Eleições alemãs no mesmo dia das nossas autárquicas

Publicado a
Atualizado a

O pior que se pode ter é uma visão paroquial da vida e do Mundo. Felizmente, não a tenho. Marcadas para 26 de setembro, o mesmo dia em que se realizam as nossas autárquicas, as eleições alemãs são, sem dúvida, mais importantes do que o sufrágio português. O que se passa na Alemanha é mais decisivo para nós, do que a eventual mudança de câmaras do PS para o PSD ou vice-versa.

Não gostei da Alemanha de Angela Merkel. A de Kohl, apesar de ser também conservador, foi menos má. A última sondagem que se conhece dá um empate a 22 por cento, entre os democratas-cristãos e o SPD.

Pela primeira vez no passado recente, há a possibilidade de os conversadores ficarem afastados do poder, pois o SPD (sociais-democratas), mais os Verdes e os Liberais podem formar maioria. Como disse, em artigo neste mesmo jornal, a Europa sem Merkel seria melhor e muito melhor ainda sem o candidato a sucessor da atual chanceler, apanhado a rir-se, aquando das cheias na Alemanha, que causaram 180 mortos!

Ganhe quem ganhar, o futuro Governo alemão tem de pensar mais na Europa e menos no seu país, senão a Alemanha deixa de fazer jus ao epíteto de locomotiva da Europa. Mas não pode ter tentações hegemónicas, intrometendo-se na vida dos outros países soberanos do Velho Continente.

O ideal seria o regresso ao estilo Willy Brandt e Helmut Schmidt, grandes amigos do nosso país, auxiliando-nos desinteressadamente nos primórdios da democracia portuguesa. Não será fácil, pois os tempos são outros, mas a Alemanha não pode querer dominar nem pela força nem pelo dinheiro.

Às nossas autárquicas, comparadas com as eleições alemãs, aplica-se a história de David e Golias. Mas o poder local, já com grande tradição entre nós, é o que melhor responde aos anseios das populações, devido à proximidade. Não obviamente à do Presidente Marcelo. Sem selfies nem beijinhos, os nossos autarcas podem, contudo, fazer muito mais pelo povo português.

Tenho um certo receio de que a abstenção seja elevada, mas todas as previsões são falíveis e oxalá a minha não esteja certa. Há erros que os nossos políticos cometem, alguns deles mesmo graves, que afastam os eleitores dos eleitos.

Mas o mal não está, quanto a mim, no voto, na democracia representativa, para a qual não vejo alternativa. As injustiças e desigualdades que grassam no nosso país e por essa Europa fora só podem ser imputadas ao sistema económico.

É neste contexto, e noutros, claro, que as eleições alemãs assumem particular importância. Uma viragem à esquerda tornaria a Europa, e em particular Portugal, mais iguais, coesos e fraternos. Mas, para isso, votar, quer na Alemanha, quer em Portugal, é fundamental. As eleições são a festa das democracias.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt