Enfarte de Casillas: "Temos homem. Se temos ou não jogador é secundário"

Médicos ouvidos pelo DN explicam que só a partir de amanhã se poderá avaliar a gravidade daquilo que aconteceu.
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Casillas sofreu, esta quarta-feira, um enfarte agudo do miocárdio e foi hospitalizado. E embora o FC Porto tenha revelado, em comunicado, que o jogador não corria risco de vida - "Casillas está bem, estável e com o problema cardíaco resolvido"-, logo se aventou se poderia ou não voltar a jogar. Esta época é quase garantido que não, até porque faltam apenas quatro jogos, mas na próxima logo se vê. Tudo depende da gravidade do enfarte segundo os médicos ouvidos pelo DN.

"Conheço bem o rigor do protocolo clínico do FC Porto e sei que vão até às última consequências para saber a origem do problema e por isso ele não voltará a por um pé num relvado sem que seja seguro. No entanto é sabido que o exercício físico traz benefícios. O importante é que temos homem, se temos jogador de futebol é secundário", afirmou ao DN, o antigo médico do FC Porto, Domingos Gomes.

O controlo cardíaco difere de país para país e até de clube para clube. Não existe uma normativa da UEFA que obrigue, por exemplo, a que todos os filiados sigam um modelo de prevenção cardíaca, como no caso do doping ou dos traumatismos cerebrais, mas "Portugal talvez seja o país onde o controlo é mais bem feito ou pelo menos onde se tem mais cuidado com o coração".

O médico lembra que existe um decreto-lei que obriga a ter um atestado médico desportivo para se competir, mas nada mais do que isso. Depois são os clubes a definir o próprio sistema de controlo e vigilância cardíaco. Que exames deviam ser feitos? "Essa questão, tal como outras, não é unânime. Nos EUA, o exame médico-desportivo só exige a auscultação e há estudos que defendem a mais-valia única desse método. Depois há especialistas que dizem que é importante fazer um exame completo que contenha um eletrocardiograma, a prova de esforço e ecocardiograma. E outros que defendem que basta fazer uma TAC e uma ressonância... Eu defendo que deve haver consciência clínica responsável que esgote todos os meios ao seu alcance para evitar uma morte", respondeu.

Domingos Gomes não se cansa de dizer que o coração continua a ser um "mistério" para a medicina desportiva, no sentido que "a maior parte do problemas cardíacos não são detetáveis" e "estamos a falar de pessoas saudáveis e submetidas a uma bateria de exames exaustiva". Segundo o ex-médio do FC Porto e da UEFA, mesmo depois de fazer todos os exames "há uma percentagem mínima, de 6% a 10%, que pode passar sem ser detetada qualquer patologia". Por isso, seja através de exames mais simples ou mais complexos, "importa é arranjar maneira para esgotar todas as hipóteses de detetar potenciais casos e evitá-los".

A recuperação "do jogador é secundária"

"Em termos de recuperação como homem e de carreira do profissional depende muito da gravidade do enfarte e isso não se sabe. Os enfartes, por definição, são todos agudos, é uma artéria que obstroi e é preciso fazer um cateterismo para desobstruir", explicou ao DN Henrique Gabriel, o cardiologista de intervenção do Hospital de Santa Cruz e do Hospital da Luz, lembrando que a extensão do enfarte "só é avaliada de forma definitiva ao fim de 24 ou 48 horas porque uma das coisas mais importantes é o resultado das análises nas primeiras 48 horas". Ou seja, só hoje ou amanhã, Casillas saberá a gravidade do que sofreu e a sua extensão.

A recuperação "do jogador é secundária" e depende dos fatores desencadeantes do problema, se é tratável ou não. Os fatores de risco têm de ser "avaliados" para perceber as limitações do doente, segundo o cardiologista, alertando que "ele é muito novo [37 anos] e é muito raro haver enfartes antes dos 50 anos".

Casillas sentiu uma indisposição no final do treino realizado no Olival, tendo sido levado para o Hospital da CUF, no Porto. O tempo que durou a obstrução é vital para um diagnóstico futuro: "Não tenho informação concreta sobre o caso em si, mas tudo depende do tamanho do músculo afetado e do tempo que a circulação sanguínia foi afetada. O limite são 90 minutos."

O INEM não terá sido acionado e esse é o primeiro alerta. "O que está recomendado para doentes com enfarte agudo do miocárdio - dor no peito, desconforto no peito, na barriga, acompanhado de mal estar geral, sensação de desmaio e vómitos - é ligar o 112, mais do que o doente ligar para o Hospital. O 112 pode colocar uma ambulância mais rápido ao pé do doente, do que se ele se dirigir ao hospital, e a ambulância, além de estar equipada com material de socorro, sabe para que hospital o encaminhar. Esta é uma mensagem muito importante para se salvar vidas", alerta Henrique Gabriel.

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