Donald Trump, que aos 70 anos foi o mais velho presidente dos EUA a tomar posse e tem agora 74, tem usado o argumento da idade para atacar o adversário às eleições de 3 de novembro - Joe Biden faz 78 anos no final de novembro. Daí que tenha insistido para que o democrata realizasse um teste às drogas antes do primeiro debate televisivo, alegando que ele usa alguma substância para melhorar o seu desempenho..Biden, que recusou fazer qualquer teste, terá uma hora e meia, sem intervalos, para provar que não está incapacitado para o cargo, como o presidente tem sugerido. E para tentar não responder aos ataques de Trump. "Espero não cair na armadilha deste tipo para uma briga, porque esse é o único lugar onde ele se sente confortável", disse durante um evento para arrecadar fundos na semana passada..Em vésperas do debate desta terça-feira à noite (já madrugada de quarta-feira em Lisboa), o ex-vice-presidente recebeu um importante trunfo: a investigação do jornal The New York Times que revelou que Trump só pagou 750 dólares ao fisco no ano em que chegou à Casa Branca, apenas um dos cinco nos últimos 15 anos em que pagou impostos federais. Algo que Trump já apelidou de fake news, apesar de recusar divulgar ele próprio os documentos, como têm feito desde a década de 1970 todos os presidentes..Mas será suficiente para vencer o duelo e, mais importante, as presidenciais?.O debate, numa universidade em Cleveland, será moderado por Chris Wallace, da Fox News (que já moderou há quatro anos um dos debates entre Trump e Hillary Clinton). Em cima da mesa estão seis temas previamente escolhidos: o balanço de cada um dos candidatos, o Supremo Tribunal, a pandemia de covid-19, a economia, temas raciais e a violência nos EUA, e a integridade das eleições..O primeiro tema é suficientemente abrangente para permitir a Biden atacar Trump na questão dos impostos e ao presidente usar o argumento da idade contra o ex-vice-presidente, que apelida há vários anos de "Sleepy Joe", ou "Joe dorminhoco".."Exigirei fortemente um teste antidrogas ao Sleepy Joe Biden antes ou depois do debate de terça à noite. Naturalmente, concordarei em fazer um também. As suas performances nos debates têm sido desiguais, para dizer o mínimo. Só as drogas poderiam ter causado esta discrepância???", escreveu Trump no Twitter no domingo. Já nesta segunda-feira, anunciou que Biden disse que não iria submeter-se a qualquer teste, "Sério?, pergunto-me porquê", indicou irónico..Twittertwitter1310211120922230784.Biden terá de garantir que não cometerá nenhuma gafe durante o debate. Se o fizer, esta será aproveitada até à exaustão pelos republicanos nos anúncios de campanha das próximas semanas - já o fazem com montagens de entrevistas ou intervenções em que o ex-vice-presidente parece perder o fio aos pensamentos. Mas o facto de Trump estar sempre a pôr em causa a sua capacidade pode beneficiá-lo, caso não cometa grandes erros..O democrata aproveitará a questão dos impostos para atacar Trump, mas tem de estar preparado para as respostas do presidente a apelidar os factos de fake news e evitar entrar em confronto direto com o republicano..Tem por exemplo que evitar cair na tentação de criticar a ala mais à esquerda do Partido Democrata (ligada ao senador Bernie Sanders ou à congressista Alexandria Ocasio-Cortez), na procura de conquistar os eleitores do centro, sendo que Trump acusa-o várias vezes de ser um "fantoche" dos "extremistas de extrema-esquerda". Mas também manter a calma quando o presidente puxar para o debate o seu filho, o lobista Hunter Biden, e os seus negócios na Ucrânia e na China..Outro argumento prende-se com os números da pandemia: são já mais de 200 mil os mortos nos EUA. O presidente tem sido criticado por desvalorizar a covid-19 desde o início, apesar de saber o perigo que aí vinha, e isso é algo que Biden não deixará de referir. Trump insistirá que salvou "milhões de vidas", assim como no facto de que criou "a maior economia da história"..Trump esperava usar o cenário de crescimento económico (que os especialistas dizem que herdou de Obama) para garantir a sua reeleição, mas a pandemia veio trocar as voltas, com o desemprego a atingir por exemplo valores históricos. Isso não abalará Trump, que insistirá num cenário positivo, por muito que Biden aponte para o negativo - e os seus assessores não querem que esteja simplesmente a fazer a "correção dos factos" do presidente, até porque corre o risco de se trocar em algum número.."A verdade é que a economia não estava a funcionar para as pessoas muito antes de esta crise chegar. É por isso que eu e a Kamala Harris [candidata a vice-presidente] não vamos apenas construir as coisas da maneira como estavam - vamos construir melhor. Não ficaremos satisfeitos até a economia começar a funcionar para toda a gente", escreveu Biden no Twitter..Twittertwitter1310313259656867840.A morte da juíza liberal Ruth Bader Ginsburg a poucas semanas das presidenciais abriu a porta a Trump, que nomeou o seu terceiro juiz para o Supremo Tribunal em apenas um mandato, colocando-o durante anos a pender para os conservadores. Neil Gorsuch foi nomeado logo em 2017 (depois de os republicanos terem travado Barack Obama de nomear um juiz no seu último ano de mandato) e Brett Kavanaugh, já em 2018..O presidente já nomeou a juíza conservadora Amy Coney Barrett (o Senado, onde os republicanos têm a maioria, terá de a confirmar) apesar das críticas dos democratas, que insistem que deve ser o vencedor das eleições de novembro a designar alguém para o cargo. Biden tem argumentado que Trump espera ter os números suficientes no Supremo Tribunal para acabar com o Obamacare (o plano de saúde aprovado na presidência de Barack Obama) e deverá repetir esta ideia no debate..Nas questões raciais e na violência, Trump deverá reforçar a imagem de "mão forte" contra o crime, defendendo como tem feito até agora as autoridades policiais - mesmo diante de vídeos de afro-americanos mortos às mãos de agentes - e optando por atacar os manifestantes responsáveis por atos de vandalismo nos protestos que se alastraram por várias cidades nos EUA..Os democratas não gostaram que os temas da discriminação racial viessem associados ao da violência, alegando que isso era já fazer juízos prévios, mas sem sucesso..Finalmente, na questão da integridade das eleições, Trump tem conseguido evitar comprometer-se com uma transição pacífica do poder em caso de derrota e deverá continuar a fazê-lo, optando por pôr em causa o sistema de votação por correio, que já está a funcionar em vários estados norte-americanos..O primeiro debate entre Trump e Biden surge numa altura em que muitos norte-americanos já estão de facto a votar ou já tomaram uma decisão em relação a quem vão entregar o seu voto. Daí que haja dúvidas sobre o impacto que o frente-a-frente terá..Há quatro anos, Hillary Clinton foi dada como a vencedora dos debates contra Trump - e o primeiro foi visto por 84 milhões de pessoas -, mas na noite eleitoral foi ele que conquistou a Casa Branca. Em 2016, só 10% dos eleitores disseram ter decidido em quem votar durante ou depois de um debate, segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Pew..Biden chega aos debates à frente nas sondagens a nível nacional e nos principais estados em disputa e não gera, entre os eleitores, os anticorpos que sempre gerou Hillary Clinton - ex-primeira-dama, ex-senadora e ex-secretária de Estado..O debate desta terça-feira (21.00 na costa leste dos EUA, 02.00 de quarta-feira em Lisboa) é o primeiro de três entre Trump e Biden. Todos terão hora e meia, sem intervalos..O segundo debate está marcado para dia 15 de outubro, em Miami (Florida), e será moderado por Steve Scully, do C-SPAN. Ao contrário do primeiro, em que os candidatos respondem às questões do moderador, Trump e Biden terão de responder às perguntas de eleitores indecisos do sul da Florida, que têm acesso antecipado aos temas que estarão em cima da mesa..O último debate entre ambos será a 22 de outubro, na Universidade Belmont, em Nashville (Tennessee). A moderadora será Kristen Welker, a correspondente na Casa Branca da NBC News. Haverá seis tópicos em discussão (15 minutos cada um), que serão anunciados uma semana antes..Além dos debates presidenciais, os candidatos a vice-presidente também terão um frente-a-frente televisivo. O duelo entre Mike Pence e Kamala Harris será no dia 7 de outubro, na Universidade do Utah em Salt Lake City. Susan Page, chefe da delegação de Washington do USA Today, será a moderadora e haverá nove temas em debate (dez minutos cada um).