É urgente reformar

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As eleições legislativas do próximo ano já estão a ser preparadas internamente pelos partidos, embora, nesta fase, uns estejam mais dedicados a essa missão do que outros, que têm estado necessariamente atarefados com a sua reorganização interna, como é o caso do PSD. Essa inevitabilidade formalmente instituída num partido político tão significativo e representativo da democracia portuguesa influencia, inevitavelmente, todo o sistema, quer se queira ou não queira.

Num momento em que os portugueses preparam uma escolha completamente focada na procura da estabilidade - porque estas eleições são uma chamada para responder a uma crise política dispensável, como todas as outras, embora esta ainda mais porque surge entre uma panóplia de crises bastante difíceis e endurecidas - o voto tenderá a ser exercido numa base e fundamento acentuadamente estratégicos e táticos. Os eleitores votarão de forma calculada, até calculista, porque, de uma forma geral, aprenderam com a geringonça que o Governo emana do parlamento e que não lhes cabe a escolha (direta) do Primeiro-Ministro. Enfim, hoje sabe-se mais sobre as regras de um jogo que estrategicamente todos têm que jogar à procura do resultado mais favorável à governação.

Haverá menos espaço às ideias - e menos tempo - ainda que as ideias alimentem o sentido de voto e continuem a alimentá-lo também nestas legislativas. Deviam, aliás, ser o mais importante, mas a exigência atual obrigará a transformar a preponderância dos programas para o país em insignificância prática e residual. A distinção, agora, entre os dois candidatos à liderança do PSD, nestas diretas convertidas em primárias, em termos práticos, é o ângulo de abertura para um eventual entendimento com o PS ou para negociar com a nova ameaça à direita: o Chega. Eis uma consequência prática do timing.

A partir de Sábado, o PSD crescerá nas sondagens, porque, sendo um partido estrutural e estruturado, tem obrigação de saber unir-se enquanto alternativa. Resta saber se esse crescimento será suficiente para ultrapassar o PS, ou não.

Do lado do PS, a casa está arrumada, para já, mas o resultado das legislativas é que ditará a validade dessa estabilidade interna. A contagem dos votos ditará se a resposta à crise será preferencialmente à esquerda, caso o PS vença, ou à direita, caso o PSD vença. A contagem dos votos ditará também se a resposta à crise será preferencialmente ao centro, caso a dispersão de votos pelos partidos mais pequenos seja tal que cada um dos dois maiores partidos não consiga apoio parlamentar dentro do próprio espetro político, que permita a formação de uma maioria.

É urgente reformar. Reformar os homens e as mulheres que já estão na idade da reforma e que se mantêm no parlamento a viciar os partidos, o sistema e a política. É urgente reformar os partidos, dar espaço aos jovens, chamá-los a participar e desde já, com dimensão e significado, permitir à geração mais qualificada de sempre a intervenção política. Os jovens mobilizarão os jovens. É, sobretudo, aos jovens que cabe a responsabilidade de inverter os números da abstenção. Haja oportunidade para começar e coragem para reformar.

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