Do bidé das marquesas às bolas-de-berlim. A moda da praia tem mais de 100 anos

Foi no final do século XIX que as férias junto ao mar se tornaram populares, primeiro nas classes mais elevadas e progressivamente para toda a população. Fomos à procura dessas e de outras histórias, tentando perceber o que mudou nas areias de algumas praias mais tradicionais de Portugal
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Em 1870, com o rei D. Luís, a família real chegou a Cascais para usufruir de umas férias à beira-mar. Com ela veio a corte. "Sem qualquer conforto, as principais famílias de Portugal irão ocupar, entre setembro e outubro, modestas casas de pescadores, de brancas paredes caiadas e soalhos gastos, onde destoavam certamente os criados de libré, as carruagens sumptuosas e as preciosas baixelas trazidas dos palácios de Lisboa", conta Margarida de Magalhães Ramalho na sua obra Estoril, a Vanguarda do Turismo. A história iria repetir-se nesses anos, um pouco por toda a costa a norte de Lisboa. Apesar de as referências aos primeiros banhos no mar português serem ainda do século XVIII, é só nesta altura que as classes altas descobrem as maravilhas das férias junto ao mar. Mais do que uma ida à praia, começaram as épocas dos banhos.

"Pelo simples facto da residência à beira-mar, o apetite aumenta, a digestão opera-se mais regularmente e mais rapidamente, a respiração exerce-se com mais atividade, o sistema nervoso sobre-excita-se." Essas eram as vantagens da praia, descritas por Ramalho Ortigão. Ir à praia, apanhar sol e banhar-se no mar não era então visto como um momento de lazer mas simplesmente como um ato terapêutico, para curar doenças como a anemia, a depressão, o raquitismo infantil. Os médicos prescreviam o número e a duração dos banhos, em águas mais ou menos frias.

Ainda assim, uma ida à praia era uma aventura - viagens em carroças poderiam demorar seis a oito horas, do centro do Porto até à Foz, ou de Lisboa até às praias de Sintra (o Algarve era ainda uma miragem). As famílias mudavam-se de armas e bagagens, levavam as criadas e ficavam toda a temporada a banhos. Só a partir dos anos 1920, época de prosperidade após a Grande Guerra, é que as temporadas de praia passaram a ser mais comuns, estendendo-se às classes sociais menos abastadas. Encurtaram-se as saias e também os fatos de banho, mostrando-se cada vez mais pele. Pele mais morena. Após uma viagem à Riviera francesa, Coco Chanel exibiu a pele dourada e mostrou ao mundo o glamour do bronzeado. Por cá, a moda ainda iria demorar a chegar.

Há cem anos as praias portuguesas eram muito diferentes. Eram?

São Martinho do Porto: A piscina das crianças

Cecília empurra o carrinho à beira-mar. Não apregoa bolinhas quentinhas, tem uma buzina mas raramente a usa, não precisa. Basta-lhe só passear por ali e parar de vez em quando, as ondas pequeninas num vaivém a molhar-lhe os pés, e logo fica rodeada de gente a pedir-lhe bolas com creme e sem creme, pastéis de nata, palmiers, mil-folhas. Todos a conhecem. Tem 64 anos e há 42 que vende bolos na praia de São Martinho do Porto. Ao início eram 12 as raparigas a desfilar pela praia de "lata à cabeça", agora é só ela, empurrando o carrinho lentamente, cada ano mais lentamente. "Passo todo o dia nisto, para a frente e para trás. Mas não me farto. Gosto mesmo de estar aqui, gosto de falar com as crianças, de vê-las todos os anos mais crescidas. Há famílias que eu já conheço há muito tempo, os avós, os filhos e agora os netos. É uma alegria quando os vejo chegar em junho. E choro muito no fim da época..."

Há cinco anos, quando a idade e a doença começaram a dificultar-lhe o trabalho, um grupo de senhoras da praia organizou um peditório. Entre todos os banhistas conseguiram juntar mais de mil euros para mandar fazer o carrinho, tal e qual como era preciso, para Cecília poder continuar a vender bolos na praia. "Fiquei muito agradecida. Há coisas que não se esquecem...", e só de falar nisso as lágrimas assomam-lhe aos olhos.

Esse é o espírito de São Martinho do Porto, praia no concelho de Alcobaça, bem no centro do país. Uma praia em baía quase fechada, mar tranquilo, ideal para as crianças brincarem sem perigos, enquanto os crescidos leem o jornal e põem a conversa em dia. E tanta conversa. O areal está repleto de barraquinhas, perfeitamente alinhadas, quase todas arrendadas à época, sempre pela mesma família, ano após ano. As amizades de verão transformadas em amizades para a vida.

A povoação cresceu em volta do porto de pesca. Para além das casas dos pescadores, a partir do final do século XIX começaram a aparecer casas de veraneio, usadas sobretudo pela nobreza e pela alta burguesia. Diz-se que o solar das palmeiras foi usado pelo rei D. Carlos, mas não há certeza disso.

Começou nessa altura o hábito de ir à praia, apanhar sol, desfrutar do "ar da praia" e, também, das qualidades da água do mar. Mas com mil cuidados. "As senhoras devem usar a touca de guta-percha para não molharem o cabelo e quando não tenham a touca não lhes convém mergulhar a cabeça. Basta-lhes refrescar repetidamente a fronte e o alto do crânio com a mão molhada durante o tempo que estiverem na água. Os longos cabelos molhados com água salgada produzem mais males do que aqueles que o banho é destinado a combater", aconselhava Ramalho Ortigão no seu livro As Praias de Portugal: Guia do Banhista e do Viajante, publicado em 1876.

Em público, o corpo tinha de estar completamente tapado. "O meu sogro andava na praia com uma fita métrica, a medir os tornozelos das senhoras", conta Maria da Conceição, 76 anos, responsável por 200 barracas na praia de São Martinho. "E era ele que ajudava as senhoras a molharem os pés na água salgada." Vem dessa altura a designação de "bidé das marquesas" que ainda hoje é usada para aquela praia.

O marido de Maria da Conceição herdou o negócio e depois de ele morrer, há 23 anos, ficou ela responsável pelas barracas às ricas. "Sou eu que faço os panos, que os coso com estas mãos que vê", diz, estendendo as mãos com feridas provocadas pelas enormes agulhas. Ninguém se lembra de alguma vez a ter visto de fato de banho. Traz uma bolsinha à cintura e toma conta das barracas com solenidade: "Temos umas quantas barracas vagas, para alugar às pessoas que aparecem. Mas a maior parte está reservada. Se não têm os panos postos é porque as pessoas ainda não vieram de férias, mas as barracas estão ali à espera, não as alugo a mais ninguém." A relação de confiança que se construiu ao longo dos anos é mais importante do que os trocados que poderia ganhar.

Se as histórias de terra falam de crianças felizes a brincar na areia, as histórias do mar incluem tempestades e naufrágios. Luís Chicharro Robalo (ele garante que esse é o seu nome verdadeiro, nome de peixe, embora todos os conheçam como Ti Chalica) foi pescador durante grande parte dos 81 anos de vida e agora trabalha no cais, manobrando a grua e pondo e tirando barcos da água. Entre os pescadores que apanham as algas (a época da apanha já abriu) e as embarcações de recreio do Clube Náutico, a baía é muito concorrida. "Enquanto puder vou estar aqui", garante, pele tisnada e ressequida, de quem se punha no mar ainda de madrugada e passava horas a remar contra as vagas. "Agora é fácil, agora todos têm barcos a motor. Antigamente... A gente costumava dizer que a terra é mãe. Quando chegamos a terra é porque está tudo bem."

Tamariz: Na areia já não há classes sociais

Óculos de sol, baldes de praia, pranchas de esferovite, toalhas com galos de Barcelos, relógios de qualidade duvidosa, protetor solar. Atravessamos o túnel que passa por baixo da linha do comboio e que nos leva do jardim do Estoril até à praia do Tamariz, pedindo licença por entre banhistas de chinelos acabados de sair do comboio e passando junto às lojas de traquitanas, antes de sequer vislumbrar o mar. Chegados ao outro lado do túnel, saímos da penumbra piscando os olhos. No paredão, em hora de ponta, é quase impossível circular, com a quantidade de gente em bicicleta ou a pé, em corrida ou em lânguidos passos de quem acabou de sair da praia.

Depois da tal visita do rei, a vila de Cascais cresceu e com ela as terras vizinhas foram-se cobrindo de chalés Monte Estoril, São João e Santo António - é aqui que ficam dois fortes importantes para esta história. O Forte de Santo António do Estoril foi adquirido no final do século XIX por Ernesto Driesel Schröter e transformado num palacete de verão. Os tamarindeiros plantados então junto à casa acabaram por lhe dar o nome de Tamariz, que se estendeu à praia. O Forte de São Roque foi destruído com a criação da linha férrea mas parte da estrutura foi aproveitada na construção de uma nova moradia, que ainda hoje resiste e é um dos emblemas da praia do Estoril. Ao mesmo tempo, ali ao lado, na praia da Poça, nasceu uma estância termal para aproveitar as qualidades daquelas águas e daquele sol. Foi o início do Tamariz.

Na altura, as classes não se misturavam. A burguesia lisboeta ficava logo a seguir à Torre de Belém, enquanto a aristocracia se encontrava mais perto de Cascais. O século XX foi o da implementação desta ideia de turismo de luxo na "Costa do Sol". Em 1930, pouco depois da inauguração do Palace Hotel, o famoso Sud-Express passa a terminar a sua viagem não em Lisboa mas na estação do Estoril. O Casino foi inaugurado em 1931. Dez anos depois, a Marginal permitia fazer a viagem de carro entre Lisboa e Cascais, junto à costa. Pelo meio, a Segunda Guerra Mundial. Lisboa e o Estoril tornaram-se refúgio de clima ameno para gente endinheirada de toda a Europa. "As esplanadas apresentam-se concorridas durante o dia, e à noite os salões do Casino enchem-se de homens e mulheres em elegantes trajes de noite, que dançam ao som das orquestras de jazz-band e que apostam alto nas mesas de jogo", conta Margarida de Magalhães Ramalho.

Com os estrangeiros vieram novos hábitos e mentalidades arejadas. E fatos de banho cada vez mais pequenos, que faziam furor nas praias do Estoril. Terá sido muito por causa disso que em 1941 foi promulgada legislação sobre as roupas a usar pelos banhistas, instituindo um "sistema de fiscalização e sanções a aplicar aos transgressores". E ainda nem havia biquínis.

Em 1949, foi no Tamariz que Santini abriu a sua primeira loja de gelados. Depois, apesar de ainda ser um local da elite, aos poucos o Tamariz vai-se democratizando, tendência que se acentuou nas últimas décadas. Uma inevitabilidade. Hoje em dia, é uma das mais concorridas praias da Linha de Cascais. "Não se pode dizer que haja um turista típico do Tamariz", garante João Pedro, camisa branca e avental preto, a servir à mesa numa das esplanadas já há mais de 20 anos. "Há os turistas estrangeiros que estão nos hotéis, há muita gente que vem de comboio de Lisboa, há as pessoas que moram aqui perto. É uma praia para todos." Até para quem não quer fazer praia. Ignorando os banhistas que se equilibram nas pedras e os miúdos que se atrevem em acrobáticos saltos para a água, José atravessa todo o pontão carregando ao ombro a enorme cana de pesca. Coloca a minhoca no anzol sem esperança: "Peixe? Nãããã. Às vezes há uns peixinhos pequenos que picam, mas coisa pouca. Isto é só para passar o tempo." Isso ou aquela superstição de pescador que nunca fala da sua sorte.

Granja: Uma joia que está a ser descoberta

"A Granja é uma povoação diamante, uma estação bijou, uma praia de algibeira." Isto dizia Ramalho Ortigão em 1876. Um século e meio depois, essa é a sensação que ainda temos: a Granja é um diamante, que vai sendo polido aos poucos. Primeiro, a avenida marginal, que foi completamente remodelada na última década, com passeios largos e pista para bicicletas, o passadiço de madeira que se estende pelas dunas até Espinho, sítio ideal para caminhadas matinais. É uma praia moderna.

Mas quando se entra pelo encruzilhado de ruas que se estende até à linha do comboio é como se viajássemos no tempo. Poucos carros, muitas árvores, ruas vazias, muros que tapam jardins, palacetes antigos. Já há alguns prédios novos, com apartamentos, mas o que há mais é vivendas, algumas em muito mau estado, outras que estão a ganhar vida nova. Três gruas enormes cortam os céus. Ouvem-se betoneiras, homens a trabalhar por trás de tapumes. Os anúncios de imobiliário publicitam moradias e "casas senhoriais" à venda por mais de um milhão de euros. A Granja está a ser redescoberta.

Isso mesmo confirma Vítor Pereira, 59 anos, que vem do Arcozelo, ali ao lado, passear até ao miradouro da Granja, quase todos os dias. Lembra-se ainda dos tempos áureos da praia, antes do 25 de Abril - "até Salazar vinha para aí", conta. "Só saía de casa quando ouvia o apito do comboio pronto a partir." Isso era no tempo em que havia barracas na praia e no mar abundava o peixe, o polvo, o caranguejo. "Brinquei muito aqui nesta praia, quando era grande, tinha muita areia. Mas o mar puxava muito." Havia uma corda que entrava pelo mar, aonde a criançada se agarrava para não sucumbir às ondas grandes do mar do norte.

"O mar era indomável, a praia pedregosa e a água um glaciar, pelo que todo o incauto que mergulhasse desprevenido corria o risco de congestão por choque térmico, de modo que a inauguração da piscina foi um êxito", lembra a escritora Rita Ferro (neta de António Ferro) no seu livro de memórias A Menina É Filha de Quem?. A piscina, de água salgada, junto ao areal, foi inaugurada em 1942, ainda existe e foi remodelada. A ela se juntou uma piscina coberta, onde os miúdos das localidades próximas aprendem a nadar. Bem mais seguro do que o mar.

No concelho de Vila Nova de Gaia, a uma dezena de quilómetros do Porto, a Granja começou por ser uma estância de convalescença e de repouso, propriedade dos frades do Mosteiro de Grijó, no século XVIII. No final do século XIX, tornou-se local de veraneio frequentado pela nobreza e até pela corte: a rainha D. Maria (que chegou a pintar os barcos e os pescadores em alguns dos seus quadros) e o infante Afonso, assim como D. Carlos e a rainha D. Amélia, entre outros. Não por acaso, em 1876 foi ali assinado o Pacto da Granja, que funda o Partido Progressista.

A povoação funcionava quase como um clube privado. Os escritores Eça de Queirós (que hoje é nome de rua na Granja), Oliveira Martins, Guerra Junqueiro, Antero de Quental e Ramalho Ortigão foram alguns dos que se deixaram encantar por aquela que era, segundo os testemunhos da época, "a mais aristocrática estância de veraneio do Norte de Portugal". Depois da praia e da sesta, organizavam-se passeios e piqueniques. À noite, os clubes enchiam-se em soirées animadas, com jogos de cartas. A vida social era uma parte importante da "ida a banhos". "Os banhistas da Granja conhecem-se todos, apertam-se a mão, frequentam as casas uns dos outros, vivem finalmente em família", contava Ramalho Ortigão.

Mais tarde, também Sophia de Mello Breyner haveria de passar lá muitos verões, em casa da avó - a casa que aparece no poema Casa Branca. A Granja, "de grandes areais e grandes vagas", que segundo a escritora também serviu de inspiração para A Menina do Mar, aparece em contos e poemas. Como aquele que está nas paredes do restaurante Barraquinha - conta-se que no restaurante antigo, que foi demolido em 2010 para dar lugar a este novo edifício, a poetisa gostava de se sentar numa mesa voltada para o mar , a escrever: "De todos os cantos do mundo/ Amo com um amor mais forte e mais profundo/ Aquela praia extasiada e nua/ Onde me uni ao mar, ao vento e à lua."

Praia das Maçãs: Mar bravio

Aqui não havia reis. Pelo contrário, a Praia das Maçãs tem tradição republicana. Alfredo Keil, o autor da marcha que foi adotada como hino nacional, foi proprietário de uma das primeiras casas da Praia das Maçãs, a Villa Guida. Naquelas poucas casas, encosta acima, juntavam-se os simpatizantes pelo regime que havia de ser implantado a 5 de outubro de 1910 e foi também lá a casa de veraneio de Afonso Costa.

Uma praia entre dois rochedos. "Os cafés eram pindéricos, a praia desabrigada, a água ártica e as ondas todos os anos levavam umas tantas crianças." Na adolescência, a escritora Rita Ferro ia morrendo afogada na Praia das Maçãs, num dia em que decidiu avançar sozinha, mar adentro, apesar das ondas revoltas. Foi salva pelo Vítor da Pestana Branca, recorda: "Atirou com o seu corpo sem carinho contra aquelas ondas danadas para me arrastar depois até à praia, como um colchão vazio."

Se fosse hoje, seria um daqueles rapazes de blusa amarela a socorrê-la: Miguel Farinha, Afonso Gaspar e Ricardo Fernandes. Os três nadadores-salvadores da Praia das Maçãs estão sentados bem a meio da praia, com os capuzes puxados para cima, as pernas embrulhadas nas toalhas, encolhidos com frio. Olham o mar mas não há lá ninguém pois a bandeira está vermelha. "É muito raro a bandeira estar verde, até há quem tire fotografias quando isso acontece", conta, entre risos, Miguel. O mais comum é a bandeira estar amarela ou vermelha e a grande preocupação dos banheiros é não permitir que as pessoas entrem no mar. "As correntes são fortes, há agueiros e, além disso, é uma zona rochosa", explica. "Não é uma praia fácil", admite. E depois há ainda o frio e o vento. "As pessoas têm aquela ideia dos nadadores salvadores que passam o dia ao sol a ver as miúdas de biquíni, mas não é nada disso. Não é um trabalho de sonho. Pelo menos aqui. Estas praias exigem muita atenção." Atenção e casacos de malha. Os biquínis, se os há, estão por baixo dos vestidos.

"Depois de Colares os adeuses tornavam-se impossíveis por culpa do nevoeiro: percebiam-se a custo telhados de chalés e cumes vagos de pinheiros numa bruma desfocada, o mar invisível chiava um mecanismo ferrugento de berço" - assim recorda o escritor António Lobo Antunes a chegada à Praia das Maçãs para a temporada de verão. O nevoeiro matinal era (e ainda é) comum. "Depois da uma levanta", assegurava a mãe do escritor, colocando as crianças a caminho da praia "de panamá na cabeça, submersos em casas concêntricas de casacos de malha". "Sentados na areia, arrepiados de gripe, de pás, baldes de plástico e formas de bolos inúteis, reconhecíamo-nos uns aos outros pelo ímpeto da tosse e pela tonalidade dos espirros", conta, com muita graça, Lobo Antunes.

"Depois da uma talvez levante" é uma frase que se ouve ainda hoje. "Quando não é o nevoeiro é o vento", queixa-se Mário Almeida, de blusa vestida, sentado de costas para o mar, protegido pelo chapéu de sol montado em forma de tapa-vento, lutando com as folhas do jornal. "Venho para aqui porque é perto, moro em Mem Martins. E porque não tem muita gente e é uma praia limpa. Mas na verdade na maior parte das vezes não é muito agradável", admite.

Um papagaio voa no outro extremo da praia. Um grupo de alunos da escola Surf at Praia das Maçãs atravessa a praia, em corrida, em direção ao mar, com as pranchas debaixo do braço. O instrutor, Pedro Marques, olha para as ondas, desconfiado. "Vamos ver, não sei se hoje entramos no mar. Provavelmente à tarde, na maré vazia, seja mais fácil..." Na praia que também é conhecida pelas piscinas de água salgada que ficam mesmo ali ao lado e pelo elétrico que serpenteia pela serra, desde Sintra, passando por Colares, as crianças parecem imunes ao frio e ao vento e nem o facto de não poderem tomar banho as faz desanimar. Há muitas crianças nesta manhã, vindas de colónias de férias, identificadas pelos chapéus coloridos. O areal é extenso, não em comprimento mas em profundidade, ideal para organizar jogos de futebol e outras brincadeiras. Resta saber se também chegam a casa a espirrar, como acontecia ao escritor.

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