Edgar Silva: "Somos despudorada e desavergonhadamente de esquerda"

As metáforas coloriram o discurso desta noite do candidato comunista. Até comparou Marcelo Rebelo de Sousa a um... "sabonete"
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Foi no Barreiro, concelho histórico da luta operária comunista, que Edgar Silva deixou cristalino o seu objetivo principal nos próximos dias de campanha: impedir que Marcelo Rebelo de Sousa ganhe à primeira volta, as eleições presidenciais. Foi criativo nos argumentos e provocou aplausos veementes e gargalhadas sonoras nos apoiantes que enchiam a sala da Sociedade Filarmónica do Lavradio. Primeiro, destacando o "fingimento" de Marcelo, comparando-o com a transparência da sua candidatura. "Somos despudorada e desavergonhadamente de esquerda. Não temos nada a esconder. É a candidatura do povo, dos trabalhadores, o que nos honra muito", salientou. "Ah, ganda presidente!" , ouviu-se gritar da audiência.

O candidato comunista afirma, ironicamente, "compreender" porque não quer Marcelo "assumir o que é e o que sempre foi e faz um esforço desesperado em esconder as suas ligações e a fingir que nem conhece Cavaco Silva, Passos Coelho ou Paulo Portas". Na sua intervenção, momentos antes no jantar, tinha dito que o professor "aparece até como se fosse um esquerdista, vem de mansinho tentado mostrar que nem os conheceu". A razão para isso, salienta, "é porque não quer que o povo saiba que está ligado umbilicalmente a esses partidos que tanto sofrimento, tanto terrorismo social infligiram aos portugueses e a Portugal".

Edgar Silva alertou para o "poder de alguma comunicação social, algumas televisões, em querer apagar essa memória". Lembrando uma frase do primeiro diretor da SIC, Emídio Rangel, ("Uma estação que tem 50% de share vende tudo, até o Presidente da República! Vende aos bocados: um bocado de Presidente da República para aqui, outro bocado para acoli, outro bocado para acolá, vende tudo! Vende sabonetes!"), comparou mesmo Marcelo a um "sabonete, uma marca, um produto incolor e indolor que nos querem vender".

Num tom mais sério, o candidato a Belém elogiou os resultados "positivos já visíveis" do novo quadro político, "na recuperação de direitos que tinham sido roubados aos trabalhadores" e que, no seu entender são "sinais de esperança de um tempo novo", mas alertou para alguma "inquietação" no horizonte. Num esforço notório para não hostilizar o PS, não se coibiu, porém, de deixar a sua mensagem crítica. "É preciso grande atenção a processos que já vêm de antes do dia 4 de outubro, do anterior governo derrotado", sublinhou, dando como exemplo o Banif, mas também a anunciada privatização da CP-Carga. "O governo está "no caminho errado, a seguir a linha do anterior governo PSD/CDS", afirmou, acrescentando que "ainda é tempo de travar essa privatização, esse negócio ruinoso para o Estado".

"Para que este tempo novo seja realmente novo", assinalou, "é preciso que ninguém caia na ilusão de que os tempos que aí vêm serão tempos fáceis. Para os tempos novos serem realmente novos, não podemos dispensar a mobilização, a resistência, a exigência e a reivindicação". E voltou a fazer o apelo que foi erguendo ao longo do dia. "É agora, no dia 24, que tudo se vai decidir. Está nas nossas mãos demonstrar que a história não pode ser parada, que a direita não vai recuperar as parcelas de poder que perdeu no passado dia 4 de outubro. Deixar o voto só para a segunda volta é um erro clamoroso. É agora", asseverou.

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