Em defesa do jornalismo de investigação

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O político e historiador inglês John Emerich Edward Dalberg-Acton escreveu, em 5 de abril de 1887, uma frase que ganhou dimensão universal e que é válida para todas as formas de corrupção, sempre associadas à ideia de impunidade, ou seja, à noção de se ser detentor de um poder suscetível de obstar à aplicação do merecido castigo pela prática de ato antissocial e eticamente reprovável (o desprezo ou, no mínimo, a indiferença face aos valores éticos cujo cumprimento é indispensável a um adequado funcionamento da vida individual no seio de uma qualquer comunidade): "O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente."

É por isso vital que sejam criados freios e contrapesos relativamente a qualquer forma de poder ou de domínio social, os quais apenas existem nas comunidades sociais que se organizam segundo o modelo do Estado social de direito e têm, em primeira linha, de assumir uma natureza institucional - daí o princípio da separação de poderes, com um poder judicial plenamente igual e independente em termos político jurídicos aos restantes poderes de soberania, e a existência de entidades reguladoras independentes e de um sistema policial dotado de autonomia, este último agindo sob a direção de uma entidade administrativa também ela dotada de autonomia: o Ministério Público.

Acontece que essas instituições são estruturas organizativas demasiado burocratizadas e rotineiras (por pudor, prefiro não referir aqui as suas imensas falhas/deficiências de funcionamento), o que significa que uma sociedade civil informada e ativa/atuante/vigilante é o maior e melhor de todos os freios e contrapesos. Ora, o jornalismo de investigação constitui um sistema de vigilância social contra essas falhas e um valiosíssimo meio de controle da comunidade sobre todas as estruturas de poder, que, repito, acompanhando lord Acton, tendem a corromper e que corrompem absolutamente quando esse poder, seja qual for a sua natureza, é absoluto.

Jornalismo de investigação? Sim, eu quero. E com muito gosto.


Juiz desembargador jubilado

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