A bastonária da Ordem dos Enfermeiros reiterou hoje no parlamento a denúncia de que há doentes privados de alimentação e medicação no Serviço Nacional de Saúde, afirmando que revelará ao Ministério Público qual o hospital em causa e detalhes do caso..Ana Rita Cavaco disse aos deputados da comissão parlamentar de saúde que a denúncia que fez no dia 12 de dezembro se baseia numa participação escrita, tecnicamente fundamentada, recebida na Ordem dos Enfermeiros no dia anterior.."No dia da denúncia, o serviço em causa tinha 24 doentes para dois enfermeiros, não cumprindo a lotação segura", afirmou..De acordo com a bastonária, o serviço abriu sem material básico.."Já não falo na dignidade das pessoas, porque essa está no lixo, no Serviço Nacional de Saúde há muito tempo", declarou..A responsável foi chamada à comissão de saúde da Assembleia da República (AR) a pedido do CDS/PP, na sequência de uma denúncia que fez no mês passado sobre doentes que durante dois dias não receberam alimentação e medicação numa unidade de saúde..[artigo:5549908]."Aquilo com que me comprometi, quando tomei posse, foi falar verdade por todos nós", afirmou a bastonária, referindo ter "muito orgulho" nos profissionais que denunciaram, esta situação.."Estas denúncias estão a chegar à Ordem. Esta é também uma função social das ordens", sublinhou..A bastonária, em resposta aos deputados, acrescentou que o mesmo serviço tinha, na terça-feira (dia anterior à audição), 30 doentes internados para os mesmos dois enfermeiros..Ana Rita Cavaco disse ainda que contactou a administração do hospital quando recebeu a denúncia e que lhe foi negada a abertura do serviço..A responsável relatou que contactou a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e que foi feita à unidade uma visita durante a noite onde os factos relatados foram confirmados..Posteriormente, segundo contou a bastonária, foi feita uma visita oficial durante o dia, tendo sido encontrado material ainda embalado e já existiam cortinas a separar os doentes.."Este serviço abriu sem planeamento", acusou..Questionada pelos deputados, a bastonária disse que denunciou uma situação em concreto e que chegou ao conhecimento da ordem, e que não pode garantir se existem ou não outros serviços casos idênticos..Ana Rita Cavaco disse, porém, que alertou há nove meses para a falta de condições e recursos no Serviço Nacional de Saúde (SNS): "Tem efetivamente um cenário dramático neste momento", disse..A bastonária reiterou que houve falta de alimentação e medicação porque o serviço abriu sem condições.."Para nós, era um armazém de doentes. Não nos podem pedir para sermos coniventes com esta situação", referiu..A bastonária disse ainda que o hospital ficou de responder às questões suscitadas pela Ordem até ao fim do ano, o que não aconteceu, pelo que o caso será remetido ao Ministério Público com todos os detalhes..Em respostas às questões colocadas pelos deputados sobre as afirmações que proferiu no mês passado, nomeadamente pelo grupo parlamentar do PS, a bastonária disse: "Não sei se é do primeiro mundo esperar 11 horas numa urgência. Morrem 12 pessoas por dia por causa das infeções hospitalares"..Perante a insistência dos deputados, relativamente à identificação do hospital, Ana Rita disse que foi informada a tutela..No final da audição, a bastonária voltou a defender que há um "problema de organização e de subfinanciamento gravíssimo" no SNS.."É com muita tristeza que saio daqui e vejo que não são capazes de entender para um pacto para a saúde", concluiu.