Ou seja, depois de uma semana de silêncio absoluto, vem Fernando Medina de coração partido comentar em palavras curtas a renúncia do consultor imprescindível à sua missão nas Finanças. Sem explicações, arrependimentos ou pedidos de desculpa, que o que Medina decide é lei e ai de quem se atreva a contrariá-lo (se não acredita, passe os olhos pelos vídeos das reuniões de câmara dos tempos em que Lisboa estava às ordens do atual ministro das Finanças)..Em sete dias de incredulidade nacional - ao menos entre aqueles que ainda não consideram aceitável que um governo trate os cidadãos como subalternos obedientes, calados à força de esmolas - face ao desplante de (mais) um ministro que pretende contratar um consultor externo para mediar e avaliar as suas relações com aqueles que tutela, nem uma palavra se lhe ouviu..Em sete dias, nem por um momento saiu Medina em defesa das extraordinárias qualidades e talentos de um braço-direito insubstituível na missão de melhorar o país e acabar com a miséria cavada dos portugueses..Em sete dias, nunca o ministro das Finanças sentiu que devia explicar por que havia necessidade de contratar alguém com quem dividir o trabalho, ou porque não confiava essa missão aos serviços públicos criados para o efeito, ou porque não podiam ser os de dentro, os dos quadros, a fazer o trabalho que teimou em pôr nas mãos de um consultor externo..Nem sequer quando Costa veio lavar as mãos perante o povo, dizendo que não mete a sua foice nas searas dos seus ministros e cada um que governe a casa como bem lhe aprouver - independentemente de ser sobre os contribuintes que cai a fatura dos gastos e dos erros dele e dos seus -, Medina falou..Por fim, Sérgio Figueiredo, abandonado na praça pública e sentindo-se acossado por um país de invejosos, desistiu de ser consultor de ministro a receber mais do que o ministro e a ganhar espaço para tudo quanto a não-exclusividade de que beneficiaria pudesse pôr-lhe no caminho..Então Medina falou. E no elogio póstumo, disse que "lamentava profundamente" a recusa, mas "entendia muito bem as razões" de alguém que poderia ter dado um "valioso contributo ao serviço do interesse público"..E mais não disse, nem respondeu, que um governante não tem de dar satisfações a ninguém. Nem sequer esclareceu se vai agora tentar obter esses "valiosos contributos" remunerados para desenhar políticas públicas junto de outros "destacados analistas", talvez pagos à peça para não parecer mal, ou se vai resignar-se a recorrer aos préstimos dos muitos especialistas nos quadros do Estado, que têm competências de sobra e a quem ofendeu profundamente com o desvario..Subdiretora do Diário de Notícias