Eléctrico 28, conhecer Lisboa num jogo de tabuleiro

Mais do que nunca, as pessoas querem estar juntas sem dispositivos eletrónicos, acredita o criador do mais recente jogo de tabuleiro português a chegar ao mercado. Inspirado no trajeto do clássico amarelinho que vai dos Prazeres até à Graça.
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Os últimos anos deram-lhe estatuto de símbolo da cidade e a sua imagem correu mundo das reportagens com rainhas a postais e, a partir de agora, o amarelinho que vai dos Prazeres à Graça é também um jogo de tabuleiro com a chancela Mebo Games.

Esta terça-feira, no Museu da Carris (onde mais?), o armazém dos elétricos encheu-se de mesas e jogadores de todas as idades para a apresentação da mais recente novidade da Mebo Games, a editora criada em 2010 por Gil D"Orey "para criar jogos familiares de grande qualidade".

Nas várias mesas já preparadas para sentar jogar, o tabuleiro do Elétrico 28 mostra o desenho das ruas, as paragens do elétrico e os respetivos passageiros. Não tem dado de rodar, mas tem cartas que tanto servem para fazer o percurso e chegar os 18 monumentos históricos como para apanhar os passageiros. O objetivo: reunir as 18 cartas correspondentes a estes 18 pontos de referência para lisboetas e turistas.

Uma partida faz-se numa hora, garante Gil D"Orey ao DN. Sabe, melhor que ninguém, que os jogos competem com muito entretenimento. No portefólio da Mebo Games estão vários títulos relacionados com Portugal (Estoril, Caretos, Caravelas...), temas que aproximam de portugueses potenciais jogadores (e compradores).

Neste caso, também o criador é português (e lisboeta). Pedro Santos Silva, designer gráfico e fã de jogos passou o apertado crivo de todos os jogos que chegam à prateleira e à mesa de jogo: a testagem. "Temos de fazer muitos testes com jogadores experimentados. Tem de se ver se o jogo aguenta todas as malandrices".

Faz dois anos que o designer se empenhou a desenhar a mecânica do jogo, o ponto de partida. Depois veio a temática, como conta ao DN. "E quando cheguei à temática [realizar um percurso], rapidamente cheguei à solução dos elétricos, um símbolo da cidade e de Portugal".

Na versão última, o objetivo dos jogadores é conduzir e apanhar passageiros por toda a cidade. Pelo caminho, várias ideias foram testadas. Conta, por exemplo, que no início o plano era ser o passageiro a apanhar elétricos, o que, juntamente com a editora, concluíram que não seria a melhor solução. Também chegaram a pensar ter um carteirista no tabuleiro. Outra solução que o designer gráfico abandonaria.

Pedro Santos Silva acredita, como Gil D"Orey, que, "mais do que nunca, a malta está farta dos periféricos eletrónicos e está a voltar aos jogos de família e amigos à volta da mesa". Ele, que fez um mestrado vocacionado para os videojogos acabou por se virar para os jogos de tabuleiro, que não exigem "grandes recursos ou requisitos técnicos."

Há quase 10 anos que mal liga a consola, continua a trabalhar protótipos de jogos (tem dois ou três protótipos, um muito avançado) e a ser, ele próprio, um jogador de jogos de tabuleiro.

Os seus preferidos são os que têm "zero sorte associada". Faz, com os amigos, longas horas de jogo às sextas-feiras e ao fim de semana e elogia o lado social que é possível manter desta forma, inalcançável nos jogos de computador em que está cada um em sua casa.

Foram estes amigos as primeiras cobaias do Elétrico 28, um jogo destinado ao público familiar, com sorte e estratégia associados. "Esses são os primeiros a serem cravados para os primeiros testes. Às vezes, ainda não está pronto, mas alinham sempre e tentam ajudar. O jogo também passa a ser um bocadinho deles, o input que dão é muito importante, mesmo que sejam com conclusões negativas, é importante para trabalhar em cima disso. E recorda que "uma das primeiras versões do Elétrico 28 tinha um carteirista, que não era nada simpático."

O objetivo, diz Pedro Santos Silva, é que o "Elétrico 28" (PVP 29,95 euros) seja "um desafio interessante mesmo para gamers mais experimentados". Mas o mais novo dos jogadores pode ser tão jovem quanto 8 anos.

Muitas vezes associados às crianças, os jogos de tabuleiro são, nota Pedro Santos Silva, um mercado em franca expansão, defendido por uma "comunidade acérrima". "São pessoas que investem imenso tempo nos jogos. Somos bombardeados com imensa oferta, há o culto do novo e o "fear of missing out". Mais: os entendidos procuram os lançamentos dos seus autores preferidos, aqueles que têm títulos que são do nosso agrado.

É outra mudança no mundo dos jogos de tabuleiro. Se hoje poucos sabem que na origem do Monopólio está a editora de jornais e abolicionista Lizzie Magie, hoje vive-se a era dos jogos de autor. "Estamos na golden age dos jogos de tabuleiros, é inacreditável a quantidade de jogos que saem. É necessário fazermos essa triagem, o que implica passar muitas horas a ver reviews [críticas]". Os jogadores são também colecionadores e, diz Pedro, tem amigos com 500 jogos de tabuleiro diferentes na sua ludoteca. "Eu tenho quase 200".

Não é só internacionalmente que o mundo dos jogos de tabuleiro cresce. Em Portugal, a Mebo Games vai no seu 20.º título, alguns deles já a serem vendidos internacionalmente. Gil D"Orey mostra, no telemóvel, a imagem do jogo Estoril na versão chinesa. "Só vendemos as regras, as ilustrações são deles". É caso único. O habitual é venderem o jogo e só se traduzirem as regras. É o que acontece com Elétrico 28, que já está à venda no Japão - "A única coisa que muda são as regras, que estão em japonês" - e se prepara para se apresentar a novos mercados. Próxima paragem: a feira de jogos Spiel"21, em Essen (Alemanha), 14 e 17 de outubro.

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