Ébola fora de controlo na República Democrática do Congo
O número de novos casos de ébola registados nas últimas semanas na República Democrática do Congo (RDC) indicam que o surto está fora de controlo, indicam especialistas e dirigentes de organizações humanitárias.
Seguindo noticia esta quarta-feira o The Guardian, surgiram 298 casos confirmados de ébola na RDC entre 15 de abril e 05 de maio, o que corresponde ao crescimento mais rápido de novos casos desde que o surto de ébola apareceu em agosto passado.
Com a memória ainda viva da epidemia que entre 2013 e 2016 alastrou em vários países da África Ocidental, o paralelismo com o que está a passar agora faz temer o pior. "Seja ou não à escala absoluta da África Ocidental, ninguém sabe, mas isso é enorme por comparação com qualquer outro surto na história do Ebola e ainda está em expansão", alertou Jeremy Farrar, responsável da organização não governamental britânica Wellcome Trust.
Farrar, que apelou a um cessar-fogo entre os beligerantes para as equipas médicas poderem chegar aos doentes para os tratar e também proteger quem ainda não está afetado, adiantou: "É notável que ainda não se tenha espalhado mais geograficamente, mas os números são assustadores e o facto de estarem a crescer é aterrorizante."
O Kivu do Norte e outras regiões da RDC há anos mergulhadas em conflitos entre grupos armados têm infraestruturas de saúde quase inexistentes, que a comunidade internacional procura minorar.
Daí a importância crucial de haver um cessar fogo de seis a nove meses medeado pela comunidade internacional - a ONU, a Cruz Vermelha ou outras organizações similares - para tentar parar a evolução de uma epidemia cuja taxa de mortalidade é de 67%, superior aos outros surtos.
De acordo com os dados disponíveis, só na região do Kivu do Norte ocorreram mais de 1600 pessoas infetadas com o vírus do ébola - e mais de um milhar já morreram, sendo a grande maioria mulheres e crianças.
David Miliband, ex-ministro britânico e atual líder do Comité Internacional de Resgate (IRC, sigla em inglês), esteve nos últimos dias no terreno e traçou um quadro dramático: "A situação é muito mais perigosa do que a estatística de mil mortos, a segunda maior da história."
Sem tréguas entre os grupos armados, é enorme a probabilidade de "o número de casos ficar fora de controlo apesar de uma vacina e tratamento comprovados", avisou Milliband.
Outro alerta veio da diretora regional da organização não governamental Mercy Corps, Whitney Elmer, que opera no Kivu do Norte e verificou ter havido "uma mudança drástica na situação de segurança" que contribuiu para um grande aumento no número de casos - uma taxa de crescimento muito maior do que até agora,
Elmer disse que houve cerca de 400 casos no último mês - o maior número desde o começo do surto - e que o número de casos novos está aumentando a uma taxa muito maior do que a vista anteriormente.