Doping: treinador acusado lança suspeitas sobre Bolt

Manuel Pascua Piqueras é o treinador de maior sucesso em Espanha. É também um dos arguidos da "Operação Galgo". O técnico nega alguma vez ter incentivado os seus atletas a recorrerem a doping e afasta quaisquer suspeitas sobre os seus pupilos, mas levanta questões sobre Usain Bolt e os outros velocistas jamaicanos na ribalta.
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Em entrevista ao diário desportivo AS, quando questionado sobre se algum atleta actual consegue "competir sem ajudas médicas especiais", Piqueras aponta o dedo a Bolt, campeão olímpico, campeão mundial e recordista do mundo nos 100m, 200m e 4x100m: "Se pensas que as marcas que faz Bolt as faz sem ajudas, és tonto: só os tontos acreditam nisso. Isso, sem ajudas, é impossível. Im-pos-sí-vel. E talvez possa haver um Usain Bolt. Bom, um. Mas quero ver quem explica como apareceram todos aqueles jamaicanos e jamaicanas, como por criação espontânea e repentina. Ou aqueles americanos da velocidade inteligente, com John Smith: antes mesmo do caso BALCO. E quando iam ali 'aprender' europeus como [Marie-José] Pérec ou o sueco [Sven Olof] Nylander, que fez as suas melhores marcas em 400 metros barreiras depois dos 35 anos."

O treinador considera que há "um sistema de influências" a nível internacional, que leva a que uns atletas sejam apanhados e outros não. Sistema este que, diz, "já existe há algum tempo, desde que, por exemplo, apanharam Ben Johnson em Seul 1988 [Jogos Olímpicos] e deixaram competir Carl Lewis, que não deveria ter podia fazê-lo por um positivo anterior". Piqueras mostra ainda ter dúvidas sobre as "lesões frequentes de algumas estrelas", que nesta temporada "competiram muito pouco": "Por exemplo, o próprio Bolt. E ficamos por aqui."

Piqueras foi detido pela Guarda Civil, no ano passado, quando acompanhava Alemayehu Bezabeh, detentor de três medalhas de ouro em campeonatos europeus de corta-mato que estaria alegadamente prestes a ser submetido a uma transfusão sanguínea, ministrada por Alberto León, ex-ciclista de BTT e principal operacional do esquema desmantelado na "Operação Galgo".

O técnico passou três dias detido e diz que não fala sobre os actos judiciais em curso por decisão dos seus advogados. Mas diz que viveu nos últimos meses uma situação "sem garantias e em condições" piores que na altura da ditadura de Franco. E nega ter comandado um esquema de dopagem para os seus atletas. "Nunca droguei ou dopei ninguém; de todos os que se falou durante este tempo, de todos os meus atletas, a nenhum conseguiram sacar um controlo positivo, o que já não se pode dizer de outros. E ninguém conseguiu demonstrar, sinto muito, que o de [Alberto] Contador, por exemplo, não foi um controlo positivo. Falam dos seus poucos picogramas de clembuterol... e Josephine Onyia foi suspensa por dois anos com menos picogramas do mesmo", atirou.

Durante a entrevista, Piqueras é confrontado com uma gravação da Guarda Civil espanhola na qual o treinador conversa com uma atleta sobre substancias dopantes. O treinador diz que se tratou de "uma atleta com experiência e títulos que insistiu em de que necessitava de ganhar" nem que fosse com dopagem. Piqueras alega que lhe explicou apenas o que é cada uma das substâncias mais conhecidas, os efeitos secundários e se são detectáveis. "Foi uma conversa coloquial entre uma atleta e um treinador que deve estar ao corrente das situações; em nenhum caso o fiz [a dopei], nem digo que o faça", vincou.

Em relação às conversas gravadas com Eufemiano Fuentes, um dos alegados cabecilhas da rede de doping, o técnico diz que se tratou do reatamento de uma relação entre um ex-pupilo e o seu antigo treinador que esteve interrompida durante 20 anos. Piqueras aproveita ainda a entrevista para criticar o que se escreveu nos jornais sobre Marta Domínguez, também arguida no processo criminal. "Quando é que a Marta teve um controlo positivo? Faltaram-lhe ao respeito pelas suas garantias e pela presunção de inocência."

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