E no Coliseu nasceu uma estrela
Era a estrela maior da primeira noite de festival, mas o que se passou na sexta-feira no Coliseu superou todas as expectativas. Soberbo, sobrenatural, intenso, magnético, irrepetível... Não faltarão adjetivos para descrever o concerto do britânico Benjamin Clementine, mas todos eles pecam por defeito. As longas filas de gente que se acotovelava à entrada da mais nobre sala de espetáculos da capital, minutos antes do início da atuação, já deixavam antever que algo de especial estava prestes a acontecer. Com o seu piano e apenas acompanhado de um baterista, o músico londrino depressa conquistou o público com a sua música, na qual se cruzam universos tão distintos como sonoridades clássicas, soul, pop, blues, jazz e o que mais lhe aprouver, porque nada disso interessa enquanto Benjamin Clementine canta e toca, descalço e de casaco comprido (tal como baterista), com um porte aristocrático em tudo contrastante com o seu passado sofrido nas ruas de Paris, onde chegou a ser sem-abrigo. Sobre a sua história pessoal, já quase tudo foi dito e apenas a ela voltamos nestas linhas, porque será essa a base da sua música tão verdadeira, "tão da alma", como alguém sussurrava, de lágrimas nos olhos, enquanto o músico agra-decia, também ele comovido, de mãos juntas ao peito, já com todas as luzes acesas, perante um imenso e sentido aplauso. Foi amor puro, de parte a parte, o que se passou no Coliseu, que veio literalmente abaixo, como se costuma dizer nestas ocasiões, embalado pela sua voz de barítono e a potência do seu piano, numa atuação tão intensa quanto arrebatada, enquanto interpretava hinos como London, Condolence, Adios, Nemesis ou Cornerstone, cantados por todos a uma só voz.
Entretanto, fora do Coliseu, o festival continuava como habitualmente, com muita gente a deambular de palco em palco, por vezes com longas filas à porta das diferentes salas, onde foram também muitos os concertos a reter nesta primeira noite, como o que a norte-americana Akua Naru deu na Estação do Rossio, onde fez a festa ao som do hip-hop-soul ritmado.