"É uma coleção africana de arte, não é uma coleção de arte africana"
Qual é a sua expectativa em relação a esta exposição que abre na Galeria Almeida Garrett?
A particularidade desta exposição é que tem dois curadores novos, um deles português [Bruno Leitão] com quem nunca trabalhei. Ele teve acesso ao acervo todo, fez uma escolha. Verifiquei discretamente e acho que escolheu bem [risos].
A coleção são três mil obras [dados do site da fundação] ou cinco mil [informações recolhida junto de outras fontes]?
Não faz sentido uma perspetiva cumulativa, mas sim ter uma coleção em linha com o que está a acontecer no continente africano, ou seja, relevante, com artistas novos, jovens, com questões atuais, universais e mais específicas do continente africano, como a situação da mulher, as questões religiosas, de liberdade, políticas, de sociedade. Isso tudo é o que me interessa explorar através de parcerias com artistas. E a segunda coisa que me interessa, numa vertente mais política, é expor o público africano à sua arte contemporânea. Sempre achei muito injusto e anormal viver num continente que tanto precisa de se projetar no século XXI e que não tem instrumentos para refletir sobre o passado e se projetar no futuro. Criámos uma carta de princípios, e um desses princípios é estar sempre disponível para emprestar obras para qualquer exposição e instituição que tenha interesse, mas o que peço em contrapartida é a organização dessa exposição num sítio à escolha no continente africano.
Quais têm sido os resultados?
Fizemos em São Tomé, várias em Angola, agora estamos a planificar uma para o Congo. Faz-se, mas não se faz suficientemente. Além da boa vontade, temos um problema no continente africano, que é a ausência total de infraestruturas, o que torna logo muito difícil a organização logística, e também há poucas instituições com capacidade e experiência para levar a cabo este projeto.