É tempo de agir
Portugal é, entre os 19 países da zona euro, aquele que regista, em 2020, o terceiro impacto orçamental mais reduzido nas medidas de resposta à pandemia, estima o Banco Central Europeu (BCE).
Os dados publicados pelo BCE confirmam aquilo que outras entidades, como o Fundo Monetário Internacional, já tinham antes avançado: Portugal é dos países que estão a realizar um esforço orçamental mais moderado nas medidas de combate às crises sanitária e económica.
Se os dados agora conhecidos são sustentáveis em fontes credíveis, compreende-se o manifesto desapontamento de vastos setores sociais que, além de verificarem estes dados, não encontram no Governo as respostas políticas à altura da gravidade da situação. O desporto não é exceção: escasseiam medidas de apoio público perante a situação que enfrentamos.
Portugal, é sabido, vive um momento particularmente delicado da sua história, política, social e economicamente frágil, no panorama nacional e internacional.
Cerca-nos um clima de instabilidade e de insegurança quanto ao futuro. O desporto, naturalmente, não vive alheado desta realidade e não deixa de ser por ela afetado.
Os efeitos da pandemia na desvitalização dos clubes e das coletividades desportivas configuram um risco de incalculáveis dimensões a estes pilares do sistema desportivo nacional, reconhecidos na nossa Constituição. Com um poder local financeiramente exaurido, receia-se que os apoios ao tecido associativo local, e que tão significativos foram no passado, escasseiem no presente.
Os problemas da situação desportiva nacional são, nestas circunstâncias, particularmente vulneráveis a um conjunto de ameaças que, de há longa data, enfermam o seu processo de desenvolvimento, as quais, apenas pontualmente, são atenuadas.
Não tem sido possível distinguir o que é urgente e prioritário daquilo que é importante e fundamental.
Importa, por isso, estarmos focados na absoluta necessidade de defender a sustentabilidade do desporto em contexto de pandemia, protegendo um bem público e a sua importância social.
Nesse sentido, todos nós - poderes públicos e desportivos - devemos ser capazes de encontrar mecanismos solidários, designadamente para ajudar clubes e associações desportivas de base, que são os que mais sofrem com a situação que estamos a viver.
Essa resposta não pode dispensar uma forte resposta financeira por parte do Governo. O que se passou em plena pandemia com a aprovação do Orçamento do Estado, sem qualquer medida extraordinária de apoio ao desporto, deveria envergonhar os parlamentares que o permitiram. Temo que não tenham sequer consciência da gravidade dos seus atos ou, neste caso, das suas omissões e inação.
Tardiamente, o Governo parece já ter compreendido que a situação é insustentável. Mais vale tarde do que nunca. Urge, então, passar da compreensão à ação.
Presidente do Comité Olímpico de Portugal