"É preciso desmitificar quando nos afirmam que a hidroeletricidade é uma eletricidade verde. O impacto que as barragens têm sobre o ambiente - e não é só reterem as areias que não chegam ao mar, mas contribuírem ativamente para a libertação de metano CH4, um poderoso gás de efeito de estufa - de forma alguma é compatível com uma etiqueta verde", afirmou à Lusa o professor Bordalo e Sá, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), na Universidade do Porto..José André, geógrafo e especialista que estuda o movimento de areias na faixa litoral, apelida a energia gerada pelas barragens de "energia vermelha" e destaca a redução de caudal sólido (quantidade de sedimentos transportada) no rio Douro.."A energia hídrica é uma energia vermelha, porque traz problemas ambientais, não deixa passar as areias. O rio Douro, por exemplo, sem barragens depositava quase dois milhões de metros cúbicos de areia na foz, era o rio que maior alimentação dava à costa. Com barragens o rio deposita apenas 200 mil metros cúbicos, uma redução de cerca de 80%", destacou o especialista..Bordalo e Sá afirmou que Portugal ainda está a "anos-luz" das opções tomadas em países como os Estados Unidos ou a Suécia, que fizeram a remoção de várias barragens, mas apelou à "tomada de decisão política".."Nos Estados Unidos da América e na Suécia chegou-se à conclusão que remover uma barragem era mais barato do que tentar recuperar o ambiente a jusante. Partindo do princípio de que em Portugal ainda estamos muito longe desta situação, é preciso tomar medidas sérias", referiu..Contactado pela agência Lusa sobre a solução de remover barragens do plano hídrico, de forma a aumentar o caudal sólido e resolver o problema da falta de sedimentos na costa portuguesa num horizonte temporal mais alargado, o Ministério do Ambiente afirmou que "a avaliação se encontra a ser apurada"..Na resposta enviada à Lusa o Ministério do Ambiente confirma que a construção da Barragem de Fridão, no quadro do Plano de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico, prevista para o rio Tâmega, afluente da margem direita do rio Douro, "está pendente"..Em relação ao grupo de trabalho que iniciou o estudo do plano hídrico nacional em 2016 e entregou em março de 2017 um relatório preliminar com a identificação do ponto de situação, a tutela confirma a demolição total da Barragem da Sardinha e da Barragem do Peneireiro (ou dos Patos)..Segundo a mesma resposta, os trabalhos de demolição da Barragem da Misericórdia, em Beja, foram iniciados, mas a suspensão da demolição só deverá acontecer depois da aprovação do projeto candidatado ao Programa de Desenvolvimento Rural 2020..O projeto de demolição da Barragem da Herdade da Cigana, também em Beja, ainda aguarda autorização..Bordalo e Sá diz que é preciso "coragem política" para agir ao nível do plano hídrico.."Os sucessivos governos têm encomendado vários estudos à comunidade científica, os diagnósticos estão feitos, as propostas de ação estão dadas, agora as pressões para a tomada de decisão política correta acabam por ser muito grandes", declarou.