Miguel, Luís e Alexandre acham que os dicionários físicos já não correspondem às exigências dos tempos modernos, e que os digitais também podem ser melhorados. Por isso, querem criar os "dicionários do futuro". A ideia consiste numa app - a Influx - que permite consultar o significado de palavras através da câmara do telemóvel, por texto ou de uma pesquisa por voz. Por exemplo, se estiver a ler um livro, basta apontar a câmara do smartphone para uma palavra para saber qual o seu significado..O projeto dos três alunos que no ano letivo passado frequentaram o 12.º ano da Escola Secundária Quinta do Marquês, em Oeiras, é um dos 22 finalistas da 4.ª edição do Apps for Good, cujos resultados são conhecidos hoje, na Fundação Calouste Gulbenkian. Criado há cinco anos pelo CDI (Centro de Cidadania Digital) Portugal, este é um programa que pretende seduzir jovens (entre os 10 e os 18 anos) e professores para a utilização da tecnologia como forma de resolver problemas sociais, propondo um novo modelo educativo mais intuitivo, colaborativo e prático..Fátima Santana, professora de Aplicações Informáticas B, é a team leader na secundária Quinta do Marquês. "Desafiei as minhas turmas, e todas quiseram participar. Formalmente, quatro decidiram submeter os projetos ao concurso. E três ficaram apuradas para a final", diz ao DN. Além do projeto Influx, existem outros dois na final, ambos da autoria de alunos que no ano passado frequentavam o 12.º ano da área de Ciências e Tecnologias..Distractionless foi a app desenvolvida pelo grupo de Duarte Elvas, de 17 anos, que neste momento já se encontra a frequentar o ensino superior. Numa conversa telefónica com o DN, o jovem explica que se trata de uma aplicação que ajuda a aumentar a concentração de quem estuda ou trabalha, eliminando algumas distrações. Como? "Permite ativar um timer durante o qual o utilizador não recebe notificações no telemóvel. É como um modo de avião, mas mais sofisticado." Quando alguém tenta contactar o utilizador, recebe uma mensagem dizendo que este se encontra naquele modo. Contudo, tem a possibilidade de enviar um SMS com o texto "urgente", que será recebido pelo usuário.."É como se estivéssemos desligados do mundo, mas há maneira de nos contactar", destaca Duarte Elvas, acrescentando que a app tem um caráter solidário, já que, através de anúncios, será possível angariar dinheiro para oferecer a instituições de caridade..Na mesma escola, a Joana, o Tomás e a Carolina quiseram tornar a leitura da obra O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago, mais apelativa. "A obra foi introduzida no ano passado e eles quiseram arranjar uma forma de tornar o seu estudo mais interessante", recorda Fátima Santana. Para isso, desenvolveram a app 1936, que disponibiliza dois roteiros pela cidade de Lisboa, seguindo os passos da personagem principal da obra..Já os alunos da Escola Secundária Serafim Leite, em São João da Madeira, chegaram à final com o WYW Umbrella, um projeto que permite saber como está o tempo e obter um guarda-chuva na máquina mais próxima que alguém encontrar. De acordo com a ideia destes jovens, o objetivo é que, quando o tempo melhorar, seja possível devolver o guarda-chuva..Pela Gulbenkian passam, ainda, outras ideias promissoras como uma app que pretende facilitar a vida a todas as pessoas que necessitem de pequenas reparações ou serviços em casa; outra que agrega e disponibiliza informação sobre a capacidade dos parques de estacionamento e de lugares vagos; ou uma app que notifica utentes e cuidadores para a necessidade de tomar medicação..Alterar o modelo educativo.Desde que foi implementado em Portugal, a convite da Direção-Geral da Educação, o Apps for Good já envolveu 6698 alunos, 571 professores e 232 escolas. Segundo João Baracho, diretor executivo do CDI, "o objetivo mais direto é o desenvolvimento de uma app com uma base de sustentabilidade, ao longo de todo o ano letivo". Que os alunos sintam que podem mudar o mundo. Para isso, têm acesso a conteúdos online com uma metodologia de projeto de cinco passos, bem como a uma rede de especialistas que se ligam online à sala de aula, para prestar todo o apoio de esclarecimento de dúvidas..O modelo de implementação poderá ser em regime curricular ou extracurricular, conforme for decidido pelas escolas. E a ideia não é que os estudantes se tornem programadores. "O objetivo é seduzir alunos e professores para a tecnologia, não numa ótica de serem engenheiros informáticos, mas de otimizarem as profissões que possam vir a ter", explica este responsável..O objetivo macro, adianta, é "a alteração do modelo educativo", já que "o professor deixa de ser líder para passar a ser um facilitador". Forma uma equipa com os alunos, para que juntos resolvam um problema..Emerência Teixeira, professora de Biologia na Escola Básica e Secundária Levante da Maia que coordenou a criação da app Refood - uma das finalistas -, confirma: "É certo que tenho uma responsabilidade acrescida, mas estávamos todos no mesmo patamar. Eu orientava a aprendia com as alunas. Estivemos durante o ano todo a descobrir como é que isto funcionava. Foi muito aliciante.".As finalistas da Maia - Ana Rita, Bárbara, Maria e Luísa - começaram com uma ideia relacionada com o ensino superior, mas, ao fim de dois meses, perceberam que não era viável. Como a escola é vizinha de um núcleo da Refood (que distribui o excedente de restaurantes, cafés, hotéis, por quem necessita), decidiram fazer uma app que os ajudasse. Inicialmente era para ser uma plataforma para voluntários, mas acabou por ser mais abrangente: "É um canal de comunicação entre os responsáveis da Refood, voluntários, beneficiários e fontes de alimentos." Além disso, permite fazer donativos, em dinheiro ou em géneros..Entre as principais competências desenvolvidas pelos alunos, João Baracho destaca benefícios ao nível da autoconfiança, da resiliência e da motivação para a aprendizagem..No total, serão atribuídos seis prémios: os do pódio (1.º, 2.º e 3.º prémios), o Prémio Tecnológico, o Prémio do Público e o Prémio Jovem Aluna.pt..Entre outras personalidade, o evento conta com a presença do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, do diretor-geral da Educação, José Vítor Pedroso, do administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, Pedro Norton, e da CEO do Apps for Good, Iris Lapinski.