Escrevia, dedicou-se à política e à investigação, mas foi na área da medicina que fez história. Egas Moniz recebeu há 70 anos, a 27 de outubro de 1949, o Prémio Nobel da Medicina. A galardoação reconheceu o seu trabalho pela cirurgia "leucotomia pré-frontal", uma operação ao cérebro, destinada a tratar a esquizofrenia, a ansiedade e a agitação associadas a doenças obsessivo-compulsivas..A técnica consiste em cortes nas fibras nervosas que ligam o lobo frontal a outras zonas do cérebro através de orifícios feitos no crânio. Foi concretizada, pela primeira vez, em 1935. Não pelo próprio Egas Moniz, que apenas podia dar indicações, uma vez que desde pequeno sofria de gota, uma malformação dos membros que o impediu sempre de exercer a cirurgia pela qual recebeu o Nobel..A operação impulsionada pelo médico português viria a ser alvo de muitas criticas por causa dos efeitos secundários. A cirurgia provocava alterações no comportamento dos doentes, tornando-os mais apáticos. E por isso hoje está datada e é substituída por psicofármacos e novas terapias. Apesar de obsoleta, a "lobotomia", como foi apelidada mais tarde, é considerada um passo fundamental no progresso da saúde mental..Egas Moniz, o único português a receber esta distinção, recebeu o prémio em conjunto com o fisiologista suíço Walter Rudolf Hess. O galardão não foi completamente inesperado, uma vez que o nome do neurologista de Estarreja já tinha sido proposto por quatro vezes, em 1928, 1933, 1937 e 1944..Havia outros motivos para a premiação, nomeadamente pelo trabalho que o médico do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, desenvolveu na área da imagiologia cerebral. Em 1927, Egas Moniz realizou a primeira angiografia cerebral em seres humanos, uma injeção intravascular que serve para diagnosticar tumores no cérebro e lesões vasculares cerebrais. A técnica inovadora valeu-lhe o Prémio Oslo em 1945..António Caetano Egas Moniz nasceu em 1874. Estudou na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, desempenhou vários cargos em hospitais e em entidades ligadas à saúde, mas também se envolveu na política, tendo chegado a ser ministro dos Negócios Estrangeiros (1918) durante a presidência de Sidónio Pais. Escreveu ou colaborou em mais de 300 obras, a maioria no campo da medicina..Morreu em Lisboa, aos 81 anos.