Documentário sobre portugueses no Soho de Nova Iorque estreia no MoMA

<em>Portuguese from Soho - A story that changed geography</em> sobre a presença portuguesa neste bairro nova-iorquino, no século passado, estreia-se no Museum Of Modern Art no próximo dia 16 de abril.
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Com autoria de Ana Ventura Miranda e produção do Arte Institute, a estreia de Portugueses do Soho - Uma história que mudou de Geografia, contará com a presença da cantora Rita Redshoes, que vai interpretar a banda sonora do filme ao vivo, e do escritor José Luís Peixoto, que narra o documentário e é autor dos textos.

"Para o Arte Institute é sempre um grande orgulho mostrar filmes portugueses no MoMA. Ver este trabalho vasto, que tem como principal objetivo recuperar a herança portuguesa no Soho, homenagear estas pessoas extraordinárias e não deixar esta história inédita desaparecer sem ficar registrada, é uma emoção e orgulho muito grande", explicou à agência Lusa Ana Ventura Miranda.

A diretora do Arte Institute disse que "a estreia ainda vai ser mais emocionante, porque os portugueses retratados no filme vão estar a assistir."

Ana Miranda deparou-se com a história desta comunidade desconhecida, em Manhattan, quando se mudou para Nova Iorque, e encontrou uma portuguesa que era dona de um prédio de apartamentos na Broome Street.

"A ideia inicial era fazer algo sobre este prédio, porque eu morava nele e era muito interessante haver vários portugueses, a forma como ainda mantinham os seus costumes e a dona, a D. Maria, ter quase 90 [anos] e ser dona de um prédio no Soho", explica.

Depois da D. Maria e dos seus vizinhos do prédio, outros sinais da presença portuguesa começaram a surgir.

"Muitas vezes via alguns senhores com os típicos bonés portugueses sentados no parque e pensava: 'Parecem mesmo portugueses, lembram-me pessoas da terra da minha avó.' Até que percebi que eram mesmo portugueses", recorda.

A senhoria de Ana e estes homens do parque revelaram-se a indicação de uma presença portuguesa muito mais vasta, que, depois da Segunda Guerra Mundial, entre as décadas de 1960 e 1980, chegara a contar com cerca de 700 famílias .

"Parecia que tínhamos tirado uma cena de Portugal e a tínhamos colocado no Soho. Compreendemos que o filme era muito mais do que sobre o prédio da Maria", explica.

Quando a equipa começou a filmar, percebeu que a comunidade continuava a comprar jornais em português e 'papo-secos', em alguns dos pequenos supermercados que ainda se mantinham propriedade de portugueses.

No seu auge, a comunidade chegara a ter uma escola, igreja com missa em português, mercados, equipa de futebol e clubes recreativos.

Quando as fábricas em que trabalhavam os portugueses começaram a fechar e a zona se tornou uma das mais apetecíveis da cidade, as rendas altas acabaram por afastar os portugueses, que se foram mudando para Long Island e Nova Jérsia ou, depois de reformados, regressaram a Portugal.

Hoje, resistem cerca de 20 imigrantes, bem como dois pequenos mercados que vendem produtos portugueses e a imagem de Nossa Senhora de Fátima e os Três Pastorinhos, na fachada numa das igrejas.

Para recuperar esta herança, o Arte Institute criou no ano passado um evento que se chama "Portugal no Soho", e que vai ter a segunda edição este ano, nos dias 27, 29 e 31 de maio.

Além de recriar um dos clubes da comunidade e juntar artistas e músicos portugueses, no ano passado foi já mostrado um excerto do documentário. O mesmo aconteceu em todas as edições do NY Portuguese Short Film Festival.

"Em todos os lugares onde apresentámos o 'trailer', a reação foi sempre extraordinária. Acho que a verdade de todos os intervenientes passa tanto no filme que é impossível não nos ligarmos a estas pessoas e às suas histórias", acredita Ana Miranda.

Depois do MoMA o filme será mostrado em Berlim, com o apoio da Caixa Geral de Depósitos, depois em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, e, depois, fará o circuito do NY Portuguese Short Film Festival, que já conta com 14 países.

A responsável diz que outro "objetivo é entregar estas entrevistas a instituições americanas, para que fiquem com um registo da história portuguesa em Manhattan."

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