E à beira-Tejo nasceu uma estrela

No cartaz havia pesos-pesados do<em> hip-hop</em> americano, mas foi o português Slow J quem ganhou um lugar ao sol
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Os poucos mais de 40 minutos que Pusha T passou em palco, no concerto de abertura de ontem no festival Super Rock, não fazem jus ao estatuto de superestrela do rapper americano. Consta que nesta mesma noite tinha um concerto algures no centro da Europa e o miniconcerto no palco EDP funcionou assim como uma espécie de mínimos para este habitual colaborador de nomes como Kanye West, Pharrel Williams ou Gorillaz. Soube a pouco, mas dá um certo prestígio que um festival como o SBSR possa assim despachar um nome de primeira linha como número de abertura. Bem mais segura do seu papel esteve a canadiana Jessie Reyes, conquistando o público com a mesma naturalidade com que se foi transfigurando ao longo do concerto, passando da discreta cantora folk inicial, de guitarra acústica a tiracolo, para a feroz MC que se despediu, ainda o sol brilhava.

Entretanto, do outro lado do recinto, o rapper portuense Keso dava início aos espetáculos do palco LG, com um rap sem filtros, a toda a velocidade e com muitos palavrões à mistura. "Preciso de uma cunha na radar e de um artigo no diário", reclamava o artista numa versão livre do tema O Vento Mudou, o clássico de Eduardo Nascimento que concorreria ao Festival da Eurovisão de 1967. "Oiçam, oiçam, o disco do Keso, c*****o"! Era tempo de regressar ao palco EDP, onde se aproximava a hora de Slow J - o espaço por baixo da pala de Siza Vieira começava a ser escasso para a multidão que se concentrava. Se há momentos de viragem na carreira de um artista, este foi sem dúvida um deles. Sim, já muito foi dito e escrito sobre o talento deste jovem cantor, MC, músico e produtor, mas nem ele esperaria tal reação, com todas as músicas do álbum de estreia, The Art of Slowing Down, a serem cantadas em coro do início ao fim.

"Se estiverem confusos se isto é rock ou hip-hop, não se preocupem, vai correr tudo bem", diz a dada altura, quase em jeito de desculpa, como se isso, ali, tivesse alguma importância. "Eu nem sei, eu só tentei, chegar longe sem sensei", canta, ele e toda a gente, em Cristalina, um dos temas com que se deu a conhecer, na internet, muito antes do disco, como se resumisse, numa frase, todo aquele momento. Seguiram-se Pagar as Contas e Vida Boa, com a sua voz a ser de novo abafada pela do público. "Eu não quero que isto acabe", desabafa enquanto se despede ao som de Mun'Dança, abraçado aos companheiros Francis Dale (guitarra e teclas) e Fred Ferreira (bateria). Não, isto é só o início...

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