Moro abandona corrida à Presidência e Doria ameaça sair mas fica

Ex-ministro muda de partido e opta por candidatura ao Congresso. Governador de São Paulo continua mas só depois de se impor ao partido. Sintomas da crise na "terceira via" a Lula e Bolsonaro.
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O Brasil foi surpreendido nesta quinta-feira, dia 31, com as notícias, quase simultâneas, da possibilidade dos mediáticos João Doria e Sergio Moro desistirem da corrida ao Palácio do Planalto, marcada para 2 de outubro. O governador de São Paulo acabou por mudar de ideia a meio da tarde mas o ex-ministro da Justiça vai mesmo trocar de partido, do Podemos para o União Brasil, e de alvo, em vez do Planalto tentará ganhar um cargo legislativo no Congresso Nacional.

Os avanços e recuos são sintoma da crise na "terceira via", o caminho eleitoral de centro-direita entre Lula da Silva, de centro-esquerda, e Jair Bolsonaro, de extrema-direita. Nas sondagens, enquanto Lula está na casa dos 40% e Bolsonaro perto dos 30%, os representantes daquela via não chegam aos dois dígitos.

Segundo aliados, Doria estaria incomodado com setores do seu partido, o PSDB, que apoiam a candidatura de Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, em vez da sua, mesmo depois de ambos se terem enfrentado, em novembro, em prévias partidárias com vitória do primeiro.

Como, no entanto, o partido ficou dividido - o resultado, 54% a 45%, foi apertado - e como Doria registou meros 2% na sondagem presidencial da semana passada do Instituto Datafolha, o nome de Eduardo Leite voltou a ser equacionado.

Mas, logo após os rumores do abandono de Doria, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, apesar de ser apoiante de Leite, tentou colocar água na fervura para demonstrar uma réstia de unidade partidária. "Não há, nem haverá, qualquer contestação à legitimidade da sua [de Doria] candidatura pelo partido", escreveu, em nota.

Na sequência, Doria, que na véspera tinha transmitido a apoiantes que desistiria, aproveitou um evento partidário para se declarar candidato a presidente. "Quero demonstrar que há uma alternativa ao populismo no Brasil", disse.

Por lei, ele tem até dia 2, amanhã (seis meses exatos antes da data da primeira volta das presidenciais), para deixar o cargo de governador de São Paulo e poder concorrer ao Planalto.

O caso de Moro é diferente. Sem apoios partidários além do Podemos, a pequena formação que o acolheu, o ex-juiz também não avança nas sondagens - soma 8% das intenções de voto, a larga distância de Bolsonaro (PL) e maior ainda de Lula (PT).

Uma alternativa seria concorrer pelo Paraná, o seu estado natal, ao Senado mas essa vaga já está ocupada no Podemos por Álvaro Dias, candidato à presidência em 2018. Moro vai, portanto, tentar a câmara alta do Congresso Nacional mas pelo União Brasil, ao qual se deve filiar nos próximos dias.

Confirmada a saída de cena da corrida presidencial de Moro, sobra, além de Doria, Simone Tebet, senadora do MDB, como representante da tal "terceira via". A parlamentar, no entanto, não vai além de 1% nas sondagens pelo que seria necessário encontrar um vice-presidente que a ajudasse a alavancar a candidatura - o nome mais falado era o de Eduardo Leite, o tal rival interno de Doria que até já se desvinculou do governo do Rio Grande do Sul, mas a continuidade do rival partidário pode estragar-lhe os planos.

Ciro Gomes (PDT), que marca seis pontos nas sondagens, mantém a candidatura de centro-esquerda.

Notícia atualizada às 22h10

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