Em novembro do ano passado, Alberto Carlos Almeida finalizou o livro O Voto do Brasileiro, que se seguiu aos seus dois anteriores best- sellers A Cabeça do Eleitor e A Cabeça do Brasileiro, com uma previsão para as eleições de 7 de outubro de 2018: apostava, mais uma vez, num duelo PSDB contra PT, ou seja, Geraldo Alckmin contra Fernando Haddad, na segunda volta. . Para sustentar isso, apresentava um estudo detalhado de todas as especificidades eleitorais do Brasil e a conclusão de que existem dois polos decisivos, a região Nordeste, pró-PT, e o estado de São Paulo, pró-PSDB, mais ou menos com o mesmo número de eleitores (56 milhões na primeira e 46 milhões no segundo). . Mantém a aposta, mas agora admite que, se Alckmin não reconquistar com urgência os votos paulistas, hoje nas mãos de Jair Bolsonaro (PSL), pode haver surpresa. . O episódio de Juiz de Fora - atentado contra Jair Bolsonaro - tem potencial para mudar o cenário que previu no livro O Voto do Brasileiro, no ano passado? . Tem possibilidades de mudar o cenário. Em relação ao PT, estou bem certo de que o seu candidato [Fernando Haddad] irá para a segunda volta. A outra vaga será disputada entre Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin. Porém, a cada dia que passa, se Alckmin não retirar votos de Bolsonaro e levar para a sua candidatura, e o episódio de Juiz de Fora atrasa isso, a situação vai ficando mais difícil. . A estagnação de Alckmin deve-se a quê? É um mau candidato? Foi um mau governador de São Paulo? Partiu com atraso em relação a Bolsonaro no seu estado? . Está forte em São Paulo porque Alckmin saiu do governo do estado com 36% de cidadãos a considerá-lo "ótimo ou bom", segundo as sondagens. Não é uma má avaliação mas também não é boa. Assim, os 20% de paulistas que são anti-PT, como reprovam o que Alckmin fez, votam Bolsonaro. . Uma das grandes questões da eleição é qual a capacidade de transferência de votos de Lula da Silva diretamente para Fernando Haddad: será tão simples assim, basta Lula dar um sinal? . Não creio que exista transferência, no sentido de o eleitor esperar o que Lula vai dizer e então seguir. Existe sim uma narrativa que vai conectar Haddad com Lula. . Como será essa narrativa e que paralelismos há com a transferência de votos de Lula para Dilma Rousseff, candidata à sucessão dele nas presidenciais de 2010? . Em 2010, essa narrativa foi a seguinte: "Você que está gostando do meu governo, se quiser que continue assim vote na candidata do PT." Agora a narrativa tende a ser a da oposição. Isto é, "Haddad é oposição ao governo liderado por Michel Temer, assim como Lula, se você quer que a sua vida volte a ser boa como foi no governo Lula, vote no candidato do PT". Isso funciona. . Apesar das dezenas de partidos no Congresso Nacional e de todas as especificidades da política no Brasil, pode dizer-se que, tal como nos EUA e como em muitas nações europeias, no país existe também uma espécie de bipartidarismo, entre PT e PSDB? . Sim, há bipartidarismo no Brasil. O que essa eleição pode vir a revelar é que o nosso biparidarismo é PT versus anti-PT. Desde 1994 esse anti-PT era o PSDB, pode ser que agora ele venha a ser uma pessoa, o Bolsonaro. É isso que iremos saber em menos de um mês. . Nas sondagens, Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) ou até Henrique Meirelles (PMDB) surgem com votações razoáveis. Mas qual é o papel deles no quadro político, à luz desse bipartidarismo? São redundantes? . Ciro, Marina, Meirelles e outros candidatos com votação pequena ou que tendem a ficar para trás durante o processo eleitoral não seriam candidatos se houvesse apenas uns seis partidos no Brasil, o PT, o PSDB e mais uns quatro partidos cuja função seria a de fornecer apoio político para assegurar a governabilidade. Isso poderá ocorrer no futuro em função da reforma política já aprovada, que prevê uma cláusula de barreira mais difícil a cada eleição. Um país com seis partidos dificilmente teria mais do que dois candidatos à presidência realmente importantes. . Em São Paulo