No estado onde vivem 17,9 milhões de pessoas, quase um em cada cinco habitantes da Alemanha, e em que o PIB é superior ao de muitos países (é praticamente o mesmo dos vizinhos Países Baixos), as eleições regionais ganham uma importância nacional. Daí que sejam muitas vezes apelidadas de "mini eleições federais". Mas esta ida às urnas na Renânia do Norte-Vestefália torna-se ainda mais importante para o chanceler Olaf Scholz. Há apenas cinco meses no cargo, o social-democrata envolveu-se pessoalmente na campanha e se uma vitória pode dar um impulso ao seu governo de coligação tripartida, uma derrota poderá deixá-lo fragilizado..Governada pelos conservadores da CDU em coligação com os liberais do FDP desde 2017, a Renânia do Norte-Vestefália foi durante quase 40 anos (entre 1966 e 2005) liderada pelos sociais-democratas do SPD (sozinhos ou em coligações). Seguiu-se um governo encabeçado pela CDU, que só durou um mandato, antes do SPD voltar a assumir o poder em 2010. Mas há cinco anos, a então líder do governo regional Hannelore Kraft falhou a reeleição, frente ao conservador Armin Laschet. Este viria a ser o candidato às eleições federais de setembro do ano passado, que foram ganhas por Scholz, entregando depois da derrota o Executivo do estado a Hendrik Wüst..Apesar de ser deputado regional desde 2005 e de ter sido titular da pasta dos Transportes até ascender à liderança, Wüst, de 46 anos, é quase um desconhecido dos eleitores. Tal como o adversário social-democrata, Thomas Kutschaty, de 53 anos, que entrou para o parlamento regional também em 2005, tornando-se líder parlamentar em 2018. Mas só há pouco mais de um ano é que o antigo responsável pela pasta da Justiça assumiu a liderança do SPD no estado.."As eleições na Renânia do Norte-Vestefália são notáveis no sentido em que ambos os candidatos não são personalidades conhecidas e não têm uma grande popularidade", disse ao Politico o professor de Ciência Política da Universidade Kassel, Wolfgang Schroeder. "Isto significa, obviamente, que o SPD e a CDU estão a tentar ganhar pontos com os seus pesos pesados nacionais. Isto também significa que o ambiente político geral a nível nacional está a ter maior impacto na campanha eleitoral do que normalmente teria", acrescentou..O chanceler surge nos cartazes ao lado de Kutschaty e participou no seu último comício, na sexta-feira à noite, em Colónia. Cerca de 1500 pessoas assistiram ao evento, com alguns manifestantes a criticar a política de Scholz em relação à Ucrânia - tema que o chanceler referiu na sua intervenção, tendo falado horas antes ao telefone com o presidente russo, Vladimir Putin.."Os temas aqui são os mesmos que enfrenta todo o país. A guerra na Ucrânia e o fornecimento de energia estão no topo das preocupações de todos", disse à emissora Deutsche Welle o cientista político Klaus Schubert, da Universidade de Münster. Segundo uma sondagem de meados de abril do Reinische Post, o tema da segurança e energia acessível foi considerado o mais importante nestas eleições por 63% dos inquiridos, com 55% a assinalar também o aumento dos preços e da inflação..Os conservadores também não esqueceram a Ucrânia, com o líder da CDU, Friedrich Merz, que é natural deste estado, a visitar Kiev e a reunir -se com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky - ao contrário de Scholz que ainda não foi até à Ucrânia. O chanceler, cuja taxa de aprovação em abril era de apenas 38%, tem sido criticado pelo atraso no fornecimento de armas à Ucrânia - a coligação com os Verdes e os liberais do FDP acabou, contudo, com uma política histórica de não fornecer armamento a um país em guerra - assim como a forte dependência do país em relação às importações de energia da Rússia. Só dias antes da invasão da Ucrânia é que Scholz suspendeu a entrada em funcionamento do gasoduto Nordstream 2 - cuja construção era criticada pelos EUA e que tinha sido decidida pelo ex-chanceler do SPD Gerhard Schröder, que viria a trabalhar para a russa Gazprom..Na expectativa de ganhar capital político, o candidato da CDU na Renânia do Norte-Vestefália fez questão de ser visto em campanha ao lado de Daniel Günter, o líder do governo regional de Schleswig-Holstein, que há uma semana garantiu a reeleição e ficou à beira da maioria absoluta. A vitória da CDU contrastou com a derrota pesada social-democrata, que passou para terceiro partido no estado, num cenário que Merz quer ver repetido este domingo. "A CDU tem de voltar a ganhar mais de 30% dos votos a nível nacional. Não vou desistir de ser o maior partido na Alemanha. A eleição na Renânia do Norte-Vestefália é um passo importante nessa direção", disse num evento de campanha..As sondagens apontam para uma luta renhida entre CDU e SPD, com os primeiros a ter 33% e os segundos 28,5% na última pesquisa. Mas a diferença de 4,5 pontos percentuais é a maior neste mês, sendo que no anterior muitas davam a vitória aos sociais-democratas. Em terceiro, com 16,5% de intenções de voto, surgem os Verdes, que tinham sofrido um desaire em 2017 que os deixou na quinta posição. A extrema-direita da Alternativa para a Alemanha surge a perder quase metade dos votos, ficando apenas com 6,5%, ligeiramente acima do FDP (6%), que arrisca ficar de fora do parlamento regional de 199 lugares, tal como o Die Linke, que não vai além dos 3%..As eleições deste domingo na Renânia do Norte-Vestefália são as terceiras regionais este ano, na Alemanha. Mas não são as últimas..Sarre: A 27 de março, seis meses depois da vitória dos sociais-democratas de Olaf Scholz nas eleições federais alemãs, o pequeno Estado de Sarre deu também uma vitória histórica ao SPD. Os conservadores da CDU estavam no poder desde 1999 - a partir de 2012 numa grande coligação com o SPD - e não só perderam para eles, como os viram conquistar a maioria absoluta no parlamento regional. Tobias Hans, que substituíra no cargo Annegret Kramp-Karrenbauer (que saiu para assumir as rédeas da CDU após a saída de Angela Merkel), falhou a reeleição, em parte devido à sua resposta à covid. Os eleitores optaram por Anke Rehlinger, a até então número dois, que tinha também as pastas da Economia, Trabalho, Energia e Transportes..Schleswig-Holstein: Há uma semana, o partido de Scholz sofreu uma pesada derrota nas eleições no estado mais a norte da Alemanha. O SPD, que tinha como cabeça de lista Thomas Losse-Müller, perdeu 11 pontos percentuais em relação a 2017 e passou a ser o terceiro partido mais votado, atrás dos Verdes. O conservador Daniel Günther, que está há cinco anos à frente dos destinos da região e goza de uma taxa de aprovação de 76%, ficou a um deputado eleito da maioria absoluta. Até agora em coligação com os Verdes e os liberais do FDP, já disse querer repetir a fórmula "Jamaica", apesar de desta vez só precisar do apoio de um deles..Baixa Saxónia: O segundo maior estado em área e quarto em população será o último a ir a votos este ano, a 9 de outubro. O atual governo é uma grande coligação SPD-CDU, liderada pelo social-democrata Stephan Weil, que tem como número dois o conservador Bernd Althusmann (também responsável pela pasta da Economia, Trabalho, Transportes e Digitalização). A cinco meses das eleições, o SPD lidera as sondagens, oito pontos à frente dos conservadores, mas ainda é cedo para fazer previsões..susana.f.salvador@dn.pt