Em Portugal, terapêuticas de primeira linha do cancro do ovário não são comparticipados – é o único país europeu nesta situação

Estes medicamentos previnem reincidências da doença, aumentam as chances de sucesso do tratamento e melhoram a qualidade de vida. Contudo, são inacessíveis à maioria das carteiras.
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O cancro requer um tratamento rápido e eficaz. O do ovário não é diferente. Este é o sétimo tipo de cancro mais comum entre as mulheres e a quinta causa de morte oncológica. A doença surge sobretudo na pré e na pós-menopausa, na maioria das vezes em mulheres acima dos 40 anos.

Os tratamentos estão disponíveis, mas não estão a chegar de igual modo a todas as mulheres. A comparticipação das terapêuticas de primeira linha está a chegar apenas a uma pequena franja de doentes: as que sofrem da mutação genética. A razão prende-se com o preço elevadíssimo destes medicamentos, que, por isso, não são acessíveis a qualquer bolsa.

Quem não consegue tomar este tipo de medicamentos, que prolongam a qualidade de vida, tem de esperar que a doença reincida. Nesse caso, seguem-se mais operações e mais quimioterapia e, mesmo em segunda linha, a medicação pode ou não ser comparticipada.

Enquanto o Serviço Nacional de Saúde não os comparticipar, não vamos conseguir ter nem igualdade, nem equidade no tratamento de todas as mulheres com cancro do ovário. Sendo eu própria uma sobrevivente oncológica que se dedica a comunicar com outras mulheres, sei que as terapêuticas de primeira linha evitam as reincidências da doença e melhoram a progressão da cura. Somos o único país da Europa onde estes medicamentos não estão a ser comparticipados em primeira linha. Por essas razões, defendo que sejam urgentemente colocadas ao acesso de todas.

De forma a alertar para esta situação, o Movimento Cancro do Ovário e outros Cancros Ginecológicos (MOG) já sensibilizou o novo Ministério da Saúde. Nesse encontro com o Sr. Ministro da Saúde, Dr. Manuel Pizarro, falei-lhe deste grave problema para as doentes oncológicas. O ministro mostrou-se totalmente disponível para estudar o assunto e vermos qual a melhor forma de chegarmos a um entendimento para o Infarmed comparticipar esta medicação.

Enquanto esperamos, existem outras reivindicações. Oito em cada 10 casos de cancro do ovário são descobertos em fase já avançada. A próxima luta é criar centros de referência que ajudem as mulheres a diagnosticar esta patologia.

Quando uma mulher se desloca a uma unidade de saúde primária, muitas vezes os sintomas são descurados porque são muito ténues. Barriga inchada, mais vontade de urinar, mais obstipação são sintomas que a maior parte das pessoas sente. Nesse sentido, os centros de referência ajudam as pacientes a ver para além do que é aparentemente normal.

A autora do artigo não recebe qualquer honorário para colaborar nesta iniciativa.

Esta iniciativa é apoiada pela GSK, sendo os artigos integrados no projeto Ciência e Inovação da responsabilidade dos/as seus/suas autores/as

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