Encontro de Merkel e Hollande com Putin termina sem acordo
Após cinco horas de reunião, o presidente francês e a chanceler alemã deixaram o Kremlin sem qualquer acordo. O porta-voz de Putin afirmou apenas terem sido "negociações construtivas" com vista à aplicação do acordo de Minsk, e voltarão a falar amanhã, agora por telefone. A reunião de Putin, Holla de e Merkel decorreu "num formato restrito, sem a presença das delegações nem dos peritos", disse ainda Peskov.
O plano em discussão basear-se-ia no acordo de cessar-fogo de setembro de 2014, em Minsk, subscrito pelo governo de Kiev, pelos separatistas pró-russos e por Moscovo, sob égide da Organização de Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Incluiria, contudo, um dado novo: a presença de um contingente de Capacetes Azuis da ONU no Leste da Ucrânia, o que Kiev tem recusado até hoje com o argumento de levar à internacionalização do conflito. Os separatistas fizeram esse mesmo pedido, em novembro de 2014, e foi recebido com "pouco entusiasmo" no Conselho de Segurança das Nações Unidas, como disse na época um diplomata ocidental citado pelas agências. Na ocasião, o embaixador russo junto da ONU, Vitali Tchourkine, afirmou "ser pouco provável que tal se produza". Na quinta-feira um porta-voz do Kremlin, Alexander Lukashevich, já admitia essa possibilidade.
A iniciativa franco-alemã teve o "apoio total" da Aliança Atlântica, afirmou o secretário-geral Jens Stoltenberg, para quem a situação no Leste da Ucrânia "é crítica". Falando na 51.ª Conferência de Segurança de Munique, Stoltenberg referiu que o objetivo da NATO "desde o fim da Guerra Fria" é colaborar com a Rússia, "não isolá-la".
A questão da Ucrânia é um dos temas centrais da conferência que se prolonga até amanhã, além da deterioração da situação no Médio Oriente e a questão dos refugiados resultantes dos diferentes conflitos. Hoje em Munique estão o vice-presidente Joe Biden e o secretário de Estado John Kerry, encontrando-se este com o seu homólogo russo, Serguei Lavrov. O responsável pela diplomacia de Moscovo reúne-se também com o presidente ucraniano Petro Porochenko.
Na quinta-feira, Hollande e Merkel tinham estado com Porochenko em Kiev, tendo este insistido na necessidade de se alcançar um cessar-fogo com base no acordo de Minsk. Em sentido oposto, Moscovo defende um cessar-fogo consagrando os recentes avanços feitos pelas forças separatistas pró-russas e estabelecendo, desde já, um estatuto de autonomia política para as regiões de Donetsk e Luhansk. Segundo fontes ocidentais, citadas pelas agências, os termos em que a proposta russa foi formulada equivaleria a transformar o Leste da Ucrânia numa região tutelada de facto por Moscovo, à semelhança do que sucede com a Ossétia do Sul e a Abcázia, na Geórgia, ou a Transnístria, na Moldávia.
O conflito já provocou cerca de cinco mil mortos e mais de um milhão de deslocados. Ainda ontem, os civis foram retirados da localidade de Debaltseve, onde forças ucranianas e pró-russos combatem pelo seu controlo. Os autocarros provenientes do lado ucraniano partiram cheios, os do lado dos separatistas praticamente vazios, referia a Reuters a partir do local.