Domingo foi o segundo dia de verão mais mortal do século
Se sábado, dia 4, foi o dia mais quente dos últimos 18 anos, domingo, dia 5, foi o que registou um dos valores de mortalidade mais altos desde 2000, referente ao período de verão: mais de 480 óbitos, a maioria (366) na faixa etária com mais de 75 anos e na região de Lisboa e Vale do Tejo (210).
De acordo com os dados, que são provisórios, da plataforma do Ministério da Saúde de vigilância eletrónica que publica em tempo real os certificados de óbitos emitidos, SICO/eVM, até às 16:57 desta terça-feira foram registados no domingo 483 mortes, ou seja, mais 144 do que no sábado, dia em que morreram 339 pessoas. Na segunda-feira, dia 6, o número de óbitos situava-se nos 455, mais 116 do que no dia mais quente deste ano.
Valores "esperados tendo em conta o fenómeno de temperatura extrema adversa", afirma ao DN Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, referindo que os números de óbitos apresentados "não são todos pelo calor". "Estamos a falar de óbitos totais do dia", esclareceu.
A responsável explicou ainda que há dois tipos de fenómenos extremos de calor que têm influência "na saúde, doença e mortalidade". A onda de calor, em que durante seis dias consecutivos os valores estão cinco graus acima da média, e a subida abrupta da temperatura, de mais de 10 graus, que foi o que aconteceu este ano.
Em 2003, recorda Graça Freitas, a onda de calor originou valores de óbitos acima da média diária durante vários dias, sendo que o pior foi registado a 8 de agosto, com 464 óbitos. O mesmo se verificou em 2013, com a subida repentina da temperatura, em que o pior dia foi verificado a 8 de julho, com 498 óbitos, o valor mais alto em termos de mortalidade do século XXI no período de verão.
Este ano, as temperaturas extremas tiveram reflexo nos dados provisórios da mortalidade "passados uns dias", como mostram os números de domingo e segunda-feira, superiores aos de sábado, o dia em que os termómetros registaram os valores mais elevados. Durante estes três dias de calor intenso morreram mais de 1200 pessoas no país.
"Quando comparamos isto com os últimos quatro anos, desde 2014, a média de óbitos por dia, desde maio até à data, é de 270", refere Graça Freitas. "Quando comparada com as médias de outros dias desde maio, a diferença pode-se atribuir ao calor em geral", acrescenta a diretora-geral da Saúde, sublinhando que "cerca de 80% destes óbitos ocorreu em pessoas com mais de 75 anos e cerca de 50% em pessoas com mais de 85 anos".
Os valores registados nestes dias de calor extremo podem ficar, no entanto, atenuados, quando a análise é feita tendo em conta a quinzena, explica a diretora-geral da Saúde. Num período de quinze dias "vê-se o que é esperado e o que é observado e, às vezes, estes picos [de mortalidade] não aparecem refletidos na quinzena". Ou seja, pode haver dias em que é registado mais do que é esperado e depois dias em que acontece precisamente o contrário e, desta forma, os óbitos diários podem não ter a grandeza que os números agora apresentam.
Os dados mostram também que domingo foi o dia com mais mortes registadas deste ano. A 3 de janeiro, em pleno inverno, foram verificados 450 óbitos, o segundo valor mais alto de 2018. Aliás, este ano poderá bater os recordes de mortalidade. De janeiro até segunda-feira, dia 6, morreram cerca de 71 mil pessoas no país, mais 3 mil em relação ao mesmo período de 2017.
Questionada sobre se 2018 poderá ser o ano recorde de mortes em Portugal, Graça Freitas apenas diz que houve muita mortalidade no início do ano, entre janeiro e março, que esteve relacionada com "os efeitos do inverno tardio" e "a gripe de 2017".
A diretora-geral da Saúde sublinha, porém, que "os valores de mortalidade em Portugal têm estado estáveis".
O calor intenso que se fez sentir nos últimos dias fez também disparar as chamadas para o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). De acordo com informação de uma fonte oficial do INEM à Lusa, a procura dos serviços de emergência médica registou um aumento de 20% nas chamadas realizadas para os Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), "motivadas sobretudo pelo agravamento de situações de doença crónica".
Segundo o INEM, o aumento "muito substancial" do número de chamadas de emergência e a consequente ativação de meios "justifica-se pela onda de calor verificada nos últimos dias". Entre quarta-feira e domingo registaram-se 764 chamadas a mais por dia.
As temperaturas extremas levaram ainda a que o governo declarasse "situação de alerta" para o período entre quinta e segunda-feira, tendo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera colocado 11 distritos de Portugal continental em aviso vermelho devido ao calor extremo.
O calor, entretanto, já começou a abrandar. Para esta terça-feira, as previsões do IPMA já apontavam para uma descida de temperatura, que foi acentuada nas regiões do interior.
É mesmo esperado para esta quarta-feira a ocorrência de períodos de chuva fraca no Minho e Douro Litoral, estando prevista descida da temperatura mínima e máxima. De acordo com a página do IPMA, é esperado que os termómetros cheguem aos 32 º em Faro, Évora e Castelo Branco.