Dois cientistas portugueses vão ser Embaixadores da revista Science
"Isto foi completamente inesperado. Quando recebi o email tive de o ler várias vezes e só quando participei na primeira videoconferência com a Science é que vi que era realmente verdade". Henrique Veiga-Fernandes é um dos mais premiados cientistas portugueses, mas o contacto da revista Science com a nomeação para Embaixador desta prestigiada publicação científica surpreendeu-o e aumentou a responsabilidade, na comunidade científica, do imunologista, investigador principal e um dos diretores da Champalimaud Research.
Um convite e uma responsabilidade que também chegaram à investigadora Ana Paula Pêgo, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto. "Para mim é o reconhecimento do meu trabalho. E da importância da área dos biomateriais", diz ao DN a responsável no i3S pela investigação e desenvolvimento dos biomateriais, à escala nanométrica, e que já trabalha com a publicação norte-americana desde abril.
Com estas duas nomeações, Portugal passa a estar representado pela primeira vez no Conselho de Editores de Revisão da Science.
"Para mim é um tremendo orgulho. É uma das revistas científicas mais importantes do mundo", disse ao DN Henrique Veiga-Fernandes que vai ser conselheiro na suas áreas de especialização: imunologia e neuroimunologia.
Para o também diretor da Champalimaud Research esta decisão da revista norte-americana é o reflexo do caminho que a ciência portuguesa iniciou há alguns anos. "Há duas ou três décadas tivemos uma grande mudança na ciência com Mariano Gago [o primeiro ministro exclusivamente vocacionado para a área da ciência e da tecnologia e que ocupou essa pasta no XIII Governo, liderado por António Guterres, entre 1995 e 2002], com um grande investimento em recursos humanos que foram residir para fora de Portugal e estamos agora a ver o resultado desse investimento a longo prazo", sublinha.
Para Ana Paula Pêgo esta sua chamada ao Conselho de Editores de Revisão da revista é uma prova do bom trabalho efetuado até ao momento. "É o reconhecimento do trabalho que temos feito nesta área. No investimento que fizemos. Esta é uma ciência [biomateriais] com cada vez mais visibilidade e o desafio foi o de trazer a área para a revista, além da revisão", adiantou ao DN a investigadora. Considerando a Science a "melhor revista na área da ciência", explicou que terá duas funções nesta nova tarefa: tanto Ana Paula Pêgo como Henrique Veiga-Fernandes vão, nas respetivas áreas, fazer parte do grupo de cientistas a quem os responsáveis da revista pedem para verem os textos previstos para publicação de forma a analisarem a sua qualidade científica e se são, por exemplo, investigações de vanguarda.
A outra parte da colaboração passa por estarem atentos, nas suas áreas, a trabalhos que possam merecer publicação nas páginas da Science.
"Temos o papel de representar os interesses científicos da revista na comunidade científica e identificar investigações de ponta. Identificar estudos que possam ser transformadores", acrescentou o cientista da Fundação Champalimaud, onde trabalha desde 2016. Henrique Veiga-Fernandes é um dos cientistas nacionais mais premiados - recebeu, por exemplo, quatro bolsas do Conselho Europeu de Investigação, venceu os prémios Pfizer por três vezes. É licenciado em Medicina Veterinária pela Universidade de Lisboa e doutorou-se em Imunologia em Paris.
Ana Paula Pêgo é licenciada em Engenharia Alimentar pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica, e fez o doutoramento - química de polímeros e biomateriais, desenvolvendo um projeto para preparar tubos guia para promover a regeneração de lesões do sistema nervoso periférico - em Twente (Holanda).