Ao receber os autarcas de cerca de 240 municípios afetados pelos tumultos que eclodiram na sequência da morte do adolescente Nahel baleado pela polícia, o presidente francês anunciou que vai ser apresentada uma lei de emergência "para eliminar todos os atrasos" e "reconstruir muito mais depressa" nas autarquias objeto da destruição e da pilhagem..Na reunião que decorreu no Palácio do Eliseu - descrita por um participante como "uma vasta terapia de grupo" à France Info -, Emmanuel Macron afirmou estar "muito cauteloso" quanto ao regresso à calma após várias noites de tumultos, mas considerou que "o pico" já tinha passado. Segundo dados oficiais, à sétima noite de protestos foram efetuadas 72 detenções.."Se estão aqui é porque foram vítimas, nalguns casos de uma forma muito direta e pessoal, as vossas famílias e entes queridos, de uma maneira intolerável e indescritível. Para muitos de vós, também, os vossos trabalhadores municipais foram atacados e as vossas comunidades tiveram de suportar danos nas câmaras municipais, nas esquadras de polícia e nas escolas", disse Macron, que estendeu a solidariedade aos eleitos como antes havia feito às forças de segurança e aos bombeiros..O chefe de Estado francês prometeu ainda um apoio financeiro às autarquias para a reparação dos arruamentos, dos edifícios das edilidades e das escolas, mas também dos equipamentos de videovigilância. "Vamos ser extremamente firmes e claros com as seguradoras, município a município", assegurou..O ministro da Economia deu igualmente indicações de que os comerciantes afetados não iriam ser abandonados à sua sorte. "Quando uma empresa é destruída pelo fogo, quando o trabalho de uma vida é reduzido a cinzas, o Estado tem de estar do nosso lado e tem de haver a possibilidade de anular as contribuições para a Segurança Social ou o imposto, caso a caso, para os retalhistas mais afetados", afirmou Bruno Le Maire..No mais recente balanço, foram detidas 3486 pessoas, das quais 374 presentes a juiz. Desde a noite de 27 para 28 de junho foram incendiados 5809 veículos, queimados ou danificados 1105 edifícios e atacadas 209 instalações policiais..Além disso, o governo contabilizou ataques em dez centros comerciais, 200 supermercados, 60 lojas de desporto, 440 tabacarias e 370 dependências bancárias. Há ainda 80 postos dos correios fechados devido aos estragos ou sem segurança para reabrir..A federação patronal Medef estima os danos em mil milhões de euros, além dos danos reputacionais para a imagem do país que podem afetar o turismo, mas também a possibilidade de investidores estrangeiros "abandonarem projetos"..A iniciativa do político de extrema-direita Jean Messiah de abrir uma campanha de recolha de fundos para a família do polícia suspeito do homicídio de Nahel continua a dar que falar. O deputado socialista Arthur Delaporte apresentou uma queixa ao Ministério Público com o objetivo de obter a suspensão da campanha que já recolheu 1,4 milhões de euros..O deputado considera que o fundo deve "ser considerado ilegal" por incitar ao ódio, pelo risco de perturbação da ordem pública e pelo "risco real" de financiamento de despesas na sequência de uma eventual condenação"..cesar.avo@dn.pt