Em guerra contra o Estado Social
A situação das Urgências hospitalares mostra o caos da governação de António Costa. Incapaz de cuidar dos serviços públicos, o Governo apenas se assume forte nas guerras contra os seus profissionais.
Diz o Governo que nunca, como hoje, se gastou tanto no Serviço Nacional de Saúde (SNS), foram feitas tantas consultas ou realizados atos médicos. Afirmações que ficam logo descredibilizadas pela realidade que as pessoas conhecem. Não vou nem entrar na guerra estatística (há telefonemas que são contabilizados como consultas ou atos médicos que se desdobram em várias entradas apenas para efeitos estatísticos), mas basta fazer as perguntas certas para perceber que os problemas nascem à mesa do Conselho de Ministros.
Há mais dinheiro para o SNS? Não! Há cada vez mais dinheiro que passa pelo SNS, mas apenas para depois ser entregue aos privados. Nunca, como hoje, os privados receberam tanto dinheiro do SNS, fruto das escolhas do PS que não cuidou de internalizar serviços, modernizar equipamentos ou preparar o SNS para os novos desafios.
Há mais pessoas com médico de família? Não! A falta de profissionais é visível logo neste indicador. António Costa prometeu que acabaria com as listas de utentes sem médicos de família mas, 5 anos depois, em vez de ter diminuído, a lista ainda cresceu. Um outro exemplo é o da falta de obstetras, com o consequente encerramento de maternidades. Faltam profissionais e a guerra que o Governo está a fazer aos médicos só está a servir para que mais queiram sair do serviço público.
A rejeição dos médicos em cumprir mais de 150 horas extraordinárias (o limite legal que existe) expôs uma situação completamente absurda: o funcionamento normal dos hospitais, em particular nas Urgências, está dependente do incumprimento da lei. O SNS vive de serviços pendurados em centenas de horas extraordinárias feitas por profissionais esgotados e desvalorizados. Como explica o Governo esta realidade? Como deixou a situação chegar a este limite?
Se ouvirmos o Ministro das Finanças, começa a ladainha do Governo: "Gostava eu que fossem os problemas resolvidos por uma questão simplesmente financeira." António Costa repete a ideia: "Não é possível só meter mais dinheiro em cima dos problemas", e continua "temos de ter maior eficiência na gestão dos recursos". Dito de outra forma, segundo eles, não falta dinheiro. Mas não é isso que se vê: Os coordenadores das unidades de saúde familiares disseram há dias que a "falta de material básico nunca foi tão grande" (dizem faltar, entre outros, termómetros, soros, compressas, seringas, vacinas e medicamentos em geral) e para os salários também se vê o mesmo problema.
O Governo que diz não ter falta de dinheiro é o mesmo que faz a guerra contra os profissionais para não lhes pagar mais salário. Primeiro vieram pelos professores, na esperança de ganhar a disputa apondo as pessoas a esta classe profissional. Depois foram contra os oficiais de justiça, colocando em tribunal até o seu direito à greve. Agora estão contra os médicos, repetindo a retórica de serem os profissionais que estão a colocar em causa aos serviços públicos.
Quem ataca os profissionais que seguram o Estado Social, está a destruir o Estado Social e os direitos que por ele nos deviam ser assegurados. É por isso que a luta destes profissionais é uma luta pelos direitos de todos nós, contra um Governo que escolheu entregar ao mercado aquilo que devia ser de todos.
Presidente da bancada parlamentar do BE