Dissidentes do IRA reivindicam morte de líder do crime de Dublin

Polícia receia ciclo de violência e não confirma reivindicação de grupo extremista. Bando a que pertencia a vítima planeia retaliação. Gerry Adams condena ataque
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Um grupo radical que rompeu com o Exército Republicano Irlandês (IRA, na sigla em inglês) nos anos 1980 reivindicou ontem o ataque que custou a vida a uma pessoa na sexta-feira, em Dublin, durante a pesagem de dois pugilistas, um deles o português António João Bento, que iriam defrontar-se no dia seguinte.

O ataque foi reivindicado pelo IRA-Continuidade (CIRA, na sigla em inglês), sendo apresentado como uma retaliação pela morte de um dirigente de outra organização republicana extremista, o IRA-Verdadeiro, Alan Ryan, sucedida em setembro de 2012, também em Dublin.

O ataque de sexta-feira ocorreu no Hotel Regency, tendo causado ainda três feridos. A vítima mortal foi identificado como David Byrne, de 34 anos, residente num bairro no sul da cidade, Crumlin. O bairro é conhecido como um dos pontos de Dublin onde é mais forte a presença do crime organizado e Byrne foi descrito pela polícia como dos mais importantes nomes do submundo local, ligado ao cartel Christy Kinahan. Segundo a polícia, o verdadeiro alvo do ataque era um outro dos chefes do bando, Daniel Kinahan, que escapou ileso.

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"Ainda que não fosse da nossa organização, não íamos ficar sem fazer nada e permitir que traficantes de droga e outros criminosos matem republicanos", declarou à BBC um porta-voz do CIRA, que acrescentou que as suas "unidades foram autorizadas a levar a cabo mais operações. Mais traficantes de droga e outros criminosos serão atacados. Haverá novas operações militares".

Até à reivindicação do CIRA, as autoridades da Irlanda do Norte consideravam que o ataque de sexta-feira, em que estiveram envolvidos cinco indivíduos (dois envergando uniformes das unidades de resposta rápida), se tratava de um ajuste de contas entre bandos rivais. Ainda ontem, reafirmando a possibilidade do ajuste de contas, um porta-voz das autoridades afirmava "manter o espírito aberto para os grupos criminosos que possam ter estado envolvidos".

A polícia receia agora um ciclo violência como sucedeu em 2000--2008, quando dois bandos se enfrentaram pelo controlo do mercado de estupefacientes na mesma zona de Dublin hoje sob controlo dos Kinahan. Por isso, foram erguidas barreiras em diferentes locais e multiplicada a presença de patrulhas armadas na cidade.

A privilegiar a tese do ajuste de contas entre bandos rivais, sabe-se que os dirigentes do bando Kinahan estiveram reunidos e querem retaliar rapidamente contra um outro bando da cidade, escrevia ontem o Independent irlandês. Segundo o jornal, o cartel Kinahan quer atuar a seguir ao funeral de Byrne, que se realiza nesta semana.

Por seu lado, o presidente do Sinn Féin (o braço político do IRA no período do conflito com Londres), Gerry Adams, declarou estar-se perante "um ataque despudorado em pleno dia por um bando de criminosos, que acredita ser possível operar com impunidade". Para Gerry Adams, o lugar desses indivíduos "é na prisão" e garantiu que o CIRA não tem nada que ver com o IRA, "não é o IRA. O IRA acabou e as armas foram entregues".

O IRA esteve envolvido numa campanha armada contra a presença britânica na Irlanda do Norte entre 1969 e os Acordos de Sexta-Feira Santa. Após a assinatura destes acordos, em abril de 1998, o IRA renunciou à luta armada e foi desmantelado enquanto o Sinn Féin tem crescido eleitoralmente.

O Sinn Féin está hoje no governo de coligação em Belfast, com quatro pastas. É o segundo partido na Assembleia da Irlanda do Norte, com 29 eleitos num total de 108.

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