Duas máscaras de pano por casa? Promessa de Abe é ridicularizada
A promessa do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, de enviar duas máscaras reutilizáveis de pano para cada lar do país de forma a travar a pandemia de coronavírus foi recebida nas redes sociais com escárnio e humor.
Abe lançou a sua promessa de enviar as máscaras enquanto usava uma, durante uma reunião da task force do governo para enfrentar o coronavírus, na quarta-feira. As máscaras devem começar a ser enviadas na próxima semana, chegando primeiro às áreas onde há um aumento de casos.
"Podem usar detergente para lavar e reutilizá-las, por isso isto deve ser uma boa resposta à repentina e enorme procura por máscaras", disse o primeiro-ministro, que se recusa a decretar o estado de emergência, apesar de apelar às pessoas para ficarem em casa durante duas semanas a partir desta sexta-feira.
O Japão tem mais de 2500 casos confirmados de covid-19 e já registou 71 mortes, com Abe a ser criticado pela forma como tem respondido à pandemia, nomeadamente no atraso em adiar os Jogos Olímpicos de Tóquio.
Horas depois do anúncio, a hashtag "Abenomasks", uma brincadeira com o nome da política económica do primeiro-ministro "Abenomics", era trending topic no Twitter no Japão.
"Passou uma noite e não era um sonho", escreveu Kentaro Iwata, especialista em doenças contagiosas na Universidade de Kobe, referindo-se ao anúncio de quarta-feira de Abe.
Iwata considera a proposta um "desperdício de dinheiro", indicando que os hospitais nunca usariam as máscaras de tecido propostas por Abe.
A promessa surgiu depois de Abe começar ele próprio a usar uma pequena máscara de pano no Parlamento, e uma das imagens humorísticas que começou a circular após a proposta mostra-o a usar duas máscaras, uma a tapar a boca e a outra a tapar os olhos.
A decisão de entregar apenas duas máscaras por lar deixou muitos japoneses confundidos, questionando o que os lares com mais de duas pessoas deviam fazer.
Um cartoon partilhado online mostra múltiplos membros da mesma família em fila, com a pessoa à frente a usar uma máscara e os elásticos a estenderem-se até às orelhas do último familiar, atrás.
O momento do anúncio também deixou as pessoas a questionar se era uma mentira do Dia das Mentiras.
Outros questionaram o custo desta decisão, com Abe a dizer que poderia enviar cem milhões de máscaras para mais de 50 milhões de lares no país.
"Vou eu próprio fazer duas máscaras", escreveu uma pessoa no Twitter. "Não me enviem. Usem o dinheiro para outra coisa."
Um responsável governamental disse esta quinta-feira que cada máscara custa cerca de 200 ienes (1,70 euros), o que significa que a promessa pode custar 40 mil milhões de ienes (340 milhões de euros), sem contar com os custos de distribuição.
O mesmo responsável defendeu o programa, dizendo que iria aliviar a procura por máscaras cirúrgicas.
Apesar de os peritos não estarem de acordo em relação à necessidade de usar ou não máscaras, elas são populares no Japão e normalmente usadas durante as épocas de frio ou de alergias, mesmo antes da pandemia.
Por causa do coronavírus, tem havido uma falta de oferta em todo o país, apesar das promessas do governo de aumentar a produção.