E depois de Charlie

Foram sepultados os últimos mortos dos atentados. Depois do choque, das lágrimas e da cólera, o quê? O consenso abre fissuras
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"O que vimos na Assembleia Nacional, com todos a cantar a Marselhesa, foi um Te Deum [hino de louvar a deus] republicano. " Pascal Chérki, deputado do PS, saboreia a ironia da imagem. "E a manif de domingo passado foi uma versão triste do que tivemos em França quando ganhámos o mundial, em 1998: as pessoas saíram à rua numa celebração catártica. Mas este estado de emoção não pode durar muito mais."

Há quem, como o chefe de redação do jornal de centro direita Fígaro, Guillaume Tabard, considere que o consenso emocionado já terminou, exatamente na terça da Marselhesa, o dia da homenagem do governo e presidente aos polícias mortos e do discurso do primeiro-ministro na AN. "A partir de quarta, com a discussão na AN sobre os incidentes nas escolas [em cerca de 40 houve alunos que recusaram o minuto de silêncio em memória das vítimas] e com a saída do Charlie Hebdo, houve uma viragem para a qual também contribuiu a acusação do humorista Dieudonné pelo crime de apologia do terrorismo, por ter escrito no Facebook "sinto-me Charlie Coulibaly" [apelido do homem que se barricou com reféns num minimercado judaico, tendo matado quatro deles, assim como uma agente policial]. Começou um debate sobre os limites da liberdade de expressão." Na primeira página do jornal 20 minutes, o título na quinta-feira emulava um verso famoso de Paul Éluard, substituindo "nom" (nome) por "non" (não): "J"écris ton non, liberté".

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