Dos títulos ao dinheiro: o que está em causa na cimeira de Sandringham?
A "cimeira de Sandringham", como já foi apelidada pelos media britânicos, foi convocada pela rainha Isabel II depois do anúncio surpresa dos duques de Sussex do desejo de terem um papel menor dentro da família real, dividindo o seu tempo entre o Reino Unido e a América do Norte e procurando ser financeiramente independentes.
O anúncio de Harry, de 35 anos, e de Meghan, de 38, no Instagram e na página de Internet do casal, foi feito sem consultar a monarca ou o príncipe Carlos, desencadeando uma crise dentro da família real.
O encontro realiza-se esta segunda-feira, mas não se sabem pormenores nem se haverá uma decisão no final do dia.
Na reunião, destinada a afinar os pormenores sobre o papel futuro de Harry e Meghan e pôr fim à crise, estão a rainha, o príncipe herdeiro, Carlos, o príncipe William e o próprio Harry. Segundo os media britânicos, Meghan poderá ser chamada a participar via videoconferência a partir do Canadá, para onde viajou para estar com o filho, Archie.
A rainha quer uma decisão no espaço de "dias, não semanas", mas esta "demorará tempo a ser implementada", segundo o Palácio de Buckingham. Mas o que está em causa?
Um dos temas a decidir não é se mantêm ou não o título de duques de Sussex (que a rainha lhes atribuiu quando casaram, em 2018), mas se continuam ou não a ser chamados de "Suas Altezas Reais". Harry é atualmente sexto na linha de sucessão ao trono britânico, atrás do pai, do irmão mais velho e dos três filhos deste.
Os duques disseram que queriam continuar a representar a rainha em viagens oficiais, quando a monarca o entender. Poderá ser pensado para ambos um papel de maior relevância dentro da Commonwealth (Harry já é presidente do Fundo da Commonwealth), sendo que isto poderia significar manterem o título de Altezas Reais enquanto vivem no Canadá.
Uma das razões para Harry e Meghan quererem afastar-se do trabalho de dia a dia da família real é por causa da pressão mediática, sendo que o duque sempre culpou os media pela morte da mãe, a princesa Diana, num acidente de carro em Paris em 1997, quando era perseguida pelos paparazzi. O casal já apresentou queixa contra jornais britânicos pela cobertura que consideram intrusiva, acusando-os até de abuso com "toques racistas" em relação a Meghan.
Como membros d'A Firma (como é conhecida a família real), os duques de Sussex recebem uma parte do dinheiro que é pago pelos contribuintes britânicos à rainha Isabel II para cobrir os seus gastos oficiais. No último ano fiscal, a rainha recebeu 82 milhões de libras (95 milhões de euros) dos contribuintes para gastos oficiais, mas quanto é que Harry recebe não é conhecido. O casal diz que o valor cobre 5% dos custos da gestão dos seus papéis na família real.
A maior parte do dinheiro que Harry recebe vem do Ducado da Cornualha, a propriedade gerida pelo pai, o príncipe Carlos, enquanto príncipe herdeiro. No último ano rendeu cerca de 21,6 milhões de libras (25 milhões de euros). Quando Carlos suceder à rainha, este passará para as mãos de William. É com o dinheiro do ducado que Carlos financia muitas das suas atividades, assim como dos filhos.
Da mãe, a princesa Diana, Harry herdou mais de sete milhões de libras (8,1 milhões de euros), que incluirá joias e propriedades, entre outros bens. Também herdou dinheiro da bisavó, a rainha-mãe. Já a carreira de sucesso de Meghan, enquanto atriz, implica que também era milionária quando casou com Harry.
Os duques de Sussex podem querer abdicar do dinheiro que recebem da rainha, deixando de depender dos contribuintes, mas dificilmente vão querer abdicar do que recebem do príncipe Carlos. Harry e Meghan foram criticados quando gastaram mais de dois milhões de libras (2,3 milhões de euros) na remodelação da casa que lhes foi oferecida pela rainha, Frogmore Cottage. Os duques querem que esta continua a ser a sua base, quando estiverem no Reino Unido, mas que a decisão caberá à monarca.
Os duques dizem querer ter "a oportunidade de ganhar um rendimento profissional", algo que não é permitido à família real que tem que manter a sua independência e garantir que não há conflito entre o trabalho de caridade e os interesses comerciais. No final do ano passado, o casal registou a marca "Sussex Royals", o nome do seu Instagram e da organização de caridade que pretendem lançar este ano, mas que incluirá também a venda de roupa ou materiais de escritório ou "grupos de apoio emocional".
Uma forma de ganharem dinheiro poderá ser através de discursos públicos e conferências, à semelhança do que acontece por exemplo com o ex-presidente Barack Obama.
O facto de ganharem dinheiro implica que vão ter que pagar impostos, sendo que poderá haver aqui também problemas: serão pagos no Reino Unido ou no Canadá, onde aparentemente querem viver.
Apesar de poderem abdicar do dinheiro que recebem diretamente dos contribuintes, os duques de Sussex vão continuar a pesar na carteira dos britânicos. Desde logo no que diz respeito às visitas oficiais que podem continuar a fazer em nome da rainha, mas também no que diz respeito à segurança pessoal.
A segurança da família real é garantida por uma unidade especial dentro da Scotland Yard, cujos custos são cobertos pelos contribuintes britânicos. Se forem viver para o Canadá, o custo de segurança poderá recair sobre os canadianos, membros da Commonwealth.