São praticamente 12 anos de ligação ao mesmo clube. Tarantini, 36 anos, jogador do Rio Ave cujo verdadeiro nome é Ricardo José Vaz Alves Monteiro, está desde o verão de 2008 na equipa de Vila do Conde e é o jogador que representa há mais tempo o mesmo emblema a nível profissional em Portugal. Ainda longe do recorde mundial atual, que pertence a Igor Akinfeev, há mais de 17 anos no CSKA de Moscovo, esta fidelidade não deixa de ser um marco e um caso raro..Na verdade, esta ligação de uma dúzia de anos ao Rio Ave teve uma interrupção. Mas, como o próprio contou ao DN, foi curta e por isso nem sequer conta para a estatística. "Em 2012, terminei contrato com o Rio Ave e resolvi aceitar um convite do Irão. Financeiramente, as condições eram boas, mas não gostei do projeto desportivo e uma semana depois regressei a Portugal. Numa conversa anterior com o presidente do Rio Ave, em que lhe expliquei os motivos para ir para o estrangeiro, ele disse-me que eu teria sempre as portas abertas do clube quando regressasse. Uma semana depois, estava a bater-lhe à porta e renovámos o contrato", recorda Tarantini ao DN..No final da temporada 2013-14, a saída de Tarantini de Vila do Conde foi novamente tema no balneário do Rio Ave. Mas, desta vez, por brincadeira e com um clube de grande dimensão do campeonato espanhol metido ao barulho. "No final dessa época, o Nuno Espírito Santo deu uma entrevista à Sport TV. Já se sabia que ele estava de saída e o jornalista perguntou-lhe se ele pensava levar-me para o seu novo projeto, porque naquela época fui um dos jogadores mais utilizados. Ele respondeu qualquer coisa do estilo de que isso dependia dos recursos. Pouco tempo depois, o Nuno assinou pelo Valência e contratou o Enzo Pérez ao Benfica por 20 milhões de euros. Isso foi tema de brincadeira no balneário. Diziam-me que só não tinha ido porque custava 21 milhões", soltou entre risos..Mais a sério, Tarantini garante que todos estes anos no Rio Ave "não foram planeados, foi algo que foi construído". E avança uma explicação curiosa para se ter mantido sempre no clube de Vila do Conde: "Provavelmente foi uma questão de timing. Parece estranho, mas as minhas melhores épocas coincidiram sempre com temporadas em que tinha contrato com o clube. Por exemplo, em 2013-14, com o Nuno Espírito Santo, quando o Rio Ave chegou às finais da Taça de Portugal e da Taça da Liga. Acredito que se nessa altura estivesse em final de contrato poderia ter ido para um clube de maior dimensão.".Depois, lembra, foi ganhando idade. "E acabei sempre por ficar. Também não saí porque a relação com as pessoas do Rio foi sempre boa. E, verdade seja dita, também não apareceu nenhum projeto pelo qual eu achasse que valesse a pena trocar. Aqui no Rio Ave fui sempre muito valorizado", aponta, puxando a cassete atrás e recordando o convite que acabou por recusar do Irão: "Pensei na altura que para sair para o estrangeiro teria de ser um melhor jogador para merecer um melhor projeto desportivo.".Final da carreira ainda não está no pensamento.Estar há 12 anos no mesmo clube não é para todos. Por isso, Tarantini não tem problemas em admitir que se sente uma referência do Rio Ave, "nem que seja pela longevidade no clube e pelo facto de ser o jogador com mais jogos a nível de I Divisão". "Mas sei perfeitamente que há jogadores mais acarinhados do que eu, afinal o Rio Ave tem uma grande e longa história", considera..Quando lhe perguntamos se tem memória do primeiro jogo com as cores do Rio Ave, a resposta saiu de imediato: "Recordo-me perfeitamente, foi um Rio Ave-Benfica que terminou empatado a um golo [24 de agosto de 2008]. Fui titular e substituído creio que aos 80 minutos.".Mais difícil foi eleger o melhor e o pior momento desportivo dos últimos anos. "As melhores memórias são muitas, mas destaco talvez o jogo e a vitória com o Sporting de Braga, que nos permitiu chegar à final da Taça de Portugal [vitória por 2-0, em abril de 2014]. Pela negativa, a eliminação diante do Desportivo das Aves nos quartos-de-final da Taça, há dois anos, quando estávamos a ganhar 3-1 aos 88 minutos.".Tarantini tem contrato com o Rio Ave até junho de 2021 - nessa altura, terá 37 anos. Mas o médio defensivo não pensa para já no final da carreira. "Enquanto me sentir bem e útil dentro e fora do campo, não faz qualquer sentido parar. É um compromisso que tenho com o presidente. Neste ano, até à paragem do campeonato, estava a ser uma época positiva, estava a jogar. Colocar um ponto final na carreira é uma decisão muito difícil de tomar por parte de um jogador. Mas vai ter de chegar o dia..." Para já, são já 402 jogos pelo Rio Ave e com 38 golos marcados em todas as competições oficiais..E, quando esse dia chegar, Tarantini, que é mestre em Ciências do Desporto com 18 valores, e que tem duas licenciaturas - uma em Ciências do Desporto e outra em Educação Física e Desporto Escolar -, e que está no último ano do Doutoramento, pode explorar ainda mais o seu projeto - A Minha Causa -, criado em 2016, que pretende sensibilizar e ajudar jogadores de futebol, e desportistas em geral, a gerir as expectativas e o final das suas carreiras, seja através de palestras, investigação, documentários ou livros. "Acredito que o meu percurso possa servir de inspiração para outros transformarem os seus sonhos em intenções. Uma coisa sei: vou continuar a trabalhar quando deixar de jogar.", diz..Ricardo José Vaz Alves Monteiro, que nasceu em Baião, vila portuguesa no distrito do Porto, ficou para sempre com a alcunha de Tarantini - só os pais continuam a chamar-lhe Ricardo e até a mulher adotou a alcunha. O sobrenome foi culpa de Virgílio Martins, que o treinou nos juniores e nos seniores do Sp. Covilhã, e na altura o achou com parecenças físicas com Alberto Tarantini, o defesa esquerdo argentino, campeão do mundo em 1978..De Akinfeev a Messi.Na liderança do top dos jogadores a nível mundial ainda no ativo que estão há mais tempo no mesmo clube como profissionais encontra-se Igor Akinfeev, guarda-redes russo do CSKA de Moscovo. Akinfeev, aliás, nunca vestiu outra camisola. E, no seu caso particular, a ligação vem dos... 4 anos de idade, quando entrou para as escolinhas do CSKA. Tem mais de 600 jogos realizados pelo emblema da capital russa, pelo qual conquistou seis campeonatos, seis Taças da Rússia e a Taça UEFA de 2005, na final em Alvalade disputada contra o Sporting..Akinfeev estreou-se como profissional no CSKA com 16 anos, num jogo frente ao FC Krylia Sovetov, no qual defendeu uma penálti. E com 17 começou a ser a primeira escolha na baliza, situação que se mantém até aos dias de hoje. Durante muitos anos foi também o titular das redes da seleção russa, entre 2004 e 2018, com mais de cem internacionalizações, com presenças em quatro Europeus e dois Mundiais. A estreia pela seleção aconteceu em abril de 2004, num jogo frente à Noruega, com apenas 18 anos. No dia 1 de outubro de 2018, anunciou que ia deixar de representar a seleção do seu país para se dedicar apenas ao CSKA..Tal como Akinfeev, também Loïc Perrin, o segundo da lista dos mais fiéis, conheceu apenas um único clube na carreira como profissional, no caso o Saint-Étienne. Uma ligação que vai a caminho dos 17 anos. Perrin estreou-se pelo clube em 2003, ainda quando o histórico emblema francês estava na II liga. No terceiro lugar dos jogadores no ativo com mais tempo no mesmo clube está Lionel Messi, também há 16 anos..O internacional argentino estreou-se na primeira equipa do Barcelona com apenas 16 anos e no Estádio do Dragão, num jogo particular com o FC Porto em novembro de 2003. O primeiro jogo oficial foi quase um ano depois, num clássico diante do Espanyol, em outubro de 2004. A história que se seguiu é sobejamente conhecida. A ligação de Messi ao Barcelona é contudo muito anterior à sua estreia na primeira equipa, pois está no emblema da Catalunha desde os 14 anos.