Doping: cai acusação de tráfico contra campeã mundial
O arquivamento provisório foi decidido pela juíza Mercedes Pérez Barrios, titular do tribunal de instrução criminal número 24 de Madrid, na sequência dos relatórios da Agência Espanhola do Medicamento (AEM), da Agência Estatal Antidopagem (AEA) e do laboratório antidoping de Colónia, na Alemanha. Nenhum destes organismos encontrou anabolizantes (trembolona, testosterona ou nandrolona) nos comprimidos que Marta Domínguez fez chegar a Alberto García. Foi o antigo campeão europeu dos 5000m que disse, no primeiro interrogatório feito pela Guarda Civil, que os comprimidos apreendidos pelos agentes tinham trembolona. García desmentiu esta versão perante a juíza de instrução criminal.
A decisão de arquivar provisoriamente esta acusação foi noticiada pelo El Mundo e confirmada à agência EFE pelo Tribunal Superior de Justiça de Madrid (TSJM). Este organismo realçou, no entanto, que a decisão refere-se exclusivamente ao suposto delito de tráfico de dopantes e que continuam abertos os processos contra Marta Domínguez por alegado delito fiscal e fornecimento e administração de um medicamento, sem receita médica, ao seu colega de treino Eduardo Polo.
Escutas, vigias e frascos apreendidos
A acusação que agora foi arquivada teve origem em conversas telefónicas e mensagens trocadas por Marta Domínguez e Alberto García, nas quais eram referidos o "ouro" e o "rum", termos que a Guarda Civil desconfiou tratar-se de códigos para substâncias dopantes. Os agentes montaram uma operação para documentar o momento em que a atleta entregou o frasco dourado, com o "ouro", ao seu agente, Alonso Valero, no dia 17 de Novembro. Este foi interceptado no carro, mas os comprimidos não foram apreendidos, pois a Guarda Civil esperou que García fosse buscar o "ouro" à casa de Valero. Quando revistaram a residência de García, os agentes apreenderam "três frascos de cor castanha com tampas douradas", com a substância suspeita, contam El Mundo e EFE.
Apesar de a Guarda Civil considerar que tinha descoberto um esquema de tráfico de dopantes, as suspeitas começaram a desmoronar-se quando a AEM não detectou anabolizantes nos comprimidos. O mesmo aconteceu na AEA, organismo rotinado na detecção de substâncias proibidas. Os resultados foram também confirmados pelo laboratório antidoping de Colónia, o mesmo que foi capaz de encontrar vestígios ínfimos de clembuterol na urina do vencedor da Volta à França, Alberto Contador. Nos frascos apreendidos "não foi encontrado nenhum dos produtos dopantes proibidos na regulamentação espanhola", esclarece o TSJM.
Segundo triunfo de Marta Domínguez
A atleta, vice-presidente da Real Federação Espanhola de Atletismo (RFEA), suspensa preventivamente do cargo, sempre defendeu que o que enviara a García era um recuperador muscular que comprara nos EUA e que é vendido em Espanha como "cobre-ouro-prata", descreve o diário madrileno. Tratou-se do segundo acto da juíza favorável à atleta: em Janeiro, Pérez Barrios decidiu dividir o caso em quatro processos paralelos, não incluindo Domínguez nos autos relativos ao alegado cabecilha da rede de dopagem, o médico Eufemiano Fuentes, também peça central de outro esquema de doping desmantelado pela Guarda Civil, na "Operação Puerto".
Quanto à acusação de dopagem de um colega de treino, Marta Domínguez argumenta que foi um tratamento que é autorizado pela RFEA e que ela própria foi aconselhada pela federação a cumprir essa técnica para combater uma lesão no ano passado.
A "Operação Galgo" tornou-se do conhecimento público quando, em Dezembro, foram detidas 14 pessoas por alegadas ligações a esta rede, incluindo Marta Domínguez, Alberto García, Eufemiano Fuentes e Manuel Pascua Piqueras, o treinador espanhol com mais sucesso, e a sua mulher, Maria José Martínez, que chegaram a treinar os portugueses Francis Obikwelu e Carla Sacramento.
Lista de detidos
Madrid:
- M.L.S e M.C (farmacêuticas e fornecedoras de dopantes)
- P.M.R. (intermediário na compra e venda de dopantes);
- César Pérez (treinador de atletismo, técnico de Marta Domínguez)
- Alberto León (ex-ciclista de BTT, um dos cabecilhas da rede, encarregue de administrar as técnicas de dopagem aos clientes, envolvido no caso Puerto)
- José Alonso Valero (agente de Marta Domínguez)
- Manuel Pascua Piqueras (treinador de atletismo)
- Maria José Martinéz (treinadora de atletismo, esposa de Manuel Pascua Piqueras)
(Manuel Pascua Piqueras e Maria José Martinéz chegaram a treinar os portugueses Francis Obikwelu e Carla Sacramento)
- Alberto García (atleta, campeão europeu dos 5000m em 2002)
Las Palmas:
- Eufemiano Fuentes (médico, cabecilha do esquema e também da rede desmantelada em 2006 na Operação Puerto)
- Yolanda Fuentes (irmã de Fuentes, cabecilha da rede, envolvida no caso Puerto)
Alicante:
- M.B. (fornecedor de substâncias dopantes)
Segovia:
- José Luis Pascua Piqueras (irmão de Manuel Pascua Piqueras, preparador físico e treinador de ciclismo)
Palencia:
- Marta Domínguez (atleta, campeã mundial dos 3000m obstáculos, vice-presidente da federação de atletismo, fornecedora de dopantes)