Embaixada Britânica vende quarteirão por 3,5 milhões de euros

Venda de quarteirão em Campo de Ourique está a concretizar-se e deixa grupo teatral criado em 1947 sem espaço. Assembleia municipal recomenda à câmara que use o direito de preferência para adquirir o edifício Estrela Hall
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A Embaixada Britânica prepara-se para consumar a venda de um quarteirão em Campo de Ourique, conhecido como o "quarteirão inglês", por 3,5 milhões de euros. Os lotes em causa englobam edifícios e terrenos onde se incluem o Estrela Hall, espaço que serve a companhia teatral inglesa The Lisbon Players, a sede da Ordem dos Economistas, o edifício do antigo Hospital Britânico, o Cemitério Israelita e o Cemitério Inglês, este o único espaço que não será alienado. Os britânicos, que já celebraram um contrato-promessa com um privado, querem despejar os inquilinos.

O aviso foi enviado pela Embaixada Britânica por e-mail aos The Lisbon Players, uma companhia teatral de língua inglesa presente em Lisboa desde 1947, no dia 17: na sequência de um contrato-promessa assinado entre o Estado britânico - que em 2008 registara como seu o terreno cedido à comunidade britânica pelo Estado português no século XVIII -, a alienação do quarteirão está para breve, tendo-se comprometido o atual proprietário a despejar, antes da celebração do contrato de compra e venda, todos os seus ocupantes, incluindo a companhia teatral que, desde 2013, é considerada pelo município uma instituição de "elevado interesse cultural".

Perante o facto, há uma última tentativa para evitar que a The Lisbon Players perca a casa que ocupa há quase 70 anos - o Estrela Hall, inserido no chamado "quarteirão inglês", cuja alienação a um privado por parte do Estado britânico está "iminente". Ontem, a assembleia municipal (AML) recomendou por unanimidade à Câmara Municipal (CML) que "não permita a alteração de uso daquele espaço, classificado "como equipamento" no Plano Diretor Municipal (PDM), e que "pondere" exercer, "nos termos da lei, o direito de preferência na aquisição" daquele quarteirão, que inclui ainda a sede da Ordem dos Economistas, o edifício do antigo Hospital Britânico, o Cemitério Israelita e o Cemitério Inglês. "Começamos a ver uma luz ao fundo do túnel", desabafa Alexandra Bochmann, dos The Lisbon Players.

De acordo com a minuta, invocada na recomendação subscrita pela presidente da AML, Helena Roseta, e pelo presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, Pedro Cegonho, a alienação será feita por 3,5 milhões, não sendo claro qual será o destino a dar aos edifícios. O DN contactou por escrito, na segunda-feira, a Embaixada Britânica, mas não obteve, até à hora de fecho desta edição, qualquer resposta. Certo é que é intenção que o atual uso do imóvel seja alterado - algo que o Estado Britânico se obrigou a solicitar ao município antes de o negócio ser concretizado. É esta mudança que o parlamento da cidade recomendou ontem ao executivo liderado por Fernando Medina que não aceite quando em causa estiver o Estrela Hall, atualmente classificado no PDM como equipamento.

Igualmente sugerida pela AML é a ponderação por parte da CML da possibilidade de esta vir a exercer um direito de preferência na compra do quarteirão, alicerçado, precisou Pedro Cegonho, no "interesse público relevante" da associação, que não tem qualquer apoio financeiro, e do edifício que ocupa há quase sete décadas. Em causa, argumentou o presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique na sessão de ontem, está o facto de se tratar da "companhia teatral mais antiga de Lisboa", com atuações exclusivamente em inglês, o "respeito" pela história e pelo espírito da doação feita por D. Maria I e a eventualidade do edifício do antigo Hospital Britânico vir a receber unidades de saúde da zona.

O assunto será ainda, diz a deliberação dos deputados municipais, acompanhado pela Comissão de Cultura da AML, que irá ouvir os The Lisbon «, a CML e a Junta de Freguesia de Campo de Ourique.

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