Emissões de CO2 aumentam em 2018. Novo recorde à vista

Um relatório do grupo Projeto Carbono Global mostra que em 2017 houve um aumento de 1,6% e estimam que em 2018 este será de 2,7%. "Isto precisa de mudar rapidamente", avisam cientistas
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As emissões globais de CO2 estão a atingir os níveis mais altos de que há registo, segundo projetaram os cientistas num relatório divulgado nesta quarta-feira e apresentado na cimeira do clima das Nações Unidas COP 24 em Katowice, Polónia.

Esta é a última de várias provas da distância que existe entre os objetivos internacionais para o combate às alterações climáticas e aquilo que os países estão de facto a pôr em prática.

Entre 2014 e 2016 as emissões mantiveram-se sem alterações. Agora as esperanças de uma descida das emissões terminaram. Em 2017 as emissões aumentaram 1,6%. Para 2018 o número projetado pelos cientistas é de 2,7%.

Todavia, os autores do relatório assinado pelo Projeto Carbono Global dizem que esta tendência ainda pode ser alterada até 2020, se forem tomadas medidas no que diz respeito aos transportes, indústria e emissões resultantes das práticas agrícolas.

Estima-se que o aumento projetado, que levaria os combustíveis fósseis e as emissões industriais a um recorde de 37,1 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, está a ser causado por vários países, de onde se destaca um aumento de cerca de 5% das emissões na China, mais de 6% na Índia, e 2,5 % nos Estados Unidos.

As maiores emissões de 2018 vêm da China, seguida pelos Estados Unidos.

"Sob pressão do atual declínio económico", que justifica o aumento do uso do carvão novamente, "alguns governos locais podem ter perdido supervisão da poluição do ar e das emissões de carbono", afirmou Yang Fuqiang, conselheiro de Energia para o norte-americano Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, citado pelo Washington Post . Contudo, em termos gerais, segundo Yang, a China está no caminho certo, apesar de se estimar que 60% do consumo total de energia vem do carvão. Número que o governo tem vindo a diminui e espera conseguir fazer chegar aos 10% em 2050.

Os motivos divergem do aumento da emissão de CO2, divergem, ainda assim. Na Índia, por exemplo, uma das razões é que centenas de milhões de pessoas passaram a ter energia nas suas casas.

No caso dos Estados Unidos, as causas foram atribuídas ao verão muito quente, que intensificou o uso de ar condicionado, e de um inverno severo no nordeste do país, além da descida dos preços da gasolina e do crescente tamanho dos carros usados.

Depois de uma década de descidas significativas, as emissões de CO2 na União Europeia não tiveram qualquer alteração.

"O aumento global das emissões de carbono é preocupante, porque para resolver a questão das alterações climáticas elas têm de alterar o seu rumo e eventualmente ir até 0%", afirmou Corinne Le Quéré, da norte-americana University of East Anglia, que liderou esta investigação publicada na Nature. "Não estamos a ver ação da forma que precisamos. Isto precisa de mudar rapidamente", acrescentou citada pelo Guardian .

Enquanto a maior parte dos países continua a tentar responder ao Acordo de Paris, assinado em 2015, a administração Trump tem reiterado a sua intenção de o abandonar até 2020. Também o Brasil, que tem procurado combater a desflorestação, fica agora numa posição periclitante com a recente eleição de Jair Bolsonaro, que pode reverter o caminho até aqui percorrido.

A nível global, as emissões continuam a aumentar apesar de as fontes de energias renováveis também registarem um aumento. Todavia, segundo os cientistas, estas últimas continuam a representar escassas fontes de energia.

"A energia solar e eólica não está nem perto de substituir os combustíveis fósseis", disse Glen Peters, outro dos autores do relatório e diretor do Centro para a Investigação Climática de Oslo, citado pelo Washington Post.

Na abertura da cimeira do clima COP 24, que oficialmente começou no domingo, António Guterres pediu a governos e investidores que "apostem na economia verde, não no cinzento da economia carbonizada".

O secretário-geral das Nações Unidas apelou aos países para fazerem mais contra as alterações climáticas em vez de ficarem a ver os seus "impactos devastadores" a acontecer, considerando que é "o assunto mais importante" no mundo.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, nove em cada 10 pessoas no mundo respiram ar contaminado, o que provoca sete milhões de mortes anuais por causas diretamente relacionadas com a poluição.

Além disso, a organização estima que, nos 15 países que emitem maior quantidade de gases com efeito de estufa, os impactos na saúde da contaminação do ar custem mais de 4% do cada PIB, sendo que as ações para alcançar os objetivos do Acordo de Paris custariam cerca de 1% do PIB mundial.

Para a OMS, reiteraram representantes na cimeira, o cumprimento do objetivo do Acordo de Paris de reduzir as emissões de gases tóxicos pode salvar um milhão de vidas por ano.

Com Lusa

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