Drew Barrymore estreia-se em TV com uma dieta de... carne crua
O argumentista Vitor Fresco disse-lhe, quando se encontraram pela primeira vez, que Santa Clarita Diet iria ser uma série sobre o casamento. Mas a história que chega na próxima sexta-feira, dia 3, à Netflix é mais do que isso, explica Drew Barrymore numa sessão de perguntas e respostas em que o DN participou. É uma história real "da vivência suburbana", daquelas que "podem acontecer em qualquer lado", focada em "questões fundamentais e com as quais qualquer pessoa se pode relacionar".
Apesar de centrar a sua ação numa mãe de família obrigada, de um momento para o outro, a fazer de tudo para saciar o seu desenfreado desejo por carne crua - e, eventualmente, carne humana -, o que vai prender o espectador, acredita a protagonista, é "a dinâmica familiar que suporta a trama".
O cenário suburbano da pequena cidade que dá nome à série é o ideal para contar a experiência desta mulher. Barrymore, de 41 anos, admite que a envolvência lhe recorda o "mundo do E.T. - O Extraterrestre" em que cresceu, ou não tivesse sido ela, aos 6 anos, uma das estrelas desta longa-metragem de Steven Spielberg. "Filmámos em locais e paisagens muito parecidos. Era um local muito familiar e que provocou alguma nostalgia", referiu a "rapariga da Califórnia", como se autodenomina. "Com tantos efeitos especiais [em outras produções], parece que entramos cada vez mais no irreal. Eu gosto de estar neste cenário mais comum, no "quintal". Podemos ir ainda mais longe quando a história se passa em casa", diz.
O facto de a sua personagem, Sheila, ser uma morta-viva não impede a transmissão da mensagem. Até porque essa é apenas uma metáfora para alertar quem anda "por aí a colocar um pé à frente do outro, ironicamente, como um zombie". "A Sheila muda a perspetiva do que a rodeia. Ela vivia "adormecida", não ligava ao que acontecia à sua volta", afirma a protagonista. "Esta mulher acordou depois de se tornar morta-viva. Passou a ver o mundo como se tivesse tirado uma venda dos olhos."
Santa Clarita Diet, a primeira incursão de Drew no universo televisivo, acaba por ser também "sobre o que está certo e o que está errado em determinadas pessoas e em determinadas situações". A atriz contracena com Timothy Olyphant , que veste a pele do seu marido Joel Hammond, um homem que pode não entender a mudança da mulher, mas que a apoia para lá de tudo o que é esperado. A inspiração, essa, Barrymore foi buscá-la ao par de protagonistas da série Modelo e Detetive, de 1985. "Inspiro-me muito em Moonlighting (título original) e como o David (Bruce Willis) e a Maddie (Cybill Shepherd) funcionavam em equipa. Eles aligeiram as situações, são rápidos e pensam no que têm de fazer no momento. Apaixonei-me por essa referência."
Como manter uma relação?
"A série surgiu com uma pergunta: como manter uma relação quando uma das partes muda?", explica Vitor Fresco. "A Sheila e o Joel são duas pessoas que se amam há 25 anos, e esse amor está mais forte do que nunca. Mas quando, uma certa manhã, ela acorda a sentir-se e a agir de forma diferente, ambos enfrentam o desafio de manter o casamento e a família unida, enquanto tentam lidam com essa situação inesperada e intensa", esclarece o criador da trama. Timothy Olyphant acrescenta: "Independentemente de a minha mulher e eu andarmos a matar pessoas para fins alimentícios, parece uma série sobre uma família, um casal, a sua relação, a filha adolescente e os seus problemas típicos. De certa forma, a Sheila é uma força da natureza e, ao mesmo tempo, uma vítima." "No fundo, esta série é sobre o conceito universal de família. Por isso, por mais que a trama se centre em Santa Clarita, na Carolina do Sul, a história passa um feeling universal sobre casamentos a longo prazo, sobre a redescoberta pessoal e matrimonial", completa.
Olyphant e Barrymore são também produtores executivos ao lado de Fresco e ainda de Tracy Katsky, Aaron Kaplan, Chris Miller e Ember Truesdell.
"Estamos a fazer algo diferente"
"Não há muitas regras no que diz respeito aos mortos-vivos: para matá-los, é preciso acertar no cérebro. Todos sabemos disso. E sabemos que gostam de carne humana. Fora esses detalhes, a nossa abordagem é totalmente diferente [das outras séries com zombies], garante o argumentista. Os efeitos especiais dos dez episódios de meia hora cada ficaram à responsabilidade de Christien Tinsley, que trabalhou em produções como Westworld, American Horror Story e Jonah Hex. "Não foi fazer dedos que esticam como se fossem um elástico - não fizemos coisas assim nesta série. Na verdade, de certa forma, nós fomos ainda mais realistas devido à natureza do argumento e das representações", justifica Tinsley.
O desafio de integrar a produção televisiva da plataforma de streaming surgiu no "momento certo" para Drew Barrymore. "Na minha vida pessoal, estava a passar por algo que se assemelhava muito ao que se passa com a Sheila", confessa. Foi também por isso que Santa Clarita Diet se tornou irresistível para a atriz.