Dormir bem antes de tomar a vacina da gripe ajuda a aumentar a sua eficácia, dizem especialistas
Para que a vacina da gripe seja de facto eficaz é importante que durma bem nas noites anteriores à sua toma, dizem os especialistas. Uma boa noite de sono pode mesmo ajudar a aumentar a eficácia da vacina da gripe, que neste ano ganha particular relevância em plena pandemia de covid-19, com as autoridades da saúde a reforçarem o apelo para a vacinação, uma vez que diminui os sintomas da gripe e previne contra o desenvolvimento de doenças do foro respiratório.
Ter uma boa "higiene do sono" é importante para que a vacina contra a gripe seja eficaz, considera o especialista Matthew Walker, autor do livro Porque Dormimos?, em declarações à CNN.
Ao programa Amanpour da estação de televisão norte-americana, o especialista em sono da Universidade de Berkeley, na Califórnia, explica que dormir mal nas semanas anteriores à toma da vacina pode reduzir em 50% a produção de uma normal resposta de anticorpos, o que tornaria a vacina ineficaz. Logo é fundamental dormir bem para potenciar os efeitos da inoculação.
O especialista na relação entre sono e saúde humana na Universidade de Berkeley, na Califórnia, cita estudos realizados sobre esta temática que suportam a conclusão de que dormir bem nas noites anteriores à toma da vacina da gripe é critíco para a eficácia do fármaco. Um dos estudos foi publicado neste ano no International Journal of Behavioral Medicine.
Mas há mais em desenvolvimento. O Instituto de Pesquisa do Exército Walter Reed está a levar a cabo estudos que investigam a relação entre o sono e a imunidade, o que pode representar um grande avanço em relação ao conhecimento da nossa resistência ao SARS-CoV-2, realça Matthew Walker.
"Precisamos de estudar, saber se existe essa mesma relação entre o sono e o sucesso da vacinação contra a covid-19, porque se existir" poderá representar uma mudança de jogo no combate à pandemia, afirmou o especialista.
A importância de uma boa noite de sono tem efeitos no fortalecimento do nosso sistema imunitário, uma vez que durante o sono o nosso organismo vai-se reparando ao nível das células. Walker refere que "indivíduos que dormem menos de sete horas por dia têm três vezes mais probabilidade de serem infetados" pelo vírus da gripe. "Sabemos que os que dormem cinco horas ou menos por noite têm 70% mais probabilidade de contrair pneumonia."
A falta de sono está relacionada com o défice de concentração, de irritabilidade, com as alterações de humor e as perdas de memória. Há ainda hormonas dependentes do sono como a insulina (glicose no sangue), a tiroide, a leptina e a grelina (apetite).
Em declarações ao DN, no ano passado, a neurologistra especializada em doenças do sono Teresa Paiva, afirmouque é importante dormir em média entre sete e oito horas. Uma noite descansada ajuda a consolidar a informação que recebemos durante o dia, os sistemas restabelecem-se, a pressão arterial e a frequência cardíaca diminuem e os músculos relaxam.
A especialista liderou o estudo "Covid, Sono, Saúde e Hábitos" que envolveu nove mil pessoas - a maioria profissionais da área da saúde e também doentes do sono, professores, bombeiros, que decorreu entre abril e setembro, tendo-se focado nos meses de confinamento e no estado de emergência.
Em entrevista ao DN, nesta terça-feira, a especialista refere que a pandemia "melhorou o sono de uns e piorou o de outros". "Muita gente melhorou porque pura e simplesmente começou a ter menos stress. E esses são os que faziam muitas horas de trabalho, iam levar e buscar os filhos à escola, andavam nas filas de trânsito. Essas pessoas deixaram de repente de ter esse stress no seu quotidiano e melhoraram muito. O sono piorou em média 10%. Nas respostas iniciais há 40% que dizem que estavam fartos do confinamento, 15% que fizeram descobertas importantes e 30% dizem que se sentiram bem no confinamento."
Mas se o estudo fosse feito agora, possivelmente os resultados seriam piores por causa da perceção de que a pandemia vai durar mais tempo do que muitas pessoas esperavam e por causa da instabilidade económica. "A crise económica teve paliativos até agora e vão ser cada vez menores. Esse problema concreto vai provocar mais insónias do que a própria covid. Daqui para a frente penso que as coisas vão piorar", referiu.