Empresário de Figo nega interferência para apoiar Sócrates
Ouvido, por videoconferência, como testemunha no julgamento do Taguspark, relacionado com as supostas contrapartidas que o polo tecnológico de Oeiras deu a Luís Figo para este apoiar a campanha de Sócrates, o empresário disse não interferir nessas matérias, porque são "questões da índole pessoal" do atleta.
Frisou, contudo, que não gosta de ver os seus clientes, incluindo Figo, apoiarem políticos, afirmando: "Qualquer dos meus clientes, não os quero envolvidos em campanha política".
Apesar de a ideia o desagradar, Miguel Macedo admitiu ter sido contactado por alguém - não se recorda quem - do gabinete do então primeiro-ministro, para discutir o assunto.
Macedo acrescentou então que, após o acordo de Figo, "passou o contacto" telefónico do futebolista do Inter de Milão, tendo o encontro entre este e Sócrates ocorrido na mesma altura em que o atleta participou num filme promocional do Taguspark.
O empresário garantiu que só conheceu José Sócrates no dia do pequeno-almoço do antigo líder do Partido Socialista com Figo, e que o interesse do Taguspark no ex-futebolista lhe foi comunicado pessoalmente por João Carlos Silva, administrador daquele polo tecnológico, à data dos factos.
Miguel Macedo admitiu também ter sido ele a tratar da "entrevista de fundo", de oito páginas, que Figo aceitou dar ao Diário Económico, em que expressou publicamente o apoio a José Sócrates.
Confrontado pelo advogado de João Carlos Silva, a testemunha disse não se lembrar de que a primeira proposta de contrato de Figo com o Taguspark, para cedência de imagem do jogador, previa cinco anos de contrato a troco de 1.250.000 euros, justificando que apenas se lembrava do valor final - 750 mil euros, por um contrato de três anos, com o pagamento de uma primeira tranche de 350 mil euros.
O empresário Miguel Macedo admitiu ainda ter acompanhado o arguido Rui Pedro Soares, ex-administrador da PT e ex-administrador não executivo do polo tecnológico, na viagem aérea até Milão, onde se realizou uma reunião com o futebolista, para tratar de assuntos promocionais, designadamente sobre campanhas para a PT África.
Miguel Macedo disse ao tribunal que "não falava de política" com Rui Pedro Soares, alegando não saber sequer das suas ligações ao PS.
O julgamento do caso Taguspark senta, no banco dos réus, os ex-gestores Rui Pedro Soares, João Carlos Silva e Américo Tomatti, todos acusados do crime de corrupção passiva para ato ilícito, relacionado com as contrapartidas concedidas pelo Taguspark a Figo, alegadamente em troca do apoio político a José Sócrates, que venceu as legislativas de 2009, como líder do PS.
No final da sessão de hoje, Rui Pedro Soares disse que o testemunho de Figo foi "esclarecedor", e mostrou-se confiante na absolvição.