Empresário de Figo nega interferência para apoiar Sócrates

Miguel Macedo, empresário de Luís Figo para os contratos de imagem do futebolista, negou hoje ter exercido qualquer "interferência" junto do jogador para que este apoiasse o então líder do PS, José Sócrates, em vésperas das eleições legislativas de 2009.
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Ouvido, por videoconferência, como testemunha no julgamento do Taguspark, relacionado com as supostas contrapartidas que o polo tecnológico de Oeiras deu a Luís Figo para este apoiar a campanha de Sócrates, o empresário disse não interferir nessas matérias, porque são "questões da índole pessoal" do atleta.

Frisou, contudo, que não gosta de ver os seus clientes, incluindo Figo, apoiarem políticos, afirmando: "Qualquer dos meus clientes, não os quero envolvidos em campanha política".

Apesar de a ideia o desagradar, Miguel Macedo admitiu ter sido contactado por alguém - não se recorda quem - do gabinete do então primeiro-ministro, para discutir o assunto.

Macedo acrescentou então que, após o acordo de Figo, "passou o contacto" telefónico do futebolista do Inter de Milão, tendo o encontro entre este e Sócrates ocorrido na mesma altura em que o atleta participou num filme promocional do Taguspark.

O empresário garantiu que só conheceu José Sócrates no dia do pequeno-almoço do antigo líder do Partido Socialista com Figo, e que o interesse do Taguspark no ex-futebolista lhe foi comunicado pessoalmente por João Carlos Silva, administrador daquele polo tecnológico, à data dos factos.

Miguel Macedo admitiu também ter sido ele a tratar da "entrevista de fundo", de oito páginas, que Figo aceitou dar ao Diário Económico, em que expressou publicamente o apoio a José Sócrates.

Confrontado pelo advogado de João Carlos Silva, a testemunha disse não se lembrar de que a primeira proposta de contrato de Figo com o Taguspark, para cedência de imagem do jogador, previa cinco anos de contrato a troco de 1.250.000 euros, justificando que apenas se lembrava do valor final - 750 mil euros, por um contrato de três anos, com o pagamento de uma primeira tranche de 350 mil euros.

O empresário Miguel Macedo admitiu ainda ter acompanhado o arguido Rui Pedro Soares, ex-administrador da PT e ex-administrador não executivo do polo tecnológico, na viagem aérea até Milão, onde se realizou uma reunião com o futebolista, para tratar de assuntos promocionais, designadamente sobre campanhas para a PT África.

Miguel Macedo disse ao tribunal que "não falava de política" com Rui Pedro Soares, alegando não saber sequer das suas ligações ao PS.

O julgamento do caso Taguspark senta, no banco dos réus, os ex-gestores Rui Pedro Soares, João Carlos Silva e Américo Tomatti, todos acusados do crime de corrupção passiva para ato ilícito, relacionado com as contrapartidas concedidas pelo Taguspark a Figo, alegadamente em troca do apoio político a José Sócrates, que venceu as legislativas de 2009, como líder do PS.

No final da sessão de hoje, Rui Pedro Soares disse que o testemunho de Figo foi "esclarecedor", e mostrou-se confiante na absolvição.

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