Dragão abanou o líder e evitou o xeque-mate ao título

O FC Porto venceu o Benfica por 3-2, num clássico em que soube pôr a nu as fragilidades defensivas da equipa de Bruno Lage durante a primeira parte. Os encarnados deixam o Dragão com quatro pontos de vantagem, mas agora os portistas acreditam que é possível chegar ao primeiro lugar.
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O FC Porto evitou neste sábado, no Estádio do Dragão, o xeque-mate do Benfica na corrida ao título, ao conseguir uma importante vitória por 3-2. A equipa de Sérgio Conceição conseguiu assim reduzir a desvantagem de sete para quatro pontos, além de que mantém a vantagem no confronto direto por ter vencido os dois jogos com os campeões nacionais.

O campeonato está assim relançado à 20.ª jornada, embora a equipa de Bruno Lage, que só perdeu pontos com o FC Porto (e perdeu todos os pontos em disputa), ainda mantenha uma boa vantagem na liderança, a margem para escorregar diminuiu bastante, sendo certo que os dragões devem estar cientes de que precisam de uma segunda volta excecional para aproveitarem as eventuais escorregadelas do Benfica. E a próxima jornada já é escaldante, com os campeões nacionais a receberem o Sp. Braga e os portistas a visitarem Guimarães.

O clássico foi muito bem jogado e muito bom taticamente, com o FC Porto a ser muito mais forte na primeira parte, tendo explorado as debilidades defensivas do Benfica, permitindo-lhe ir para o intervalo a vencer por 3-1. No segundo tempo, os encarnados tiveram mais posse de bola, conseguiram reduzir e manter a incerteza no resultado até final.

Uma questão de equilíbrio

Sérgio Conceição ganhou para este jogo Pepe, o seu patrão da defesa, que recuperou de uma lesão que o tirou um mês dos relvados, e sentiu segurança para colocar Jesús Corona como defesa direito, o que permitiu abrir uma vaga no onze ao colombiano Luis Díaz. A equipa ganhava assim poder ofensivo e procurava que o equilíbrio fosse dado por Sérgio Oliveira, Uribe e Otávio, o que, ver-se-ia mais à frente, resultaria em pleno.

Já Bruno Lage, que tinha perdido de véspera o equilíbrio do seu meio-campo (Gabriel), preferiu colocar Chiquinho como segundo avançado e Rafa Silva como ala esquerdo, prescindido de Franco Cervi, cujo entendimento com Grimaldo vinha funcionando muito bem, uma vez que o argentino tem sido uma ajuda preciosa ao espanhol nas tarefas defensivas. O jogo iria mostrar que essa foi uma decisão errada, afinal foi pelo lado de Grimaldo que saíram as jogadas mais perigosas dos dragões...

O Benfica até entrou no jogo de forma personalizada, procurando manter a posse de bola e fazendo-a rodar à largura, forçando o adversário correr. Só que, passados os instantes iniciais, o FC Porto assumiu as rédeas, com as suas linhas muito subidas para pressionar os encarnados logo na sua zona de construção. Os portistas trocavam a bola com velocidade, sempre à procura dos espaços perto da área benfiquista, insistindo muito em canalizar o seu jogo pelo lado direito com Jesús Corona e Marega para forçar o erro de Grimaldo.

Sérgio marca, Vinícius empata

E era assim que os dragões iam causando instabilidade na defesa benfiquista, até que Otávio driblou o lateral espanhol e cruzou para o coração da área, onde estava Sérgio Oliveira a rematar com a canela e bater Vlachodimos. Estava aberto o marcador no Dragão e de cima dos ombros dos jogadores portistas saiu o peso de estarem pressionados para vencer.

O Benfica reagiu bem ao golo sofrido, com Taarabt a agarrar na equipa, procurando descobrir os caminhos da baliza, que até então tinham estado bastante tapados. Rafa Silva começou por ameaçar com um remate prensado por Pepe que acabou nas mãos de Marchesín, mas logo a seguir o extremo cruzou para um cabeceamento de Chiquinho, que o guarda-redes portista defendeu, mas na recarga Carlos Vinícius fez o empate.

Esperava-se então que o jogo ficasse mais dividido, mas os dragões não acusaram o golo sofrido e partiram para o ataque com a mesma fórmula que tinham utilizado nos primeiros minutos. Surgiram então várias picardias entre os jogadores devido à alta tensão que se vivia.

Dragão dinamita esquerda do Benfica

A intensidade que o FC Porto punha em campo voltava a fazer abanar (e de que maneira) os alicerces da organização defensiva do Benfica, que não acertava com a forma como marcar os médios contrários, em especial Sérgio Oliveira e Otávio, que surgiam em zonas de finalização.

A insistência dos portistas pela ala direita continuava a fazer estragos na equipa de Bruno Lage, até que num livre a castigar um corte com o braço de Taarabt junto à linha final Soares surge a cabecear, tendo a bola batido no braço de Ferro. Depois do recurso ao VAR, Artur Soares Dias mandou marcar penálti, que seria transformado por Alex Telles.

Os minutos que se seguiram foram de completo desnorte dos encarnados, que acabariam por voltar a sofrer um golo, outra vez por insistência do lado direito FC Porto, com Marega a superar Ferro e a cruzar para o coração da área, onde Rúben Dias, na tentativa de evitar que a bola chegasse a Soares, acabou por fazer autogolo. Os dragões ficaram com uma confortável vantagem de 3-1 e, mais do que isso, passavam a pressão toda para o lado contrário.

Vinícius relança o clássico

Para a segunda parte havia uma certeza: se o Benfica continuasse a cometer tantos erros iria sair do Dragão com um resultado mais pesado. Mas Bruno Lage aproveitou o descanso para corrigir os posicionamentos, sobretudo a forma como Chiquinho apareceu mais a recuar no terreno a ajudar os dois médios.

Os dragões surgiram então com um bloco mais baixo, à procura de aproveitar os erros do adversário com contra-ataques rápidos, que permitissem aumentar a vantagem. Só que os encarnados assumiram as rédeas da partida, conseguindo ter a bola e circulando-a de um lado ao outro do campo, à procura de espaços por onde pudesse solicitar os avançados. E foi assim que surgiu o segundo golo, com Rafa a dominar e a solicitar Carlos Vinícius, que rematou à meia volta e bisou, relançando o jogo aos 50 minutos.

O FC Porto não tremeu com o golo do Benfica e voltou a responder com perigo por duas vezes de bola parada. É então que Bruno Lage arrisca, tirando Taarabt, que andava a arriscar o segundo amarelo, e fez entrar Seferovic para o ataque. E logo na primeira vez que foi solicitado, o suíço chegou ligeiramente atrasado a um cruzamento de Vinícius, que tinha roubado a bola a Pepe. O capitão portista voltou a lesionar-se nesse lance, acabando mesmo por ter de ser substituído.

Com o Benfica a ter então maior posse de bola e a jogar mais no meio-campo adversário, o FC Porto continuava a sua estratégia de tentar aproveitar o erro para aumentar a vantagem e até dispôs de duas grandes ocasiões desperdiçadas por Luis Díaz, a última das quais quando Bruno Lage já tinha arriscado tudo com a entrada do estreante Dyego Sousa para o lugar de André Almeida.

O apito final do árbitro acabou com a ansiedade dos portistas nos instantes finais. O objetivo estava cumprido. O FC Porto recuperava terreno para o Benfica, ganhava um importante balão de esperança pois ficava a apenas quatro pontos da liderança, com 14 jornadas por disputar.

O Benfica voltou a perder com o FC Porto, tal como acontecera na primeira volta na Luz, e tal como nesse jogo mostrou fragilidades que os dragões souberam expor e aproveitar. Bruno Lage perdeu pela primeira vez um jogo fora para o campeonato e três meses depois os encarnados voltaram a sair derrotados: a última vez tinha sido em Lyon para a Liga dos Campeões.

A questão que se põe agora ao Benfica é saber como irá lidar com este desaire e aproximação do FC Porto. É que o mês de fevereiro será duro, especialmente a próxima semana, pois joga a continuidade na Taça de Portugal com o Famalicão e depois recebe o Sp. Braga, um dia antes de os dragões irem a Guimarães.

A figura - Sérgio Oliveira

Fez uma primeira parte fantástica. Sérgio Conceição atribuiu-lhe um papel fundamental na estratégia, que era aparecer à entrada da área para aproveitar o seu bom remate. Acabou por abrir o marcador e esteve perto de voltar a fazer o gosto ao pé num livre. Além disso, foi uma espécie de pivô do meio-campo do FC Porto com a missão também fazer circular a bola, dar critério ao jogo da equipa e abrir os espaços na defesa do Benfica.

VEJA O RESUMO DA PARTIDA

FICHA DO JOGO

Estádio do Dragão, no Porto
Árbitro: Artur Soares Dias (Porto)

FC Porto - Marchesín; Jesús Corona, Pepe (Mbemba, 69'), Marcano, Alex Telles; Otávio (Vítor Ferreira, 85'), Mateus Uribe, Sérgio Oliveira, Luis Díaz; Marega (Wilson Manafá, 81'), Soares
Treinador: Sérgio Conceição

Benfica - Vlachodimos; André Almeida (Dyego Sousa, 85'), Rúben Dias, Ferro, Grimaldo; Pizzi, Weigl (Samaris, 76'), Taarabt (Seferovic, 66'), Rafa Silva; Chiquinho, Carlos Vinícius
Treinador: Bruno Lage

Cartão amarelo a Otávio (27'), Taarabt (27'), Weigl (30'), Ferro (37'), Soares (38'), Pizzi (45'+4), Vlachodimos (65'), Sérgio Oliveira (84') e Marchesín (86')

Golos: 1-0, Sérgio Oliveira (10'); 1-1, Carlos Vinícius (18'); 2-1, Alex Telles (38' gp); Rúben Dias (44' pb); 3-2, Carlos Vinícius (50')

FILME DO JOGO

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