embora. Essa efemeridade, com que eu caracterizo Berlim, é muito o ambiente urbano dos meus livros", explica.

A escritora e dramaturga vai participar em três momentos, na Feira do Livro de Leipzig e vai estar também, acompanhada da autora Raquel Nobre Guerra, em Berlim, para uma leitura no próximo dia 26 de março.

A Feira do Livro de Leipzig, a segunda maior da Alemanha e uma das mais importantes da Europa, começa hoje, quinta-feira, e termina no próximo domingo, dia 24 de março.

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