As pessoas afetadas pela tragédia humana ainda nem podem fazer o luto. A queda do avião Piper Malibu, com a matrícula PA-46-310P, e que o piloto David Ibbotson conduzia de Nantes para Cardiff na segunda-feira, transportando o reforço mais caro da história do Cardiff City (19,7 milhões de euros), o argentino Emiliano Sala, no Nantes desde 2015, não está oficialmente encerrada..As buscas foram dadas como terminadas pelas autoridades britânicas na quinta-feira, mas uma angariação de fundos desencadeada na internet (que meste domingo já ia em 325 mil euros, com grandes figuras do futebol a desembolsarem quantias significativas) estendeu a procura pela aeronave, pelo jogador argentino de 28 anos e pelo piloto. A ideia generalizada dos especialistas é posta da forma menos cruel possível: as probabilidades de encontrar alguém com vida são remotas. Ou seja, só um milagre pode fazer reaparecer Emiliano Sala são e salvo..A comunidade futebolística está abalada na Argentina, na Inglaterra (o Cardiff compete na Premier League) e em França, mas também um pouco por todo o mundo. E, por muito delicada que seja a questão, é incontornável olhar para a resolução das questões contratuais e jurídicas. A transferência foi registada na FA (federação inglesa) a 19 de janeiro, dia em que terá igualmente sido introduzida no sistema da FIFA (TMS: transfer matching system). Ou seja, é um facto consumado..O Cardiff City comprometeu-se a pagar 19,7 milhões de euros pela transferência, em três tranches. A primeira devia ter sido liquidada na segunda-feira, primeiro dia útil após o registo do novo contrato. Mas não foi. O Cardiff, para já, diz que vai pagar o que tiver de pagar ao Nantes, até porque o documento firmado pelos dois clubes previa cláusulas de negligência. Mas primeiro está a armar-se para atacar a companhia proprietária do Piper Malibu, que foi descrito por várias testemunhas como estando em condições pouco recomendáveis (foi construído em 1984)..O homem de negócios Willie McKay já veio desmentir ser proprietário do avião e que se limitou a reservar, em nome do empresário do jogador, Meissa N'Diaye, o aeroplano para que Sala se juntasse ao plantel dos galeses, onde pontifica o seu filho Jack. A transferência foi intermediada por outro filho de Willie, Mark. "Passámos pelo inferno", disse ao The Telegraph. "A internet... As pessoas a falarem de mim e dos meus filhos e de tudo. Nós só tentámos ajudar um jovem. Foi tudo o que fizemos, OK?".Nas contas do The Telegraph , o Cardiff enfrenta um prejuízo de cerca de 16,2 milhões de euros, entre valor da transferência e salários projetados menos compensações de seguros que amortecem os efeitos financeiros da tragédia. E não estão incluídos, obviamente, os perto de 3,5 milhões de euros de bónus que o Nantes receberia se o clube galês permanecesse na Premier League..Nantes arrisca dupla perda.No entanto, de acordo com um perito em direito desportivo contactado pelo DN, a questão pode resolver-se de outra forma. "Acho que os dois clubes vão acabar por chegar a um acordo, envolvendo outro jogador, ou algo do género", diz o perito, que pede anonimato devido ao elevado perfil público que o impele a ser eticamente escrupuloso para com a empresa que representa de momento.."Apesar da tragédia humana, é de facto uma questão muito interessante do ponto de vista do direito desportivo e civil. Por um lado, a transferência está consumada e a FIFA é pouco tolerante quanto a dissoluções de contratos cuja justa causa não seja óbvia. Já neste ano, um jogador de que não me lembro o nome, foi obrigado a cumprir o contrato com o clube apesar de ter invocado atos de terrorismo no país como fator de instabilidade e impossibilidade de desempenhar a sua função em condições mínimas de segurança", prossegue o jurista..Ou seja, "a transferência está consumada, logo o Nantes teria de receber os valores acordados nos prazos acordados". Mas, "por outro lado, o Cardiff pode sempre alegar que vai reclamar os seus créditos, porque é objetivamente impossível cumprir o contrato acordado, porque não existe o objeto do contrato"..No limite, o Cardiff até poderá alegar que o jogador está em incumprimento laboral, ao não comparecer aos treinos. Cruel? Se houver litígio todos os argumentos serão válidos para ganhar a causa nas instâncias decisórias - seja a DRC (Dispute Register Chamber: Câmara de Disputas Contratuais da FIFA), tribunais suíços (por defeito) ou de outro país, se o contrato o especificar..O Nantes, nesta eventual disputa, jogará sempre o argumento atómico. "Há uma transferência consumada, o que se passou depois não é comigo", explica o perito, que, no entanto, acredita que o alegado incumprimento contratual de Sala (devia ter-se apresentado ao serviço do Cardiff na terça-feira), ainda que devido a uma tragédia humana, poderá ter igualmente muita força em tribunal..Este cenário não está a ser explorado, pelo menos que se saiba publicamente. Mas o Cardiff já saltou a primeira de três tranches para pagar os 19,7 milhões de euros da transferência ao Nantes. O clube francês diz que nem quer pensar nisso porque está concentrado nas buscas do jogador (o presidente Waldemar Kita disse: "Agora não vamos reclamar nada, depois veremos")..Ou seja, é uma questão latente que todos procuram evitar discutir enquanto não for possível fazer o luto por Emiliano Sala, com uma confirmação oficial da sua morte. Ou, então, que este ressurja da tragédia livre de perigos..Bordéus ao barulho.Emiliano Raúl Sala Taffarel, nascido a 31 de outubro de 1990 em Santa Fé (Argentina), está em França desde 2010, ano em que chegou ao Bordéus. Conseguiu abrir caminho até à equipa principal, mas foi emprestado a três clubes (Orléans, Niort e Caen). Em 2015, o Nantes pagou um milhão de euros e os girondinos, clube formador do avançado, aparentemente, têm direito a metade do valor da transferência..Segundo informações a circular em França, através do diário de Nantes Presse Océan e amplificadas noutros locais, o Bordéus teria reclamado a parte que lhe caberia da primeira tranche (6,940 milhões de euros), que não foi paga pelo clube galês..No entanto, ao final do dia de domingo, o clube emitiu um comunicado em que "desmente categoricamente" a informação do citado jornal e no qual volta ao tema de uma primeira nota, a 22 janeiro, de apoio incondicional à família de Sala..O acordo entre Cardiff City e Nantes previa o pagamento de três tranches até 2021, com a primeira a ser liquidada na semana passada..Buscas financiadas por donativos.Uma série de personalidades decidiram apoiar a angariação de fundos lançada na internet para prosseguir as buscas, depois de estas terem sido encerradas na quinta-feira pelas autoridades..Ao final da tarde de domingo, o novo objetivo (300 mil euros) estabelecido já tinha sido ultrapassado. Em cerca de dois dias, o montante coletado estava perto dos 322 500 euros..Segundo o La Nación, a entrada em cena na onda de solidariedade de Kylian Mbappé (Paris Saint-Germain) fez subir muito a parada. O jovem internacional francês contribuiu com 30 010 euros..Para contribuir, pode seguir este link.
As pessoas afetadas pela tragédia humana ainda nem podem fazer o luto. A queda do avião Piper Malibu, com a matrícula PA-46-310P, e que o piloto David Ibbotson conduzia de Nantes para Cardiff na segunda-feira, transportando o reforço mais caro da história do Cardiff City (19,7 milhões de euros), o argentino Emiliano Sala, no Nantes desde 2015, não está oficialmente encerrada..As buscas foram dadas como terminadas pelas autoridades britânicas na quinta-feira, mas uma angariação de fundos desencadeada na internet (que meste domingo já ia em 325 mil euros, com grandes figuras do futebol a desembolsarem quantias significativas) estendeu a procura pela aeronave, pelo jogador argentino de 28 anos e pelo piloto. A ideia generalizada dos especialistas é posta da forma menos cruel possível: as probabilidades de encontrar alguém com vida são remotas. Ou seja, só um milagre pode fazer reaparecer Emiliano Sala são e salvo..A comunidade futebolística está abalada na Argentina, na Inglaterra (o Cardiff compete na Premier League) e em França, mas também um pouco por todo o mundo. E, por muito delicada que seja a questão, é incontornável olhar para a resolução das questões contratuais e jurídicas. A transferência foi registada na FA (federação inglesa) a 19 de janeiro, dia em que terá igualmente sido introduzida no sistema da FIFA (TMS: transfer matching system). Ou seja, é um facto consumado..O Cardiff City comprometeu-se a pagar 19,7 milhões de euros pela transferência, em três tranches. A primeira devia ter sido liquidada na segunda-feira, primeiro dia útil após o registo do novo contrato. Mas não foi. O Cardiff, para já, diz que vai pagar o que tiver de pagar ao Nantes, até porque o documento firmado pelos dois clubes previa cláusulas de negligência. Mas primeiro está a armar-se para atacar a companhia proprietária do Piper Malibu, que foi descrito por várias testemunhas como estando em condições pouco recomendáveis (foi construído em 1984)..O homem de negócios Willie McKay já veio desmentir ser proprietário do avião e que se limitou a reservar, em nome do empresário do jogador, Meissa N'Diaye, o aeroplano para que Sala se juntasse ao plantel dos galeses, onde pontifica o seu filho Jack. A transferência foi intermediada por outro filho de Willie, Mark. "Passámos pelo inferno", disse ao The Telegraph. "A internet... As pessoas a falarem de mim e dos meus filhos e de tudo. Nós só tentámos ajudar um jovem. Foi tudo o que fizemos, OK?".Nas contas do The Telegraph , o Cardiff enfrenta um prejuízo de cerca de 16,2 milhões de euros, entre valor da transferência e salários projetados menos compensações de seguros que amortecem os efeitos financeiros da tragédia. E não estão incluídos, obviamente, os perto de 3,5 milhões de euros de bónus que o Nantes receberia se o clube galês permanecesse na Premier League..Nantes arrisca dupla perda.No entanto, de acordo com um perito em direito desportivo contactado pelo DN, a questão pode resolver-se de outra forma. "Acho que os dois clubes vão acabar por chegar a um acordo, envolvendo outro jogador, ou algo do género", diz o perito, que pede anonimato devido ao elevado perfil público que o impele a ser eticamente escrupuloso para com a empresa que representa de momento.."Apesar da tragédia humana, é de facto uma questão muito interessante do ponto de vista do direito desportivo e civil. Por um lado, a transferência está consumada e a FIFA é pouco tolerante quanto a dissoluções de contratos cuja justa causa não seja óbvia. Já neste ano, um jogador de que não me lembro o nome, foi obrigado a cumprir o contrato com o clube apesar de ter invocado atos de terrorismo no país como fator de instabilidade e impossibilidade de desempenhar a sua função em condições mínimas de segurança", prossegue o jurista..Ou seja, "a transferência está consumada, logo o Nantes teria de receber os valores acordados nos prazos acordados". Mas, "por outro lado, o Cardiff pode sempre alegar que vai reclamar os seus créditos, porque é objetivamente impossível cumprir o contrato acordado, porque não existe o objeto do contrato"..No limite, o Cardiff até poderá alegar que o jogador está em incumprimento laboral, ao não comparecer aos treinos. Cruel? Se houver litígio todos os argumentos serão válidos para ganhar a causa nas instâncias decisórias - seja a DRC (Dispute Register Chamber: Câmara de Disputas Contratuais da FIFA), tribunais suíços (por defeito) ou de outro país, se o contrato o especificar..O Nantes, nesta eventual disputa, jogará sempre o argumento atómico. "Há uma transferência consumada, o que se passou depois não é comigo", explica o perito, que, no entanto, acredita que o alegado incumprimento contratual de Sala (devia ter-se apresentado ao serviço do Cardiff na terça-feira), ainda que devido a uma tragédia humana, poderá ter igualmente muita força em tribunal..Este cenário não está a ser explorado, pelo menos que se saiba publicamente. Mas o Cardiff já saltou a primeira de três tranches para pagar os 19,7 milhões de euros da transferência ao Nantes. O clube francês diz que nem quer pensar nisso porque está concentrado nas buscas do jogador (o presidente Waldemar Kita disse: "Agora não vamos reclamar nada, depois veremos")..Ou seja, é uma questão latente que todos procuram evitar discutir enquanto não for possível fazer o luto por Emiliano Sala, com uma confirmação oficial da sua morte. Ou, então, que este ressurja da tragédia livre de perigos..Bordéus ao barulho.Emiliano Raúl Sala Taffarel, nascido a 31 de outubro de 1990 em Santa Fé (Argentina), está em França desde 2010, ano em que chegou ao Bordéus. Conseguiu abrir caminho até à equipa principal, mas foi emprestado a três clubes (Orléans, Niort e Caen). Em 2015, o Nantes pagou um milhão de euros e os girondinos, clube formador do avançado, aparentemente, têm direito a metade do valor da transferência..Segundo informações a circular em França, através do diário de Nantes Presse Océan e amplificadas noutros locais, o Bordéus teria reclamado a parte que lhe caberia da primeira tranche (6,940 milhões de euros), que não foi paga pelo clube galês..No entanto, ao final do dia de domingo, o clube emitiu um comunicado em que "desmente categoricamente" a informação do citado jornal e no qual volta ao tema de uma primeira nota, a 22 janeiro, de apoio incondicional à família de Sala..O acordo entre Cardiff City e Nantes previa o pagamento de três tranches até 2021, com a primeira a ser liquidada na semana passada..Buscas financiadas por donativos.Uma série de personalidades decidiram apoiar a angariação de fundos lançada na internet para prosseguir as buscas, depois de estas terem sido encerradas na quinta-feira pelas autoridades..Ao final da tarde de domingo, o novo objetivo (300 mil euros) estabelecido já tinha sido ultrapassado. Em cerca de dois dias, o montante coletado estava perto dos 322 500 euros..Segundo o La Nación, a entrada em cena na onda de solidariedade de Kylian Mbappé (Paris Saint-Germain) fez subir muito a parada. O jovem internacional francês contribuiu com 30 010 euros..Para contribuir, pode seguir este link.