Enfermeiros aliciados por utentes para carimbar registo sem dar a vacina
São já vários os casos de utentes que aliciaram enfermeiros com dinheiro para ter o carimbo da vacinação sem receber a vacina contra a covid-19. A bastonária da Ordem dos Enfermeiros não recebeu até, ao momento, nenhuma denúncia destas situações, mas apela a que os enfermeiros reportem estes casos à ordem para que sejam reencaminhados para o Ministério Público, pois constituem um crime.
Ao que o DN apurou, foram já vários os casos deste género que ocorreram num centro de vacinação da área da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARS-LVT). Um deles passou-se na manhã de quinta-feira da passada semana, dia 19 de dezembro, quando um homem de 72 anos tentou aliciar com 200 euros um enfermeiro para que este carimbasse o documento de vacinação sem administrar a vacina contra a covid-19. O enfermeiro recusou-se a atender ao pedido e o utente acabou por abandonar o local sem ser vacinado, tendo sido registada na ficha do utente a tentativa de aliciamento.
Contactada pelo DN, a bastonária da Ordem dos Médicos mostrou-se surpreendida com a existência destas situações. "Ainda não mandaram nada aqui para a ordem. Desde o início da vacinação não recebemos nada desse género", declarou Ana Rita Cavaco. "O que os enfermeiros devem fazer é enviar a informação para nós, identificando a pessoa, porque eles têm acesso à identificação e podem partilhá-la com a sua ordem profissional. E, a partir daí, nós faremos queixa ao Ministério Público. É o que nós entendemos que deve ser feito", aconselha a bastonária dos enfermeiros, notando que esta situação de aliciamento é crime.
Na opinião de Ana Rita Cavaco, "cada vez se veem mais comportamentos que não se viam no início da pandemia. Acho que as pessoas estão a ficar desesperadas com coisas que até nem fazem sentido".
Fonte da task force da vacinação, agora liderada pelo coronel Penha Gonçalves, disse ao DN não ter conhecimento de situações destas e que seria indagada a existência de denúncias.
O DN contactou o Ministério da Saúde e a Direção-Geral da Saúde para obter um comentário sobre este assunto, mas não recebeu qualquer resposta em tempo útil.
A Direção-Geral da Saúde recomendou ontem o alargamento da administração de uma dose de reforço da vacina contra a covid-19 a pessoas com 18 ou mais anos, considerando "prioritária e urgente" a vacinação de dois grupos. "A DGS, após análise do parecer da Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 (CTVC) sobre o alargamento da estratégia de reforço vacinal contra a covid-19, recomenda a administração de uma dose de reforço de uma vacina de ARNm a pessoas com idade igual ou superior a 18 anos", disse a entidade liderada por Graça Freitas.
Segundo a DGS, essa recomendação inclui a definição de vacinação "urgente e prioritária" das pessoas com 40 ou mais anos, por faixas etárias decrescentes, e das pessoas entre os 18 e os 39 anos com, pelo menos, uma das comorbilidades" que constam da norma sobre esta matéria. A seguir, na ordem de prioridades recomendada pela DGS, segue-se a vacinação das restantes pessoas entre os 18 e os 39 anos com a dose de reforço da imunização contra a covid-19.
O pneumologista Filipe Froes alertou ontem para o facto de as pessoas não vacinadas contra a covid-19 apresentarem uma taxa de mortalidade quatro vezes superior aos vacinados. "Se compararmos os dados nacionais que são públicos no relatório das "linhas vermelhas", vemos que os não vacinados, maioritariamente mais jovens, mais saudáveis e com menos fatores de risco, mesmo assim têm uma taxa de mortalidade quatro vezes superior à taxa de mortalidade por infeção covid nos vacinados", disse o coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos para a covid-19.
Segundo o especialista, os últimos dados públicos indicam que, em outubro, ocorreram 132 mortes de pessoas com a vacinação completa contra a covid-19 e 33 óbitos de pessoas não vacinadas ou com vacinação incompleta.
Dados da DGS mostram que quase 73 mil pessoas receberam o reforço da vacina na quarta-feira, elevando para mais de 2,5 milhões as já vacinadas com esta dose. Segundo o relatório diário da DGS, a dose de reforço já foi administrada a 574 973 idosos com 80 ou mais anos, o que representa 87% do total desta faixa etária em Portugal continental.
No escalão entre 70 e 79 anos, 85% das pessoas (814 949) também já tomaram o reforço, enquanto entre os 60 e 69 anos esse valor baixa para os 51% (644 600) e entre os 50 em os 59 anos é de 17% (237 978 vacinados).
A DGS indica ainda que 8 668 235 pessoas já completaram a vacinação primária, das quais 5697 na quarta-feira, e que 2 358 882 receberam a vacina contra a gripe.
com Lusa