Dos cravos às D. Maria. Olha, as sardinhas vencedoras
Vai um pezinho de dança? As Donas Maria dizem que sim. Já Clara Leitão diz-se "um bocado pé de chumbo". É dela uma das cinco sardinhas vencedoras do concurso deste ano das Festas de Lisboa. Sim, a sardinha Donas Maria, a que pinta um dos retratos mais tradicionais dos bailaricos animados das festas de verão. Ao som da música, elas fazem pares com elas quando não há homem com vontade de dançar. "Acho muito giro. É uma homenagem a todas as senhoras", diz Clara, 20 anos e estudante de Design Têxtil na Escócia.
A Clara juntam-se Diogo Matos, Alessandra Cavalcanti, Natalie Mavrota e Olga Shtonda. Cada um vai receber um prémio de dois mil euros, mas talvez a recompensa maior seja o terem sido escolhidos entre as 8897 propostas que chegaram à Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), responsável pelo concurso que já vai na sexta edição. Se o número de propostas parece impressionante, também o é a representação mundial dos candidatos: 70 países, desde a Coreia do sul à República Checa.
[destaque:8897 propostas oriundas de 70 países, da Coreia do Sul à República Checa, da Áustria a Singapura]
Foi a primeira vez que Clara concorreu. "Sempre gostei muito de desenhar e de ilustração. A inspiração veio das festas populares, que tenho visto. Quando a minha irmã me falou do concurso achei giro, que era uma oportunidade de levar a arte para a rua", conta. Quando fez o desenho mostrou-o à família e a alguns amigos. Poucos, porque é "envergonhada nestas coisas". E nunca mais se lembrou. "Foi uma surpresa quando soube. É ótimo."
Nunca viram os santos populares
Diogo Matos, 20 anos, foi forçado a trocar a apresentação dos vencedores, ontem no Museu da Cidade, por uma frequência de Geometria. É do Porto, está no 1.º ano de Design Gráfico e foi a primeira vez que concorreu. Nunca esteve nos santos populares em Lisboa, mas valeu a Casa Portuguesa de inspiração para um trabalho da faculdade que acabou por se tornar muito mais do que isso. "O professor disse para desenharmos uma sardinha e quem quisesse podia submetê-la a concurso. O objetivo era transmitir o ambiente de uma casa portuguesa. Muitas coisas, empilhadas, objetos que nunca faltam. Por isso está o disco de vinil de Marco Paulo, a jarra com flores, o relógio e o quadro do Menino da Lágrima."
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Diz-se surpreendido por ser um dos vencedores e quando recebeu o e-mail demorou dois dias a perceber que era verdade. "No dia em que soube dos vencedores, tive aula com o professor e estivemos a analisar todas as sardinhas. Achei que a minha não estava assim tão boa e até fiquei um bocado desmotivado. Depois vi o e-mail e fiquei muito contente." Alegria partilhada depois com o professor.
Alessandra Cavalcanti, 36 anos, é ilustradora, e à segunda foi de vez. Corre Que a Festa já Começou. E correu tão bem que a sardinha é uma das vencedoras. "Fiquei muito surpreendida com a vitória e extremamente feliz com a participação. A inspiração surgiu a partir de um exercício pessoal sobre dinamismo e exploração de técnicas artísticas e apliquei o resultado no sentimento de alegria e entusiasmo com o início das festas populares", diz Alessandra, que vive em São Paulo, no Brasil. Soube do concurso pelo Facebook e registou-se para receber a newsletter. "Não conheço as Festas de Lisboa e os santos populares. Infelizmente não poderei ir a Lisboa neste ano, mas acompanharei tudo pela internet."
O Bouquet de Cravos veio diretamente de Atenas, Grécia. Foi uma estreia em grande para Natalie Mavrota, 21 anos. Estudante do último ano de Design Gráfico, soube do concurso através de uma amiga. E de onde veio a inspiração? "De uma conversa que tive uma vez com uma amiga portuguesa sobre o cravos e o que significavam para a cultura grega e para a portuguesa. O simbolismo é tão fascinante e poderoso que decidiu fazer um bouquet de cravos", conta Natalie, referindo que ser uma das vencedoras "foi uma surpresa e uma grande honra". Já esteve em Lisboa, mas as Festas nunca as viu. "Mas estou a planear fazer uma visita em junho."