Enda Kenny propõe grande coligação mas rival rejeita
Depois de ter falhado por duas vezes o apoio do Parlamento para governar em minoria, o primeiro-ministro irlandês em funções e líder do Fine Gael, Enda Kenny, decidiu propor uma grande coligação ao principal partido da oposição, o Fianna Fáil de Micheal Martin. A formação de centro-esquerda rejeitou, porém, a oferta.
"Taoiseach [primeiro-ministro] ofereceu formalmente a Martin uma parceira total de governo com os deputados independentes - uma mudança histórica e uma coisa boa para a Irlanda", disse através do Twitter Simon Coveney, o ministro da Agricultura irlandês e um dos negociadores do Fine Gael, na quarta-feira à noite, após uma reunião entre Kenny e Martin.
Menos de 24 horas depois de a proposta ter sido feita, já deputados do Fianna Fáil diziam que o partido rejeitava a oferta feita pelo líder do centro-direita. "Uma grande maioria rejeitou a proposta que foi apresentada pelo Taoiseach, temos estado concentrados com os independentes em encontrar uma alternativa de governo e esse permanece o nosso foco", disse à Reuters Robert Troy, após uma reunião dos deputados do Fianna Fáil.
"Neste momento os independentes vão ter de escolher. Se for o caso de o Fine Gael conseguir uma maioria com os independentes, então teremos de analisar a possibilidade de dialogar com o Fine Gael no sentido de apoiar um governo minoritário. Mas uma coligação está fora de questão", sublinhou o responsável.
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Billy Kelleher, outro deputado do Fianna Fáil, eleito por Cork, disse ontem à RTE que "o Fianna Fáil [também] pode [tentar] formar um governo de minoria. Há outras opções que podem ser exploradas, mas claro que gostaríamos de ter um papel a desempenhar". Também Willie O"Dea, deputado do Fianna Fáil por Limerick, declarou, citado pelo Irish Times, que não daria aval a uma grande coligação. "Eu não a apoiaria. As pessoas votaram para se livrarem do governo atual de Enda Kenny." Uma eventual grande coligação entre o Fine Gael e o Fianna Fáil representaria uma aliança sem precedentes entre os herdeiros dos dois lados que se opuseram durante a guerra civil na Irlanda em 1922 e 1923.
O país encontra-se mergulhado num impasse político desde as legislativas de 26 de fevereiro, as primeiras realizadas depois de o país sair do resgate financeiro da troika e nas quais nenhum partido ou combinação de partidos conseguiu maioria absoluta. Os resultados não permitiram reeditar a aliança entre Fine Gael e Labour.
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Em março o novo Parlamento irlandês chumbou a reeleição de Kenny para a chefia do governo. E voltou a fazê-lo nesta quarta-feira. No escrutínio de fevereiro, o Fine Gael conseguiu 25,5% dos votos e 50 deputados eleitos. O Fianna Fáil obteve, por sua vez, 24,3% e 44 deputados no Parlamento. O Sinn Féin, liderado por Gerry Adams, ascendeu a terceira força política, depois de se reinventar como partido antiausteridade na Irlanda. Teve 13,8% dos votos e 23 deputados. O Labour de Joan Burton foi bastante penalizado e ficou em quarto lugar com 6,6% e sete eleitos. A maioria absoluta situa-se nos 80.