Se já pegou num cubo de Rubik para tentar a combinação certa, sabe que não é uma tarefa fácil. Mas não será caso para desistir à primeira: o próprio criador do quebra-cabeças demorou um mês a resolvê-lo pela primeira vez. Quarenta e um anos mais tarde, há quem consiga a proeza de completar o puzzle em menos de cinco segundos. Lucas Etter, um adolescente norte-americano de 14 anos, acabou de ser reconhecido pelo Guinness como o detentor do recorde mundial. Resolveu o cubo mágico em 4,9 segundos, batendo os 5,25 segundos de Collin Burns, que está agora em terceiro lugar. Em segundo encontra-se Keaton Ellis, que conseguiu a marca de 5,09 segundos. Mais rápido do que Etter só mesmo o CubeStormer 3, um robô de Lego que resolve o cubo em cerca de três segundos. .[youtube:vh0W8E4cNkQ].Mas afinal o que é preciso para resolver o quebra-cabeças em tão pouco tempo? "Há milhões de milhões de combinações possíveis. É absolutamente impressionante. Nem imagino a destreza manual que é necessária para o conseguir. Mas mais importante é o raciocínio", destaca Jorge Buescu, vice--presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM). Trata-se de uma tarefa "matematicamente muito complexa", que requer "muito treino, desde o mecânico, passando por reconhecer um padrão e identificar automaticamente o algoritmo que vai resolver o problema"..Existem inúmeros algoritmos que permitem resolver o cubo, destaca o professor do departamento de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. O segredo está em olhar para o problema e identificar qual deve ser usado. Desde que o brinquedo foi lançado, muitos génios têm tentado descobrir o número de movimentos necessários para o resolver, independentemente da configuração do cubo. Em 2010, um grupo coordenado por Morley Davidson, da Universidade de Kent (EUA), descobriu o "número de Deus": o puzzle pode ser resolvido em 20 movimentos ou menos. "Mas quais são os movimentos necessários?".[artigo:4899412].Em 1982 foi registado o primeiro recorde: 22,95 segundos. Desde essa altura, cada vez surgem cubistas mais rápidos. "Porque têm vindo a ser desenvolvidas estratégias para resolver o cubo de forma mais eficaz. Os computadores também ajudam", destaca Jorge Buescu. Em Portugal, o melhor tempo pertence a Afonso Carapeto (10,67 segundos). Didier Ferreira, 31 anos, surge em quinto lugar (13,55). Engenheiro civil apaixonado pela matemática, começou a praticar aos 23 anos e tem sido, nos últimos anos, um dos grandes impulsionadores do puzzle em Portugal. .Até de olhos vendados.Didier diz que, na primeira vez que pegou no cubo mágico que o irmão lhe ofereceu, ficou enfeitiçado. Passou a noite acordado até conseguir resolvê-lo. Procurou tutoriais e aprendeu técnicas, desde as resoluções mais simples até conseguir colocar as cores no lugar em poucos segundos. Existem várias variantes, mas aquela que mais o fascina é a de olhos vendados, método no qual é recordista nacional. O exercício é memorizar as peças, vendar os olhos e executar. Didier Ferreira faz tudo num minuto e 28 segundos. Dedica cerca de uma hora por dia a treinar e tem uma taxa de sucesso de 90%..Em Portugal, a Comunidade do Cubo Mágico já organizou três eventos: Portugal Open 2014, Coimbra Open 2014 e Campeonato de Portugal 2015. Em competição, explica Didier Ferreira, cada cubista tem 15 segundos de pré--análise para perceber como deve agir. O cronómetro começa a contar e, a partir daí, é tentar o menor tempo possível. "Não podemos ter pausas. Requer anos e anos de prática", ressalva o engenheiro. .Relativamente ao novo recorde internacional, Lucas Etter "é um grande velocista", mas houve também "um golpe de sorte, porque escapou um passo, ficando automaticamente resolvido". De acordo com as regras, explica, "apenas são necessários dois movimentos para considerar uma resolução válida em termos oficiais." No entanto, "a probabilidade de tal acontecer é muito reduzida [0,0000000000014372 %], ou seja, altamente improvável". A nova marca já é impressionante, mas Didier acredita que ainda é possível alinhar as cores em menos de 4.9 segundos. .São necessárias instruções.Entre os principais benefícios do jogo, o engenheiro destaca a "capacidade de organização e a ajuda no pensamento rápido em termos matemáticos". Ao pegar num cubo de Rubik, será um erro pensar em fazer primeiro uma cor e depois outra. "É feito por blocos de cores. E tem de se seguir um método e um tutorial." Existem métodos avançados - como o CFOP e o Roux - mas, numa fase inicial, o mais indicado será mesmo ver tutoriais. E não desistir.