E quase tudo a chuva levou
A chuva marcou o penúltimo dia do Rock in Rio. Que o digam os D.A.M.A. que tiveram que dar uma actuação mais recolhida, debaixo da cobertura da estrutura do palco, sem aventurarem grandes passeios na escorregadia língua central do palco que fura a multidão coberta de impermeáveis. O trio nacional de pop disfarçada de hip hop puxou dos seus maiores êxitos, como o acústico Eu Sei e Agora É Tarde, e só não teve maior correspondência por parte das numerosas crianças e adolescentes presentes porque as condições atmosféricas não o permitiram. Mas disponibilidade não faltou. O rapper brasileiro Gabriel O Pensador fez pequenas aparições, mas todas elas foram vistosas, como em 2345meia78 e, como seria de esperar, no tema de colaboração com os D.A.M.A. que fechou a atuação, Não Faço Questão.
Quem fez questão de se soltar foi Ivete Sangalo que transformou o Parque da Bela Vista num imenso Brasil a pular quase tanto quanto a artista baiana. Pouco importa às gentes a sensação de "déjà vu" no festival. É Carnaval e ninguém leva a mal.
No Palco Vodafone, os Capitão Fausto ousaram e abusaram dos temas do novo álbum Os Capitão Fausto Têm Os Dias Contados, mas deram-se muito bem neste concerto mais temático do que festivaleiro. Os Capitão Fausto serenaram nos devaneios psicadélicos, e estão em processo de BrianWilsonização, à procura da canção perfeita. Enquanto não a encontrarem, não vão parar de melhorar. Além de uma maior maturidade, há por ali uma espécie arrastada de preguiça tão musical, com muitos elementos prog ainda à solta, que tem como ex-líbris a canção mais célebre do disco, Amanhã Tou Melhor, recebida pelo imenso público já como um hit. O quinteto lisboeta liderado por Tomás Wallenstein (hoje de camisa havaiana branca) sabe cada vez mais deixar a música respirar, sem perder o lado brincalhão que foi seu apanágio.
Se os Capitão Fausto - que atuaram a uma hora mais vespertina - se safaram da chuva, o mesmo não se pode dizer da banda norte-americana de dream-pop Real Estate, que viu do Palco Vodafone muita gente a refugiar-se para debaixo das árvores. Nada que afetasse a inocência das suas músicas, cantadas de forma acabrunhada como uma banda de shoegazer, mas sem aquela instalação ruidosa de feedbacks.