Edgar Silva. "É preciso um Presidente que não tenha vergonha de usar cravos vermelhos"
"As palavras liberdade, abril e democracia estão escritas com letras de fogo na palma das nossas mãos",declarou Edgar Silva logo no início da sua intervenção, perante uma plateia de cerca de 500 pessoas, no comício em Alpiarça. O candidato comunista sublinhou que a "defesa dos valores de abril" são "a marca distintiva" da sua candidatura. "Quero que chegue a Belém um Presidente da República que não tenha vergonha se usar cravos vermelhos", afirmou, numa referência implícita a Cavaco Silva, sendo interrompido com aplausos.
Edgar Silva voltou a insistir na questão da "justiça social", o tema político que desenvolveu ao longo deste nono dia de campanha. No dia em que a organização não-governamental Oxfam divulgou um estudo que indica que a riqueza acumulada por 1% da população equivale, pela primeira vez, à riqueza de 99% dos restantes República, o candidato chama a atenção para a realidade portuguesa: "um terço da população vive abaixo do limiar da pobreza, 3 milhões de portugueses, e desses, 40% são trabalhadores", salientou. "Como é que um Presidente da República pode viver descansado, dormir, ter repouso?", questiona. "Pois não devia. Tem obrigação de estar na linha da frente no combate a este flagelo, que se comprometa a erradicar esta vergonha do país". E esta atitude, assinala, "diferencia a nossa candidatura. É que não basta o discurso como de outros Presidentes, de lamentar que há pobres, que muita injustiça... isso qualquer senhora da conferência de S.Vicente de Paulo faz... é é preciso agir nas causas mais profundas".
Edgar Silva apontou os três "pilares" que estão na raiz desta "desigualdade social": baixos salários (40% dos pobres são trabalhadores porque os seus salários são demasiado baixos; reduzidas pensões de reforma "que nos últimos anos têm sido usurpadas"; e a falta de apoios complementares do Estado a quem quer lançar-se num "projeto de vida, num emprego, na criação de desenvolvimento". "Há toda uma economia, uma lógica", conclui, "para que apenas 1% possam ter tudo e outros algumas sobras".
No final, lembrando que faltam apenas seis dias para as eleições, o apelo, que tem repetindo incansavelmente: "Só há uma palavra daqui até domingo: mobilizar, mobilizar, mobilizar! Não basta a simpatia, é hora de garantir que a viragem. Está na hora, está na hora, não só do Cavaco ir embora, está na hora de dar a volta a isto. Abril pode triunfar no próximo dia 24!"