Draghi falha acordo e deixa Itália mais perto das urnas

Três partidos não votaram a moção de confiança no Senado, que ainda assim passou. Primeiro-ministro fala hoje com o presidente.
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"Dia de loucura", resumiu o líder do Partido Democrático, Enrico Letta, sobre o que aconteceu ontem em Itália. O primeiro-ministro, Mario Draghi, foi ao Senado dizer que se os partidos chegassem a acordo para um novo pacto de governo, estava disponível para continuar no cargo - do qual se demitiu há uma semana, sendo travado pelo presidente Sergio Mattarella. Mas o acordo revelou-se impossível. Ainda assim, no final do dia, Draghi conseguiu ganhar a moção de confiança ao Executivo. Hoje irá à Câmara dos Deputados, onde um outro voto de confiança estava previsto, mas deve anunciar antes a demissão e seguir para o palácio presidencial para a oficializar, deixando Itália à beira de eleições antecipadas.

"A única forma de seguirmos em frente se queremos continuar juntos é reconstruir um novo pacto de governo com coragem, altruísmo e credibilidade", disse Draghi aos senadores. "Estão preparados? Não devem esta resposta a mim, mas a todos os italianos", acrescentou "Super Mario", como é conhecido, lembrando que a "Itália é forte quando está unida".

O ex-presidente do Banco Central Europeu foi chamado em fevereiro de 2021 para liderar um governo de união nacional com todos os partidos - a exceção foram os Irmãos de Itália, de Giorgia Meloni (extrema-direita).

A ideia de um novo pacto de governo não agradou a todos. As formações de direita - a Liga, de Matteo Salvini, e a Força Itália, de Silvio Berlusconi - deixaram claro que só aceitavam se o Movimento 5 Estrelas (M5E), de Giuseppe Conte, ficasse de fora. Foi este partido que desencadeou esta crise, rejeitando votar na semana passada uma moção de confiança ao governo, depois de Draghi ter avisado que pediria a demissão se isso acontecesse. E cumpriu a palavra, com o presidente a travá-lo, pedindo que voltasse ao Parlamento para ver se era possível uma solução.

No final do dia de ontem, antes de serem chamados a votar no Senado a moção de confiança ao governo, os três partidos avisaram que não iriam estar presentes. Apesar disso, Draghi obteve a confiança, com 95 votos a favor e 38 contra, tendo havido quórum porque estavam presentes na sala mais cerca de 60 deputados do M5E que simplesmente não votaram. O Senado tem 321 lugares e estavam presentes 192 senadores.

Draghi deixou o Senado e especulava-se que fosse direto ao palácio presidencial apresentar de novo a demissão a Mattarella. Contudo, a indicação dada pelos media italianos é que a agenda para hoje se mantinha: a de ir à Câmara dos Deputados a partir das 9.00 horas locais (8.00 em Lisboa), estando previsto um novo voto de confiança às 13.45. Mas a votação pode até nem acontecer, com o primeiro-ministro a limitar-se a informar os deputados de que não tem condições para continuar, e seguir diretamente para o palácio presidencial, de forma a oficializar a demissão.

"Neste dia de loucura, o Parlamento decidiu ir contra Itália", disse Letta, alegando que "os italianos vão demonstrar nas urnas que são mais inteligentes do que os seus representantes." Ontem, já era dada praticamente como certa a possibilidade de Itália ir a eleições no final de setembro ou início de outubro, seis meses antes do esperado.

susana.f.salvador@dn.pt

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